No finalzinho de fevereiro de 2011, fomos surpreendidos com uma triste notícia: a morte inesperada de Moacyr Scliar, o talentoso escritor gaúcho. Além de uma grande perda para nossa literatura, sua partida deixa uma enorme saudade nos amigos e milhares de leitores. Para homenagear essa extraordinária figura humana, a quem tive o prazer de conhecer pela leitura de livros e pessoalmente, reproduzo o texto por meio do qual fiz sua apresentação aos participantes do 5º Salão do Livro do Piauí, realizado em junho de 2008, no Centro de Convenções de Teresina. MoacyrScliar

“Hoje teremos uma noite muito especial no Salipi: a presença de um dos maiores nomes da literatura brasileira contemporânea. Um autor que vem, ao longo desses anos, encantando os leitores com histórias marcadas por um humor irreverente e profundo humanismo, nas quais evidencia enorme simpatia pelos deserdados e excluídos.

E pensar que tudo começou em um papel de embrulho, quando tinha apenas seis anos de idade, escrevendo uma autobiografia precoce e curta. Ali, com certeza, ainda tropeçando nas letras, começava a nascer o escritor que o Brasil viria a amar com paixão e ternura. O gosto pela leitura, adquirido por influência da mãe professora, que o levava à Livraria do Globo onde podia escolher livros à vontade, bem como uma máquina de escrever Royal recebida de presente, foram decisivos na vida deste eterno “aprendiz” de escritor, como ele geralmente se define.

Dos primeiros artigos para jornal e da publicação de contos, nasceu a convicção em ser escritor. Os prêmios literários ganhos em seguida só vieram reforçar essa certeza. De lá para cá, ele já levou os prêmios mais importantes e cobiçados: Prêmio Guimarães Rosa, Prêmio Brasília, Prêmio Pen Clube do Brasil, Prêmio Joaquim Manuel de Macedo, Prêmio Cidade de Porto Alegre e Prêmio Jabuti, este último por três vezes. Sem falar do Prêmio Casa de Las Américas, em Cuba.

Autor multifacetado, destacando-se como contista, cronista, ensaísta e romancista, já tendo publicado mais de 50 livros, muitos deles lançados em vários países. Seus textos já foram adaptados para cinema, teatro, tevê e rádio. Escrevia semanalmente para importantes jornais do país, tais como Zero Hora, de porto Alegre, e Folha de São Paulo. Destacam-se da vasta e diversificada obra do autor, os seguintes títulos: O centauro no Jardim e O Exército de um Homem Só, no romance; O Carnaval dos Animais e A Orelha de Van Gogh, no conto; Cavalos e Obeliscos e Pra Você Eu Conto, na literatura infanto-juvenil.

Outra atividade que marca a sua vida e que ele buscou conciliar com a literatura é a medicina, exercida por anos em Porto Alegre. Esse fato, inclusive, causa espanto nas pessoas, como se a carreira médica fosse incompatível com a peleja literária. Esquecem que, no fundo, ninguém pode desejar ser médico nem escritor sem nutrir uma grande e avassaladora paixão pelo ser humano. Aliás, muitos de nossos escritores abraçaram a prática médica também: Guimarães Rosa, Pedro Nava, Manuel Antônio de Almeida, Jorge de Lima e Joaquim Manuel de Macedo.

Com vocês, o menino que escrevia histórias em papel de embrulho, apelidado de Mico na época, e que sempre acreditou na magia da ficção; o descendente de imigrantes judeus russos, que vem ao Salipi para falar sobre o tema palpitante de Os mistérios da criação literária, Moacyr Scliar.”

 

(crédito da foto: cultura.rs.gov.br)