Se fosse dada a Robert Douglas outra possibilidade de vida, ele teria escolhido exatamente o mesmo caminho que vive agora, sem arrependimento. Operador de máquinas industriais em uma empresa privada, grafiteiro e pai de três filhos. E mais do que isso: Robert Seixas – como é conhecido – é um rockeiro incorrigível, apaixonado por Raul Seixas e orgulhoso disso. O amor pelo ídolo é tão intenso que transformou o fã em intérprete das músicas de um dos pioneiros do rock nacional. “Eu já toquei em três bandas diferentes, sempre com a mesma proposta, e há mais de dez anos eu sigo tocando Raul e espalhando sua filosofia de vida para as pessoas”, revela.

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Robert Seixas / Foto: Maurício Pokemon

Mas nem sempre foi assim. Quando criança, Robert conta que era obrigado pelo avô Jorge a escutar Raul. “Eu chegava a apanhar para ter que escutar suas músicas”, revela. Jorge, segundo o neto, gostava muito de viajar e, tal como Raul Seixas, seguia o movimento hippie e era adepto da teoria “paz, amor e natureza”.

A paixão de Robert pelo cantor foi descoberta somente após a morte do avô. “Assim como o Raul, que quando morreu deixou um legado fonográfico – o baú do Raul -, o meu avô deixou o Baú do Jorge e foi o que eu tive de aperfeiçoamento em termos de conhecimento musical”, afirma.

Naquele baú carregado de reportagens recortadas de jornais, fitas k7, livros e até fotos do próprio avô com Raul, o neto de Jorge encontrou o que, inconscientemente, já estava amadurecendo junto com o rockeiro. Foi a forte ligação do avô Jorge com o Maluco Beleza que tornou o neto um “raulseixista convicto”, como ele mesmo afirma. “Eu amava meu avô e acho que, como ele, também posso ser um homem e um pai muito massa seguindo a filosofia do Raul”, revela Robert.

De uma coisa Robert tem certeza: o raulseixismo é o início, o fim e o meio de sua existência e ele se orgulha de transmitir o que chama de filosofia do Raul em seus shows e dentro de casa. “Se antes meu avô me obrigava a escutar Raul Seixas, hoje são meus filhos que escutam junto comigo”, conta.

Não bastasse a paixão, Robert também é fisicamente parecido com seu ídolo. Ele conta que a semelhança vem desde a adolescência. “No Ensino Médio criei uma banda chamada ‘Os Alternativos’ e fiz um tributo à Raul Seixas, Cazuza e outros cantores. Mesmo sem barba, os professores me diziam que eu parecia muito com Raul”. Junto à aparência física, o fã acrescentou jaqueta de couro, óculos escuros e um estilo inspirado nas músicas e vida do ídolo. Para provar ainda mais a admiração, Robert fez três tatuagens que fazem referência ao cantor. Ele conta que chega a ser parado na rua por desconhecidos admirados com a semelhança.

Robert Seixas / Foto: Maurício Pokemon

Robert Seixas / Foto: Maurício Pokemon

Com 32 anos, Robert Seixas, diz que já teve problemas com vícios, mas aprendeu com seu ídolo a vencer esse problema. Para Robert, faz parte da filosofia de vida de um raulseixista procurar respostas nas letras das músicas do ídolo.  Conta que, passando por uma dificuldade, Raul lhe lembrou que ele tinha amigos: “Raul me disse ‘nunca se vence uma guerra lutando sozinho’ ”, acrescenta, fazendo referência à música “Porque os sinos dobram”.

No palco, Robert usa roupas similares as que Raul Seixas utilizava em seus shows, mas garante: “eu procuro não imitar o Raul e, assim, fazer algo próprio”.

Além da semelhança física e interpretação no palco, o que faz de Robert um raulseixista único está exatamente no aprendizado que tira de cada música. “Da filosofia do Raul eu levo muito aquela questão de que ‘sou o que sou porque vivo da minha maneira’. Essa é uma frase muito massa. Porque, independente de classe social, cor de pele e gênero, se você é o que você é de verdade, nenhuma pessoa vai achar estranho o seu jeito”, ensina.

Robert é Maluco Beleza, Metamorfose Ambulante e está sempre pronto para a batalha do cotidiano. Ele diz que nos momentos difíceis sempre conta com o Raul para seguir em frente. E filosofando, como aprendeu a fazer, compara a vida a ampulheta: “Você pensa que a areia vai parar, mas tem sempre alguém que vira a ampulheta”.