No cartão de visitas não caberiam todos os apelidos que Antônio Farias dos Santos ganhou ao longo dos seus 65 anos de vida. Teve que escolher um: Gordinho. Também não haveria espaço para descrever todos os serviços que oferece, então colocou lá apenas quatro: bombeiro, eletricista, conserto de telefone em residências e lavador de caixa d’água.

Nascido em Beneditinos, município a 92 km de Teresina, Seu Antônio está na capital desde os 18 anos, mas ainda guarda o jeito de ser e falar típicos do interior do Piauí. Troca as letras,  tira o “s” das palavras no plural, se expressa com autenticidade e sem falsa modéstia. “Nasci em Beneditino, mas sou da Barroca, lá pra dendo, mato mermo”, explica.

Foi nessa Barroca que surgiu o primeiro apelido, colocado por um primo. “Ele me chamava de Garrafa Fina, porque eu era finim. Esse era o primo que eu mais adorava”, lembra. “Eu tenho quais 23 apelido, não sei se vou acertar tudo”, avisa.

Quando eu entrei pra dançar – que eu sou dançador, não sei se você sabe – aí caiu apelido: Lampião, Genival Lacerda, Luiz Gonzaga, Professor, Homem das Botas, Dançador, Forrozeiro, Chapéu de Couro, Vaqueiro, Homem Bala, Brandão

Já em Teresina, o segundo apelido que recebeu também tinha relação com sua magreza e foi colocado pelo patrão da firma onde trabalhava, na obra do Estádio Albert++ão. “No dia que eu cheguei o homem me chamou de Cara Fina. Quase a merma coisa do outro. Mas aí depois de um tempo eu engordei. Lá se vem o terceiro: Gordim”, conta, dando início a uma lista enorme de nomes.

Baixinho, Farias, Toin, foram os apelidos seguintes. “Quando eu entrei pra dançar – que eu sou dançador, não sei se você sabe – aí caiu apelido: Lampião, Genival Lacerda, Luiz Gonzaga, Professor, Homem das Bota, Dançador, Forrozeiro, Chapéu de Couro, Vaqueiro, Homem Bala, Brandão”, diz, de um fôlego só. “Teve uma pessoa que botou o apelido de Namorador. Eu disse: o senhor acertou bem mermo! Eu sou danadim! Você vê eu desse jeito aqui, mas eu sou terrível!”, brinca.

Assim como vários apelidos, Seu Antônio teve e ainda tem muitas namoradas, que ele chama de candidatas. Casamentos foram dois. Do último, ficou viúvo, mas nunca sozinho. “Eu arrumei uma candidata agora, que é chata”, fala arrastando a primeira sílaba. O problema é que a namorada não o deixa usar o chapéu de couro. “Só quer que eu ande na linha, bem pronto. E as outra acaba com ela. Ficam brigando, dizendo que me conhece tá com 33 ano”, conta, divertindo-se com o próprio relato.

Tantos amores renderam muitos filhos. “Eu tive contando e deu uns 14, mas próximo de mim só tenho três. Tem uns que conheço, mas mora longe”. Responsabilidade mesmo, Seu Antônio tem com o trabalho. “Minha leitura é bem pouquinha, mas pra aprender a fazer serviço pra ganhar dinheiro é comigo”, afirma. Suas especialidades são eletricista e bombeiro hidráulico, mas também ajeita parede, puxa instalação de telefone, assenta porta, troca fechadura, conserta vazamento. “Eu sou curioso e inteligente. Tá tudo aqui, ó (aponta pra cabeça). Eu tenho muito gás pra queimar ainda”, orgulha-se.

A autoestima não é um problema para este homem, que diz não ter motivo para reclamar da vida. Afirma que poderia ter carro de luxo, mas prefere andar em uma das suas duas bicicletas. “Tô dento dos 65 ano e me sinto um homem de 30, você acredita? Eu sou muito animado”.

(Matéria publicada na Revestrés#30 – Abril/Maio 2017)