Um passa-passa de carros, motos, pedestres. Calor e correria no centro da cidade. “Senhor, você quer trocar o limpador de vidro? Temos capa! Capas para bancos. Capas!”, o vendedor levanta a mão segurando os produtos no braço e solta a frase no vento repetidas vezes. Em alguns minutos, um carro faz parada rápida bem ali mesmo. O homem substitui as palhetas do para-brisa em ritmo veloz, como se aquilo fosse uma competição. “Se não tivesse trocado agora, já ia começar a ralar o vidro. A borracha já tá toda gasta”. O cliente faz um aceno silencioso com a cabeça, paga e segue caminho. Conhecidos se aproximam para uma pausa na vida e uma troca de conversas. Um motorista se aproxima, outros seguem batido, enquanto a história se passa ali, imprensada na calçada do Palácio de Karnak.
Atravessando a rua Sete de Setembro, depois que ela corta a Avenida Antonino Freire, no centro de Teresina, é possível que você seja abordado por um dos cinco irmãos. Aquele trecho que frequentemente é palanque de protestos e manifestações populares, em dias comuns é o palco principal de Luís Fernando, Genivaldo, Sueide, Taiguara, Jayro, e do sobrinho, Janderson, exercerem o ofício, entre o troca-troca das peças e a pechincha dos clientes.
Na ponta de suas próprias lembranças, o tempo é contado pela quantidade de mandatos de governador: já se passaram cinco (PFL, PMDB, PSB e PT), o que totaliza quase trinta anos de vendas entre os lados das calçadas da rua, conforme a direção do sol.
Antes disso, trabalharam em outras funções para cuidar da sobrevivência. “É preciso ocupar a mente e trabalhar, porque mente desocupada atrai o inimigo”. A fala é quase um mantra para Luís Fernando. Vinte anos atrás já era um tempo difícil para ser empregado de carteira assinada. O ponto e o serviço foram escolhidos por falta de opção. Era a única alternativa.
Matéria completa na Revestrés#40 – março-abril de 2019.