Fica ali, “X com” o Banco do Brasil da rua Álvaro Mendes, no centro de Teresina, uma das pastelarias mais tradicionais da cidade, a Kina Kana. O local é o ponto certo para quem deseja um pastel crocante de recheio delicioso, acompanhado de caldo de cana geladinho para refrescar o calor no “pingo do meio dia”.
Tão famoso quanto o modo teresinense de falar, o lanche continua sendo o mais pedido pela clientela de Antônio Bezerra ao longo de 31 anos. A primeira pastelaria, aberta na década de 80, existe até hoje no mesmo local e serve de matriz para as outras três que surgiram posteriormente, espalhadas pelo centro.
Antônio credita o sucesso do seu negócio à junção de qualidade e preço. “O pastel é frito na hora, sai quentinho e não fica esfriando em estufa. O caldo de cana a gente passa no momento que o cliente pede. É um produto natural, sem química nenhuma. O lanche completo sai por R$ 4,50. Onde você acha isso?”, desafia.
Diariamente, são consumidos entre 120 a 180 kg de cana somente na pastelaria matriz. O canavial próprio, localizado em Demerval Lobão, município vizinho de Teresina, não dá conta da demanda. “A nossa cana não é 100% do que precisamos. Temos que comprar de fornecedores”, afirma o proprietário, que não sabe, ou não quer revelar, a quantidade de pastéis vendidos por dia. “É coisa demais! Não tenho ideia”, diz com sorriso largo.
As pastelarias Kina Kana empregam um total de 12 pessoas e ocupam boa parte da família de Antônio. “Meu sobrinho é o gerente da matriz e outros parentes cuidam das filiais”, conta o idealizador do negócio, que continua acompanhando de perto a administração das pastelarias.
E se o teresinense gosta de comer pastel, não é só o piauiense que hoje se dedica a esse negócio. Ali perto da Kina Kana, na rua 13 de Maio, fica localizada a Ruan’s Chen, pastelaria do concorrente chinês que disputa o mercado em Teresina há mais de 10 anos, onde um dos recheios de maior sucesso é o frango com catupiry.
Sempre muito sérios e trabalhadores, os estrangeiros não gostam de puxar assunto com brasileiros. Servem o pastel com caldo de cana, recebem o pagamento e, nesse intervalo, falam entre si na língua chinesa, deixando a clientela curiosa.
O jovem Riko Oin, de 25 anos, assumiu recentemente a pastelaria no lugar da antiga dona, que viajou para o estado do Amazonas. Foi um funcionário brasileiro que ensinou a ele o pouco que sabe falar da língua portuguesa. “Na China vende pastel, no Brasil vende mais. Atendo umas 200 pessoas por dia”, afirma.
Em Teresina, Riko conhece um grupo de aproximadamente 10 chineses, a maioria deles donos de pastelarias localizadas no centro de Teresina.
Está aí a prova de que o pastel com caldo de cana é o lanche preferido de muitos teresinenses. A bebida gelada e docinha, acompanhada da massa fina, recheada com carne, queijo ou frango com catupiry, agrada os clientes do Kina Kana e do Ruan’s Chen, fazendo com que tais pastelarias se mantenham no mercado, resistindo à onda da gourmetização.
(Matéria publicada na Revestrés#32 – Agosto/Setembro 2017)