img_8516O cheiro irresistível de fim de tarde parece conduzir até aquele quiosque, onde cappuccino e pão de queijo se misturam às conversas sobre política. O nome oficial é Café no Shopping, mas todos conhecem por Senadinho, um apelido fala muito sobre a tradição do lugar.

É lá, dentro do Teresina Shopping, onde um grupo formado em sua maioria por homens se reúne quase diariamente, desde 1997, data em que foi inaugurado o centro de compras. Param ali empresários, profissionais liberais, ex e atuais políticos, promotores, juízes e autoridades diversas.

Todos são atendidas por oito funcionários que se revezam no espaço de 9 m², das 10h às 22h, todos os dias, inclusive aos feriados. “Nós só fechamos se o shopping não abrir”, destaca o proprietário Francisco Galiza, 64 anos. Ele lembra que o nome Senadinho só surgiu cerca de três anos depois da inauguração. “A turma começou a se reunir pra conversar. E onde se trata de muitos assuntos é no Senado”, explica em tom amigável.

Atraídas pelo cardápio de cafés, chocolates, sucos, sanduíches, salgados, tapiocas e cuscuz com recheios variados, cerca de 100 pessoas comem por dia no quiosque. “O café e o pão de queijo é o que mais os clientes gostam”, revela Galiza.

O horário mais movimentado é por volta das 17h, quando alguns clientes sentam-se em grupos ao redor das pequenas mesas, e vão mudando de lugar à medida que perdem o interesse pela conversa. Numa segunda-feira do início do mês de agosto, um dos assuntos era as convenções municipais, que definem os candidatos a prefeito e as coligações proporcionais para vereadores.

Ouvir o diálogo não é tarefa fácil. É que alguns assuntos são discutidos em voz baixa. “Antes da convenção tem que fazer uma reunião partidária, com a diretoria. Resultado de convenção se decide em recinto fechado”, diz um. Em outros momentos menos reservados, eles fazem algazarra, brincam e falam alto. “Ei, rapaz, ouvi dizer que tu tava era preso!”, provoca o outro que chega à mesa.

Em momentos menos reservados, eles fazem algazarra, brincam e falam alto. “Ei, rapaz, ouvi dizer que tu tava era preso!

Mas as conversas são democráticas, não se resumem apenas à política ou às politicagens. O advogado aposentado Carlito Cunha diz que ali se trata de assuntos diversos. “A gente conta piada, mente muito e fala das notícias. Se tem um fato importante acontecendo, é sobre aquilo que vamos comentar no dia”, afirma.

Entre os frequentadores mais assíduos está o empresário João Claudino. “Ele vem toda noite. Se tiver algum compromisso, passa aqui antes e só depois que vai”, destaca Francisco Galiza, lembrando com orgulho de outros clientes ilustres. “Quem vinha sempre era Ciro Nogueira (pai do atual senador com mesmo nome), que já morreu. Zé de Castro (pai do deputado federal Marcelo Castro) ainda frequenta”, conta Galiza.

No caso dos amigos, como o dono do quiosque chama os clientes frequentes, o ambiente agradável e climatizado é um atrativo extra para o retorno a cada fim de tarde. “Aqui a gente tem o café de qualidade e um local adequado para nossas conversas. A gente não visita a casa um do outro, mas somos amigos e onde nos encontramos é aqui”, destaca Carlito.

O músico Magalhães Ribeiro lembra que o grupo atual é remanescente da antiga Rádio Calçada, como era denominado um encontro próximo ao Teatro 4 de Setembro. “Era ali na esquina daquela rua, ‘X’ com o local que hoje é uma farmácia. Era onde aconteciam as reuniões políticas”, conta.

O grupo se desfez depois que foram colocadas grades na calçada e não restou mais lugar para eles sentarem. “Foi quando inauguraram o shopping e a gente veio pra cá”, contextualiza Magalhães.

Provavelmente, a partir dos encontros diários no Senadinho, decisões importantes para a política local são discutidas ou mesmo tomadas entre um gole de café e outro. O sigilo com que alguns assuntos são tratados ali denuncia que a referência ao verdadeiro Senado não acontece à toa.

(Publicada na Revestrés#26 – agosto/setembro de 2016)