O clima de Copa, além de nos deixar eufóricos, desperta na gente lembranças antigas e recentes de futebol. Algumas alegres, outras tristes, mas todas marcando nossa vida indelevelmente. Em mim, elas remontam à meninice na Clodoaldo Freitas, quando sonhava ser, a exemplo dos garotos da época, um jogador de futebol. Não qualquer canela de pau, desses que jogam em time da segunda divisão, porém um craque de renome nacional e atuando numa agremiação do Rio ou São Paulo. Para tanto, vivia metido com as peladas da rua e da escola, pouco importando o sol escaldante do meio-dia e a bola de plástico ganhada do armazém Paraíba. O campo improvisado era o de menos, desde o corredor estreito de casa, onde mal cabiam quatro meninos, até as “coroas” imensas do Parnaíba. A obsessão era tamanha que acabei indo treinar com o saudoso Pato Preto, no campinho do Bariri. Infelizmente, tinha uma asma no meio do caminho, no meio do caminho tinha uma asma, parafraseando Carlos Drummond.

Outra cena forte, guardada ainda hoje na cachola, é a da conquista do tricampeonato mundial pela Seleção Brasileira, em 1970, no México, em jogo emocionante contra os italianos. A bomba de Carlos Alberto, capitão do time, aos 42 minutos do segundo tempo, é algo que não só dá sentido ter nascido como acalenta a perigosa travessia existencial. O placar final não poderia ter sido melhor, uma goleada de 4 a 1, com golaços marcados também por Pelé, Jairzinho e Gérson. Não fosse um coração de 12 anos, ainda jovem e resistente, dificilmente estaria aqui contando essa história. Com o término da partida e a taça Jules Rimet em mãos, a festa inicial, na Casa do Estudante, centro de Teresina, resultou num memorável carnaval, com todos saindo às ruas a fim de bebemorar. Mal lembrávamos da ditadura, das torturas e dos assassinatos que grassavam no Brasil, em pleno governo Médici.

Ao visitar o Rio de Janeiro pela primeira vez, no final da década de 1970, experimentei uma sensação futebolística indescritível, daquelas de guardar num cantinho das memórias muito especiais. Tão logo desembarquei na rodoviária, após dois longos dias de viagem no amarelão da Itapemirim, fui indagado pelo meu irmão Francisco sobre que ponto turístico gostaria de conhecer, inicialmente, na Cidade Maravilhosa. Sem titubear, a resposta não poderia ser outra: o belo Maraca, palco das maiores partidas de futebol. Entrar no imponente estádio, num clássico entre Flamengo e Vasco, é levar o coração a dar pulos e cambalhotas de tanta felicidade. Ainda mais quando presenciamos, sob o olhar inquietante da geral, o show de bola proporcionado por dois grandes artilheiros da época: Zico e Roberto Dinamite.

Mas os três jogos da nossa seleção, na primeira fase desta Copa, não ficam atrás em termos de emoção e torcida. Por pouco, não enfartei, sobretudo, na partida contra a Costa Rica, quando nos livramos da desclassificação nos instantes finais, com gols do Philippe Coutinho e Neymar. A alegria foi tamanha que resolvi, abrindo uma exceção, tomar uma taça de vinho e brindar nossos jogadores. Fazer o quê, quando certos momentos deixam a gente comovido pra diabo.  Na partida contra o México na segunda (2), que ganhamos de 2 a 0, o coração quase parou de tanta euforia. Enfim, garantimos presença nas quartas de final. Daqui pra frente, embalado pela nossa torcida, dificilmente alguém nos tira o tão acalentado hexa.  Simbora, Brasil!