Ai! de nós sem os cientistas e suas descobertas. Estaríamos até hoje, acredite, mergulhados na mais aterradora escuridão. E o pior, reféns de crendices e superstições absurdas. Nada pior, afinal, que a ignorância, o desconhecimento das razões que nos levam a complicadas situações na vida, sobretudo, no campo da saúde. E de repente, depois de anos de pesquisa, surgem dois estudiosos que aliviam nossas dores, ao afirmarem, deixando-nos de boca aberto, que assistir à missa é “remédio para melhorar a saúde física e mental das pessoas”. Enquanto ficamos por aí angustiados, desnecessariamente, por um monte de bobagens e enriquecendo a indústria farmacêutica com toneladas de drogas. Inacreditável é que basta apenas, segundo os pesquisadores de Harvard, ir à missa, pelo menos, uma vez por semana. Portanto, uma solução simples e sem custos.

São dois esses filhos de Deus que chegaram a tão extraordinária conclusão: VanderWeele, professor de epidemiologia na Universidade de Harvard, e John Siniff, especialista em comunicações. Segundo eles, “saúde e religião estão muito ligadas” e, de acordo com o estudo que publicaram, pessoas que costumam frequentar serviços religiosos “apresentam um menor risco de morte na próxima década e meia”. Sem falar que reduz significativamente as taxas de depressão e suicídio nesse segmento. Caso ainda ache pouco, disseram que participar de missa “aumenta a probabilidade de um matrimônio estável, leva a maiores doações caritativas e um maior voluntariado e compromisso cívico”. Tudo por conta e obra de uma mensagem de fé e esperança que encontram nesse momento de entrega espiritual.

missa-imagem

 

Como faz tempo que não frequento missas, o alarme disparou nos meus ouvidos. Quem sabe não encontre aí explicações para uma série de doenças e neuroses que andam tirando o meu sono. Pra falar a verdade, nem lembro quando fui à missa pela última vez. Vez e outra, assisto a pedaços de missa nessas solenidades de formatura e casamento. Mas as coisas não funcionam assim, pelo que falam os eminentes cientistas, sendo preciso uma frequência semanal. Cristão relapso, confesso que missa nunca foi o meu forte, preferindo o diálogo direto com o Senhor e seu Filho. Desconfiado por natureza, sempre evitei os intermediários, até por considerá-los tão ou mais pecadores do que eu. Às vezes que dona Raimunda me levava às novenas na Vila Operária, às terças-feiras se não estou enganado, ficava quase sempre do lado de fora – paquerando as meninas bonitas do bairro e saboreando um delicioso picolé Amazonas.

E agora me surgem esses cientistas dizendo que ir à missa faz bem para a saúde física e mental. Caso tivesse ouvido minha mãe, ela que completou 92 anos este ano, estaria hoje livre de tantas apreensões e remédios. Em sua pesquisa, VanderWeele e Siniff destacam que “algo na experiência e participação religiosa comunitária é importante. Algo poderoso parece suceder aí e melhora a saúde”. Mas deixam claro que isto é bem diferente, como muitos pensam equivocadamente, incluindo o autor dessas mal traçadas linhas, de uma “espiritualidade privada ou prática solitária”. Ambos concluem afirmando que o resultado mexe até mesmo com os nossos propósitos de vida. E eu aqui, feito égua, sem eira nem beira nesta travessia absurda.