Sempre descobrindo coisas interessantes, os cientistas ingleses. Daí gostar tanto deles. Desta vez chegaram à conclusão, após anos de pesquisa, que falar palavrão faz bem à saúde. Eu já desconfiava disso, pena ninguém ter acreditado em mim. Como não sou doutor nem europeu, as pessoas não levavam a sério (como ainda hoje não levam) o que dizia a respeito de assunto tão delicado. Além disso, zombavam de minha cara, taxando-me de abestado. Agora estou de alma lavada, não só faz bem como é recomendável dizer palavrões. Por um único e simples motivo: “Xingamentos ajudam a lidar com as emoções e tornam mais fácil controlar a dor”, segundo o Dr. Richard Stephens, professor da Universidade de Keele, em Staffordshire, no Reino Unido. E vai mais longe, o eminente pesquisador, ao afirmar que “quanto mais forte a palavra, maior pode ser o efeito de alívio”.
Para constatar a veracidade de tal descoberta, basta lembrar-se da velha topada de arrancar a unha do dedo. Ou você grita pooorrra com todo o fôlego dos pulmões, dando para ouvir a quilômetros de distância, ou está completamente frito, uma vez que nasce dentro da gente um desespero maior que a dor causada pela maldita pedra. Outra situação inevitável, na qual o palavrão não pode faltar, é quando esquecemos algo, surgindo espontâneo o famoso merda. E o que dizer ao constatarmos que o juiz, em plena decisão de campeonato, prejudicou o nosso time levando-o à derrota: ladrão, filho da puta, boiola, filho da égua, cretino, filho de uma arrombada, descarregando em sua coitada mãe, que não tem responsabilidade nenhuma pelos erros do filho, impropérios dos mais absurdos.
Agora pais e mães, informados dessa novidade científica, devem pensar duas vezes antes de lavar a boca dos filhos com sabão por conta de meros palavrões. Quanto a puxões de orelha ou outra forma de castigo, nem de longe devem ser pensados pelos progenitores, sob o risco de comprometer a saúde dos pimpolhos. Se formos observar, todos dizemos palavrões, até mesmo o papa Francisco que, num ato falho, soltou um sem querer, ao pedir uma solução pacífica para a crise na Ucrânia, em 2014. Em vez de falar “neste caso”, o pontífice leu “neste ‘cazzo’”, gíria italiana usada para designar o órgão sexual masculino. Nas letras de música, os exemplos são abundantes, bastando lembrar estes versos antológicos do Titãs: “Pulgas! /Que habitam minhas rugas /Oncinha pintada /Zebrinha listrada /Coelhinho peludo /Vão se fuder! /Porque aqui /Na face da terra /Só bicho escroto /É que vai ter…”.
Parafraseando Castro Alves, no que diz respeito ao Dr. Richard Stephens, diria que Oh! Bendito o cientista que semeia palavrões à vontade, e leva o povo a repensar sua educação, pequenas doses de xingamentos ao dia, não só faz bem ao corpo como à alma também. E imaginar que eu, há poucos dias, sofria censura por expressar alguns termos considerados tabus. Dizer até que podia, desde que baixinho ou dentro do banheiro, jamais publicamente. Quantas vezes tive que engoli em seco, frente à barbeiragem de um motorista, palavras “simpáticas” como veado, corno, vai tomar no cu, caralho, filho de rapariga e foda-se. De tudo que presenciei em termos de palavrão, uma cena guardo ainda hoje na memória, envolvendo duas mulheres no centro da cidade. O marido estava numa loja com a amante, quando chega a esposa e flagra os pombinhos fazendo compras. As amabilidades não tardaram muito entre elas: vadia, cachorra, piranha, vagabunda, sem-vergonha e quenga. É dispensável dizer que as pessoas ali presentes torciam para que o circo pegasse fogo, justamente no instante em que a digníssima vira para a outra e sapeca em alto e bom som: “Vai dar o teu priquito pra outro, égua, que este macho já tem dono”. Podem não acreditar, mas naquele episódio tive a certeza que os palavrões não só fazem bem à saúde como são de uma poeticidade sem igual.