Rafaela chegou indignada em casa depois de um exaustivo dia de trabalho. A notícia que todos os homens com acesso à Internet já consumiram pornografia, ao menos uma vez na vida, a deixou profundamente abalada. Isso queria dizer, então, que nem o Silvano escapava de tal sem-vergonhice. Como o estudo havia sido realizado por pesquisadores da renomada Universidade de Montreal, no Canadá, a situação era deverasmente preocupante. Mal as crianças foram dormir, dirigiu-se à biblioteca onde estava o marido, por coincidência ou não, diante de um computador. Sem rodeios, foi direto ao assunto:

– Você costuma ver pornografia na Internet?
– Que conversa mais estranha é essa, meu amor.
– Pesquisa mostrada hoje afirma que não escapa um, unzinho sequer.
– Exagero, pois toda regra tem exceção.
– Você, no caso?
– Tantos anos de convivência e não me conhece ainda.
– Diz que, nem que seja uma vez, os homens espiam site de pornografia.
– Bem…
– Fala a verdade, não vou me zangar. Pela alma de minha mãezinha.
– Ver mulher pelada é pornografia?
– Pra mim é, mas façamos de conta que não.
– Foi na repartição, com os amigos mostrando a Paolla Oliveira nuinha da silva.
– O mundo está perdido mesmo.
– Eu não queria, juro por Deus, mas insistiram tanto que…
– Agora entendi seu interesse em ver A dona do pedaço toda noite.
– Também pela trama, claro.
– Só essa vez, então?
– Não, teve outra com a Juliana Paes. Difícil resistir, um descaminho de mulher.
– Além de sonso, debochado.
– Você mesma disse que queria saber de tudo.
– Fora essas, mais alguma?
– Infelizmente, sim.
– Vai, desembucha todas de vez, aberta a porteira, sei como é.
– Marina Ruy Barbosa, Cleo Pires, Isis Valverde e Iza.
– A cantora?
– Sim, mas por insistência dos colegas.
– Não sabia dizer não, que é um homem casado e que detesta safadeza.
– Você está longe, meu amorzinho, de conhecer a cabeça dos homens.
– E como é, criatura?
– Caso não visse, eles duvidariam da minha masculinidade.
– Não entendi.
– Espalhariam que não sou muito chegado ao “produto”.
– Agora deu, meu esposo virou um Maria-vai-com-as-outras!
– Pode ser absurdo, mas as coisas funcionam assim.
– E eu que imaginava estar casada com um homem sério e fiel.
– Alto lá, não aceito esse julgamento moralista e injusto.
– Por quê?
– Ora bolas, continuo o homem de sempre, com ou sem pornografia.
– Não vai me dizer que também assiste a filmes de sacanagem?
– Uma vez apenas, As brasileirinhas, emprestado pela turma do futebol.
– Aí também já é demais.
– Dos onze, entre casados e solteiros, eu era o único que não via.
– E daí?
– Resisti ao máximo, até onde pude.
– Não o suficiente para não cair em tentação.
– Estava virando motivo de chacota…
– Que virasse! Importante era manter a compostura.
– Mas sempre procurei ser discreto, evitando dar bandeira.
– Pelo visto, não fosse a tal da pesquisa, jamais saberia.
– Gosto de me sentir um homem normal, igual aos outros.
– Como fica, daqui pra frente, nosso casamento?
– Você prometeu que não ia se zangar.
– Agora não sei se o meu marido dorme comigo ou com essas vadias.
– Promessa é dívida.
– Ménage à trois ou suruba mesmo, sem eu saber nem ser consultada.
– À alma de sua mãezinha, não esqueça.
– Seu desgraçado de uma figa! Filho de uma grande cadela!