Foi Cecília Meireles e não outro escritor, em Romanceiro da inconfidência, obra poética das mais importantes de nossa literatura, quem melhor definiu esse sentimento – de forma sucinta e didática – que permeia a trajetória humana de ontem, hoje e amanhã: “liberdade essa palavra, que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique, e não há ninguém que não entenda.”

Mas quem ampliou esse conceito, lá no comecinho do século XX, através de indagações nada ingênuas, responde pelo nome de Mário de Andrade, autor de Macunaíma e Amar, verbo intransitivo: “Será que a liberdade é uma bobagem?…/ Será que o direito é uma bobagem?…/ A vida humana é alguma coisa a mais que ciências, artes e profissões./ E é nessa vida que a liberdade tem um sentido, e o direito dos homens./ A liberdade não é um prêmio, é uma sanção. Que há de vir.”

Quanto à analogia entre liberdade e amor, das mais pertinentes construídas até o momento, e de uma atualidade impressionante, coube ao saudoso Rubem Alves, bela junção de educador e poeta, dizer o que já supúnhamos: “Mais fundamental que o amor é a Liberdade!/ A liberdade é o alimento do Amor!/ O amor é pássaro que não vive em gaiola! Basta engaiolá-lo para que ele morra!”.

Já o autor de Dom Quixote de La Mancha, o espanhol Miguel de Cervantes, um dos quatro gênios da literatura mundial, criador do romance moderno, sátira humorística das novelas de cavalaria, disse e escreveu, sem pedir segredo a ninguém, que “a liberdade é um dos dons mais preciosos que o céu deu aos homens. Nada a iguala, nem os tesouros que a terra encerra no seu seio, nem os que o mar guarda nos seus abismos. Pela liberdade, tanto quanto pela honra, pode e deve aventurar-se a nossa vida.”

E o que expressou, alguém deve indagar, o irreverente e mordaz escritor norte-americano Henry Miller, aquele que escandalizou sua época puritana, anos 1900, com uma literatura considerada pornográfica ao publicar a trilogia Sexus, Plexus e Nexus: “Sou um homem livre – e preciso da minha liberdade. Preciso estar sozinho. Preciso meditar na minha vergonha e no desespero em retiro; preciso da luz do sol e das pedras do calçamento das ruas sem companheiros, sem conversação, frente a frente comigo, apenas com a música do meu coração como companhia. Que querem vocês de mim?”

Que falou então Mário Quintana, poeta gaúcho que ainda hoje embala o melhor da gente, sobre esse troço inquietante dentro do coração humano, sem o qual, escute bem, não haverá paz nunca: “Liberdade é não ter medo/ Mas ter sim o respeito/ Respeito esse que possamos compartilhar com o mundo.”

“Alô, liberdade”, evocou Chico Buarque numa de suas maravilhosas músicas, nosso mais talentoso compositor, que é também escritor e teatrólogo, sem falar de um defensor apaixonado da causa democrática e dos direitos humanos, indo mais além na famosa letra: “Desculpa eu vir assim sem avisar, mas já era tarde./ Eu tenho tanta alegria, adiada, abafada, quem dera gritar./ E por fugir ao contrário, sinto-me duas vezes mais veloz/ Vem, mas vem sem fantasia./ É sempre bom lembrar que um copo vazio está cheio de ar.”

Depois de 27 anos de cadeia, em prisão na África do Sul, por ter ousado lutar contra o apartheid, regime de segregação racial, que manifestou Nelson Mandela, símbolo maior de liberdade e Prêmio Nobel da Paz, ao tomar posse como primeiro presidente negro eleito em seu país? – “No dia de minha libertação, gostaria de expressar minha calorosa e sincera gratidão aos milhões de compatriotas e pessoas de todo o mundo que trabalharam incansavelmente pela minha libertação.”