Nesses dias sombrios, em que forças poderosas atentam contra nossa democracia, despertei cantarolando o belo refrão de Golpe Não, clipe que está bombando nas redes sociais: “não não golpe não/ quem não teve voto/  tem de respeitar/ não não golpe não/ nossa voz na rua vem para lutar”. Fruto de uma produção coletiva, envolvendo artistas de várias gerações, todos irmanados por um mesmo sentimento, a música inicia, arrepiando nossa pele, com o talentoso Chico César soltando o verbo: “O sistema é bruto, o processo é lento/ nosso sentimento, não vai recuar/ amor, liberdade, verdade, alimento/não tinha e agora querem golpear”. Tomando a palavra, naquela perspectiva de que ‘um galo sozinho não tece uma manhã’, entra Rico Dalasam com um alerta preocupante: “as velhas raposas querem o galinheiro/ roubaram dinheiro mas fingem que não/ querem que o petróleo seja do estrangeiro/ pra esconder ligeiro sua corrupção”. Embalado por imagens de pessoas nas ruas, sobretudo jovens, com suingue nos pés e revolta na garganta, surge o refrão ainda mais contundente: “não não golpe não/ quem não teve voto/  tem de respeitar/ não não golpe não/ nossa voz na rua vem para lutar”. Para aquecer ainda mais a alma da gente, eis que aparece de repente, não mais que de repente, o rapper Coruja BCI dando o seu recado: “golpe é ditadura, digo nunca mais/ a vontade das urnas prevalecerá/ pois quem distorce os fatos em telejornais/ quer inflamar o ódio pro gueto sangrar”. Apanhando esse grito, a fim de lançar pra outros milhões de galos, salta no meio da roda, denunciando a parcialidade da grande imprensa, a instigante Ana Tréa: “o machismo mata, a imprensa mente/ mas a internet é nosso canal/ somos a guerrilha na nova trincheira/ a nação guerreira do bem contra o mal”. E aí o refrão, dura mensagem às nossas elites, ecoa corajosamente: “não não golpe não/ quem não teve voto/  tem de respeitar/ não não golpe não/ nossa voz na rua vem para lutar”. O desfecho da música, na pegada de Lucas Santtana, não poderia ser mais pedagógico: “a democracia é nossa bandeira/ golpe é uma história que já sei de cor/ todos nós queremos um país mais justo/todos nós queremos um país melhor”. Nestes instantes que antecedem agosto, mês da votação final do impeachment no Senado, em que os ricos tramam passar a perna nos trabalhadores, Evandro Fioti adverte convictamente: “não queremos menos do que já tivemos/ nós queremos muito, muito, muito mais/ toda liberdade, amor, paz, respeito/ e ninguém por isso vai andar pra trás”. Como emoção é bicho traiçoeiro, não é que me vi entoando, num gesto solidário à presidenta, ela que lutou pra termos uma democracia, inclusive sendo torturada pelos milicos na ditadura, seu inesquecível jingle da última campanha eleitoral/2014: “Dilma, coração valente, força brasileira, garra desta gente./ Dilma, coração valente, nada nos segura pra seguir em frente/ Você nunca desviou o olhar do sofrimento do povo/ Por isso, eu te quero outra vez/ Por isso, eu te quero de novo”.