A conversa em Altos girou em torno, dentre outros temas, da conquista e formação de novos leitores, tarefa bastante desafiadora nos dias atuais. Todos ali presentes, reunidos no Salão do Livro, queriam compartilhar estratégias nesse sentido: qual a melhor forma de levar alunos do ensino fundamental a gostarem do saudável hábito de ler? Embora não exista uma receita única para enfermidade tão grave que acomete o Brasil, é possível apontar várias ações imediatas e simples que, adotadas como filosofia pedagógica, costumam dar bons resultados.
Primeira, incentivar a organização de feiras literárias como a que estava ocorrendo no momento, tanto de caráter abrangente, atingindo o município em geral, quanto de aspecto restrito, realizada por unidade escolar, ambas celebrando o livro acima de tudo – objeto de desejo que permeia o imaginário das pessoas.
Segunda, criar o gosto pela leitura em sala de aula, não somente nas disciplinas de comunicação e expressão, mas envolvendo as matérias como um todo, levando os alunos a perceberem que os textos têm vida, descortinam infinitos horizontes e são fontes de importantes conhecimentos. Lembrando-os da sempre atual lição de Henry Thoreau: “Quantos homens já não iniciaram uma nova era em suas vidas ao ler um livro?”.
A terceira é de fácil adoção também: criação de bibliotecas públicas, tanto nas escolas quanto em pontos movimentados da cidade, com empréstimos de livros aos interessados e renovação constante de seus acervos. Recomenda-se aqui que as pessoas escolhidas para administrá-las sejam criativas e, acima de tudo, amantes da leitura, daquelas que não só apreciam como inoculam a paixão pelo livro nas outras.
Outra ótima opção é organizar saraus poéticos com alunos e professores lendo textos de livre escolha, produzidos por eles ou estudados em sala de aula. Nessas ocasiões, levar escritores para falar sobre a arte da palavra, bem como de sua obra, é interessante e recomendável. Jorge Luís Borges foi quem, nesse aspecto, matou a charada: “Sempre imaginei o paraíso como uma grande biblioteca”.
Agora é bom frisar que nenhuma estratégia de fomento à leitura vai longe sem o verdadeiro comprometimento da escola e da família. Ou seja, professores e pais que abracem a causa, dando testemunho de devoção ao livro, fazendo com que o mesmo chegue às mãos da garotada, de preferência desde as séries iniciais. Querer formar leitores por decreto e sem dar exemplo, costumo falar, é tarefa quase impossível.
Daí a importância dos mestres e pais incluírem tal produto no cardápio alimentar da meninada, dentro e fora da escola – o livro apresentado como iguaria que nutre, sobretudo, nossa alma sedenta de explicações para o absurdo da existência. E que sirvam como sobremesa o delicioso pudim da escrita, essa instigante construção do edifício humano por meio da linguagem. Victor Hugo foi quem disse sabiamente: “Ler é beber e comer. O espírito que não lê emagrece como um corpo que não come”.
No diálogo estabelecido com os participantes do SaLiAltos, a maioria formada por mulheres, constatei feliz a disposição de todos em formar cidadãos éticos e “loucos” por livros, a chamada loucura mansa, como bem a definiu o saudoso bibliófilo José Mindlin. Para tanto, urge construirmos escolas e comunidades leitoras com urgência, sob o risco de esquecermos que “a virtude paradoxal da leitura é de nos abstrair do mundo para nele encontrar algum sentido”.