– Pois não!
– Boletim de ocorrência.
– Que que tem?
– Quero registrar.
– Contra quem?
– Minha mulher.
– Que fez ela?
– Até constrangedor falar, delegado.
– Tentou castrá-lo?
– Não.
– Matou os filhos de vocês?
– Não temos, felizmente.
– Roubou seu dinheiro?
– Não.
– Desembucha, meu camarada.
– Vive me traindo.
– Como assim?
– Sou corno dos grandes.
– Não é a primeira vez, então?
– Ai se fosse!
– Quem falou?
– Em mesmo vi.
– Onde?
– Até dentro de casa.
– Tá brincando comigo!
– Longe de mim, delegado.
– Não acredito.
– Dentro do mato…
– Quê?
– Debaixo de poste, inclusive.
– Como ela é?
– Morena e bonita.
– Idade dela?
– Uns 23 anos.
– E o senhor?
– 50.
– Quanto tempo juntos?
– Fez nem mês ainda, coisa de dias.
– Tão cedo assim?
– Pro senhor ver.
– Não é melhor partir pra outra?
– Já pensei nisso.
– Reconstruir sua vida.
– Eu amo ela, seu delegado.
– Já conversaram?
– Sim, não adiantou.
– No que posso ajudar, então?
– Prender a vadia.
– Adultério não é crime, meu senhor.
– Uns dias, pelo menos.
– Como ficariam as outras da cidade que aprontam?
– No xilindró também, lugar de vagabunda.
– Tenha respeito.
– Tô cansado, seu delegado.
– De quê?
– O senhor ainda pergunta.
– Esse é o meu papel.
– De tomar chifre.
– A escolha foi sua.
– Mas todo santo dia?
– Largue essa mulher, homem de Deus.
– Agora vivo com dor de cabeça.
– Só lhe peço uma coisa.
– Quê?
– Não vá fazer nenhuma besteira.
– Já fiz, seu delegado.
– Oh my god!
– Sequei os pneus da bicicleta pra ela não ir encontrar seus amantes.
– Menos mal!