CASSIA - BannerzinhoAinda hoje maravilhado com o musical Cássia Eller apresentado no final de semana em Teresina, no Theatro 4 de Setembro, com a divina Tacy Campos encarnando literalmente a artista que assombrou o Brasil, em  pouco tempo de vida, com o seu jeito irreverente de cantar. Ou, como disse uma amiga no final do espetáculo, em orgasmos múltiplos diante de tributo tão poético e verdadeiro, sua trajetória de vida e repertório musical cruzando-se de maneira indissociável, a tirar o fôlego de todos ali, cada um dos espectadores querendo ser, a exemplo do talentoso elenco, Cássia Eller. Depois do instrumental de abertura, a nossa voz só veio aparecer mesmo, dos presentes ali, embora ainda sussurrada, com Lanterna dos afogados, de Herbert Vianna, na estrofe que tem tudo a ver com ela: “Uma noite longa/Pruma vida curta/Mas já não me importa/Basta poder te ajudar”. Logo no comecinho da carreira, Cássia já havia avisado, talvez em visão premonitória, que viveria pouco, igualzinho a Janis Joplin, a roqueira norte-americana que se encantou aos 27 anos, uma de suas grandes influências, tanto musical como do ponto de vista comportamental. Daí o sentimento de liberdade plena, pouco se lixando  pra fama e dinheiro, ligada que estava em outros baratos de viagem e, sobretudo, em mostrar os peitos sem pudor, quer num palco ou praia, quebrando assim tabus e preconceitos arraigados na sociedade careta da época. Logo ela que foi criada numa família tradicional e conservadora, com pai militar, tendo sido educada para ser professora. Coragem danada Cássia tinha, mesmo tímida de dar pena, ao expressar para os pais dois desejos inegociáveis: ser cantora e gostar de meninas. Sem falar também da ousadia em deixar a outrora provinciana Brasília, onde os “coroas” foram morar, e partir em busca de uma carreira artística no sul maravilha – Rio de Janeiro e São Paulo. Difícil foi segurar as emoções quando ela, reencarnada ali, no Theatro 4 de Setembro, onde já havia se apresentado no passado, relembrou sucessos de Lennon/Mc Cartney (Come Together), Dolores Duran (Noite do Meu Bem), Luíz Melodia (Juventude Transviada),  João do Valle/Luiz Wanderley (Coroné Antônio Bento) e Cazuza/Frejat (Todo Amor que Houver nessa Vida). Bonito foi ver sua emoção, ao ter o  Chicão, ao receber uma belíssima música do Renato Russo, 1º de julho, em homenagem a ela e ao filho: “Eu vejo que aprendi/ O quanto te ensinei/ E é nos teus braços que ele vai saber/ Não há por que voltar/ Não penso em te seguir/ Não quero mais a tua insensatez”. E de bolar de rir, ao ser pressionada a ligar para o Caetano Veloso, ele que a presenteara com uma linda canção, quando disse à empregada que falasse ao compositor baiano, tão logo acordasse, que se ele quisesse chuparia a rola dele. As lágrimas desceram sem que pudéssemos controlar foram, em muitos dos fãs ali extasiados, quando Cássia interpretou, somente comparável a Edit Piaff, Ne me Quitte Pas, de Jacques Brel; e ao simbolizarem sua partida, no final do musical, com um jogo de luz sobre uma cadeira vazia, sob a trilha sonora de O segundo sol, de autoria de seu grande amigo e letrista preferido, Nando Reis. E naquele exato instante, não só sentimos a sua forte presença entre nós, como desejamos ser, espiritual e eternamente, Cássia Eller.