De dois em dois anos, a história se repete comigo: “você será candidato nesta eleição?”. Amigos, leitores, familiares, alunos e admiradores querendo uma resposta – de preferência positiva – para tal indagação. Mesmo sendo a política uma atividade nobre, sobretudo, quando exercida com ética, respondo categoricamente que não. Que estou bastante satisfeito em ser professor, além de eterno aprendiz de escritor. Mania absurda essa das pessoas acharem que, para ser feliz e realizado, temos de exercer um mandato parlamentar. Costumo agradecer a lembrança, bem como a manifestação de voto, mas digo ter outras utopias mais instigantes. Talvez queiram demonstrar apenas, quem sabe, o legítimo desejo de ver cara nova em nosso legislativo federal.  Mal sabem que, tendo vivido essa experiência em 1988, lançando-me a vereador de Teresina pelo PT, não gostaria de repeti-la novamente. Dentre outras, por duas simples razões: liseira para encarar as atuais campanhas milionárias e, acima de tudo, o medo de perder o pouco de privacidade que ainda me resta.

Uma lembrança nítida daquele pleito, guardada até hoje na memória, é a da pobreza franciscana com que encarei os eleitores: megafone, tamborete de madeira e uns santinhos com as propostas.  Sem grana sequer para alugar comitê, a estratégia foi abordá-los diretamente onde estivessem.  Portas de escolas e universidades eram locais perfeitos para soltar o verbo e, na medida do possível, plantar um tantinho de esperança. Sem falar também das paradas de ônibus e mercados públicos da periferia, plateias sempre atentas ao que o candidato tem a dizer. No fundo, verdadeira prova de fogo para quem pretende representá-los no parlamento, encarando-os de frente e ouvindo suas reivindicações. Triste do candidato que não passar, nesse corpo a corpo, bastante sinceridade, recebendo em troca uma constrangedora indiferença. Não ter ficado com débito, tampouco comprado voto de ninguém, deixou em mim uma sensação indescritível de leveza e alegria.

Outro fato que marcou a referida campanha, ainda fresca na cachola, aconteceu na entrada dos alunos do Helvídio Nunes, escola pública localizada na zona Norte da capital, bairro Marquês. Acabara eu de fazer o empolgado discurso, quando uma senhora humilde se aproximou de mim e, após um breve relato de sua penosa situação financeira, pediu uma casa para morar com o marido e os cinco filhos. Ao falar da impossibilidade de atendê-la, tanto por ser um simples professor quanto morar em casa alugada, ela sapecou um conselho dos mais pedagógicos: “gente lascada, seu moço, não deveria jamais se candidatar”. E sem interesse em ouvir meus argumentos, virou as costas e saiu atrás da sonhada moradia. Bendita e sábia senhora!

Toda essa conversa vem à tona não só por causa daquela convocação dos meus prováveis “leitores”, mas também por ter passado, tempos atrás, uma situação vexatória no HGV.  O constrangimento se deu quando levei um jovem que passava mal, na praça Pedro II, para o devido atendimento no hospital. Um gesto despretensioso de solidariedade ao próximo. Ao responder que não era parente nem o conhecia pessoalmente, ouvi de uma enfermeira a perversa insinuação de que essa “alma bondosa está querendo votos”. Desde esse episódio, tomo o maior cuidado em não deixar transparecer nenhuma pretensão em ser candidato a nada. Estou feliz assim, dando aulas e publicando livros. E metido, claro, em projetos culturais. Atividades que contribuem também, e como!, para o engrandecimento do nosso estado e do país.