A Balada Literária deste ano vem tinindo de boa ao homenagear duas figuras importantes da cultura nacional: o educador Paulo Freire, autor de Pedagogia do oprimido, e o poeta Elio Ferreira, autor de América Negra, nordestinos comprometidos com um Brasil mais justo e solidário. O primeiro na área pedagógica, daí ser o Patrono da Educação Brasileira; o segundo, no campo literário, com uma obra instigante do ponto de vista da negritude. Além disso, o evento ocorrerá, no Piauí, em quatro cidades do estado – Oeiras, Floriano, Parnaíba e Teresina, municípios que possuem campi da Universidade Estadual do Piauí (Uespi), parceira nessa jornada de debate sobre temas oportunos na conjuntura atual. Embora dito por Paulo Freire, a expressão a seguir resume a prática de ambos: “Eu sou um intelectual que não tem medo de ser amoroso. Amo as gentes e amo o mundo. E é porque amo as pessoas e amo o mundo que eu brigo para que a justiça social se implante antes da caridade.”

Esta é a terceira edição realizada em solo piauiense, tendo aportado por aqui em 2017, quando a Balada celebrou a obra perturbadora de Torquato Neto, um dos ícones da Tropicália, movimento que deu uma boa chacoalhada na arte nacional – “Escute, meu chapa: um poeta não se faz com versos. É o risco, é estar sempre a perigo sem medo”. Entre outros convidados, estiveram em Teresina Jards Macalé, parceiro musical de Torquato, e Carlos Rennó, compositor dos mais talentosos da MPB. Ano passado, foi Graça Vilhena a homenageada local, ela que é tida como a melhor de nossas poetas, obra feita de essencialidades e lirismo – “ Foi o cafuné/ das andorinhas/ que adormeceu/ os sinos da cidade.” Tudo por iniciativa de Marcelino Freire, pernambucano de Sertânia radicado em São Paulo, um agitado cultural que não mede esforços em ligar os distintos brasis num só – “Toda palavra lavra, toda palavra colhe. Os livros são sementes, são árvores frondosas. Abaixo as armas. E viva as palavras”, disse ele em entrevista ao jornal Balada News.

A Balada 2019 começou nesta quarta-feira (13) por Oeiras, nossa primeira capital, berço de grandes escritores: O. G. Rego de Carvalho, José Expedito Rêgo e Rogério Newton, no campus Possidônio Queiroz, da Uespi, com mesas redondas nos turnos manhã e tarde. Às 10h, no auditório da universidade, houve o bate-papo sobre a obra/vida de Elio Ferreira: “Itinerário poético – Das performances de rua à afirmação da negritude”, com as presenças ilustres do autor, professor Harlon Lacerda (Coordenador do Curso de Letras) e do poeta Kilito Trindade, sob mediação deste aprendiz de cronista. Prosseguiu às 14h30 com a conversa “A leitura do mundo precede a leitura das palavras”, a respeito do projeto pedagógico de Paulo Freire, a cargo de Lucineide Barros e Leiliana Rebouças, com mediação de Iraneide Soares, todas professoras da instituição. O desfecho ocorreu num lugar paradisíaco, o Mirante Morro da Cruz, em show lítero-musical reunindo poetas da cidade e de Teresina. Uma noite repleta de muitas emoções e sentimentos. De tão marcante o evento, ficou o compromisso de retornarmos no próximo ano, iniciando a Balada 2020 por lá.

Em Floriano, terra natal de Elio Ferreira, acontecerá no dia 10 de abril, campus Josefina Demes/Uespi, berço também de Getúlio Targino Lima, jornalista e advogado, e de César Crispim, diretor do Grupo Escalet e idealizador da Paixão de Cristo no município. Depois chega, em 2 de maio, ao campus Prof. Alexandre Alves/ Uespi, na cidade de Parnaíba, onde nasceram Assis Brasil e Benjamim Santos, nomes consagrados dentro e fora do Piauí no romance e teatro, respectivamente.  Entre os dias 13 e 14 de agosto, no campus Torquato Neto e Theatro 4 de Setembro, a Balada Literária tem seu desfecho em Teresina, com a vinda de palestrantes e artistas nacionais. Em seguida, prossegue em Salvador, sob a batuta do poeta Nelson Maca, e finaliza em São Paulo, origem do evento, no período de 4 a 8 de setembro, reunindo todas as tribos culturais, gente  dos centros e das periferias do Brasil – “Poesia, poesia./ Quando estamos juntos/ é como se eu tivesse marcado um/ encontro com Deus/ na minha própria casa”, como bem expressou nosso poeta florianense.