Por essa, confesso, não esperava. Mas como a informação foi dada por gente acima de qualquer suspeita, o jeito foi refletir sobre o futuro. Quem sou eu, um simples mortal, para questionar estudo feito por especialistas do mais alto gabarito. Estudo desenvolvido na Holanda, a cargo de pesquisadores do University Medical Center, em Utrecht, apontou que café, sexo e assoar o nariz podem aumentar o risco de se sofrer um derrame. Como venho de uma família com histórico de AVC (acidente vascular cerebral), já tendo perdido um irmão e outro escapado por milagre, a notícia divulgada pela imprensa me deixou bastante preocupado. Afinal, não desejo o encantamento tão cedo, apesar de não abrir mão de alguns desses itens. Dificilmente, dona Raimunda suportaria a perda de outro filho por aneurisma.

Embora não seja um degustador contumaz de café, às vezes,gosto de saboreá-lo cedo da manhã, ao acordar, beliscando umas bolachas ou petas. Já deixar de tomar um “pingado”, o café misturado com leite, será mais difícil, sobretudo, quando ele vem acompanhado de pão com manteiga. Ou, então, com um cuscuz de milho bem quentinho, servido nos mercados do Mafuá e da Piçarra. Complicado ainda é abandonar um cappuccino à tardinha, feito no capricho, ou, em noite de frio, no período do inverno. Agora, quanto ao dilema de assoar ou não o nariz, penso que os pesquisadores exageraram. Podem ter razão, vasos sanguíneos rompem sob pressão arterial, mas ninguém gripado ou com meleca vai lembrar disso em momento tão banal.

No tocante ao sexo, o resultado do estudo, englobando um grupo de 250 pessoas, vai de encontro ao que o ex-ministro da Saúde, José Gomes Temporão, defendia nacionalmente no final de sua gestão. Segundo ele, um médico de vasta experiência, deveríamos praticar sexo, pelo menos, cinco vezes por semana. Quem é chegado ao “remelexo das ancas”, como diria Gregório de Matos, sabe perfeitamente que tal prática implica redobrado esforço, certo preparo físico. Não à toa que, terminada a “brincadeira”, os amantes ficam exaustos, sem disposição para levantar um dedo. Talvez aqui tenha surgido um ótimo pretexto para quem não gosta ou não quer transar: “Amor, cuidado com o derrame! Não esqueça o que disseram os pesquisadores holandeses”. Para os fissurados no “barulhinho bom”, pouco importa essa temível descoberta, uma vez que, cientes da finitude humana, preferem o “doce veneno do escorpião” a uma decrepitude vazia.

O inacreditável do estudo é que aparece – fora os já citados – outro importante fator de risco: o ato de defecar, sobretudo, ao vir acompanhado de esforço. Agora lascou de vez, falei com os meus botões. Nem sentado no “trono”, um dos poucos prazeres da vida, gozarei daqui pra frente. O tenebroso fantasma do AVC vai sempre pairar sobre a minha cabeça. Apenas no Reino Unido, que dirá no Brasil, perto de 29 mil pessoas sofrem anualmente um AVC por sangramentos no cérebro, com os seguintes percentuais por fator: 10,6% (café), 5,4% (assoar o nariz), 4,3% (fazer sexo) e 3,6% (defecar). O consolo é que a pesquisa, que levou três anos, está longe de ser conclusiva. Eles precisarão de mais tempo a fim de verificar se tais situações, realmente, podem ou não provocar derrame. Enquanto isso, nós que não temos nada de besta, vamos tomando o nosso cafezinho, assoando o nariz, fornicando à vontade e, nos intervalos, aliviando a barriga. Afinal, somos também filhos de Deus.