Era o começo da década de 1990 quando eu parti para meu último ano do ensino médio, carregando nada mais que a incerteza, a caminho do colégio Objetivo. Daquele ano terrível (quase fui reprovado), resta-me a lembrança de uma capa de disco que um colega de classe ostentava para cima e para baixo. Era o “Cabeça Dinossauro”, dos Titãs.
No dia 29 de dezembro de 2018, em São Gonçalo do Piauí, aconteceu uma edição do que um amigo, o Chris Ramone (esse nome já diz muito!), chamou de Rockentura. Um evento criado por ele e por Francisco Myller, que contou com a colaboração de um número (para a surpresa de muitos) significativo de apoiadores. A primeira edição foi um sucesso, a segunda apresentação também. Debaixo de uma chuva torrencial, as atrações da noite (Cajón Band e Felipe Cerqueira com sua Banda Retroativa) fizeram-me lembrar daquele distante ano, tão sofrido. Ninguém que fazia parte da minha vida em 1990 estava ali, com exceção de minha irmã (Karina) e Seu Zé Pereira, proprietário do clube (Cajueiro Espaço Livre) que, na época, trabalhava com meu saudoso pai.
Daquele ano terrível (1990), resta-me a lembrança de uma capa de disco que um colega de classe ostentava. Era o “Cabeça Dinossauro”, dos Titãs.
O repertório da noite foi o mais variado do rock in roll. As pedras rolaram pra valer. Olhei várias vezes em minha volta enquanto a chuva caía, mas o ano de 1990 não me saía da cabeça. Foi um tempo duro, de muitas incertezas. O muro de Berlim caía, havia guerra na praça da Paz Celestial, a banda alemã, Scorpions, lançava sua inesquecível Wind of Change, perdemos para a Argentina na Copa do Mundo, Teresina se abria para os grandes shows, Cazuza partia para sempre.
A Cajón Band assanhou a festa. Felipe Cerqueira e a Banda Retroativa espalharam álcool na fogueira. Mas a chuva não parava. Manoel de Jah, o locutor da noite, enalteceu minhas conquistas literárias, agradeci, mas aquele ano não me saía da cabeça. Aquele terrível ano de 1990. Fui até o palco pensando em falar sobre o evento, mas falei sobre o amor e a amizade como se eu estivesse falando para ele, o ano distante.
Saí antes de acabar a festa, assim que a chuva passou. Em casa, abri a porta da cozinha, sentei-me no batente e passei minha mão direita sobre meu pulso esquerdo. E aquele ano ainda estava lá: no pulso.
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