Belém é uma cidade cheia de cheiros de muitas essências. Sobre as ruas, mangueiras centenárias se abraçam, formando túneis imensos. Há uma sensualidade contagiante no ar.
Durante meses, Dalila ocupa-se quase exclusivamente do cerco a Suiá. Segue-a dia e noite, escreve-lhe e lhe telefona diariamente. A princípio, a disc-jockey a trata como uma simples fã, mas passa a esperar com ansiedade as cartas e telefonemas. A certa altura, começa a pedir que a outra se identifique. Em vez disso, Dalila corta o contato por uma semana. Suiá torna-se super irritada, supondo-se numa crise de TPM… E quando a outra retorna o contato, a disc-jockey propõe de imediato um encontro.
Finalmente, estão as duas mulheres frente a frente, à luz mortiça da mesa de um restaurante. Olham-se e têm ambas a mesma sensação: conhecem-se, embora jamais se tenham encontrado antes daquela troca de olhares através da vitrine da loja de chocolates. Mas a conversa corre fragmentada, como se disfarçasse o desejo de uma aproximação maior. Há um estranhamento a perpassar frases inacabadas. Nenhuma delas percebe o que está acontecendo.
Mas alguém parece perceber. Na mesa do canto esquerda, na penumbra de um abajur lilás, uma velha senhora observa atentamente as duas mulheres. Súbito, no lugar de Dalila e Suiá, ela vê um casal: a mulher é, sem dúvida, a disc-jockey, embora em trajes de uma época passada, mas na cadeira de Dalila, está um homem. Há entre eles um clima de intensa paixão.
Imagens de presente e passado se alternam aos olhos da velha senhora, tal qual um filme. Das duas mulheres conversando corta para aquele homem beijando a boca de Suiá e, em seguida, para outra mulher que, enlouquecida, descarrega a pistola sobre o casal. Suiá cai aos prantos sobre o amante agonizante.
As duas mulheres pagam a conta. Parecem íntimas e extremamente felizes. Saem do restaurante.
Através da vidraça, a velha vê Suiá e o homem a se distanciarem, abraçados.