Eram sete da noite quando Nando resolvera passar para pegar Clara, os dois, sem nenhuma intenção aparente, jamais imaginavam a armadilha que os aguardava. Aquela algema que acorrenta o “suspeito” flagrado ao crime inafiançável resolveu acorrentá-los. Os laços entre os dois já eram fortes, eram amigos, se admiravam, se entendiam e se gostavam, namoravam, mas o que ocorreria naquela quinta-feira os uniria de uma forma diferente. Marcaria suas vidas eternamente. Nem era dia dos namorados, mas o amor estava no ar, ali atento, ligado, à espera de alguém para dar o bote. Nando a olhou de forma diferente com os olhos a brilhar intensamente e fez o convite com uma voz trêmula e persuasiva:
– Vamos a algum lugar onde a gente possa ficar mais à vontade?
O seu olhar, também brilhante, já respondeu afirmativamente, mas, com os lábios desdenhando, tentava inutilmente se conter, como se não soubesse que não existe contenção para o amor, ainda mais quando ele chega te abocanhando daquela forma.
O local era modesto, mas se tornaria muito especial para ambos, pois seria como um diário para os dois, aonde eles iam para escrever cada página daquele amor que parecia infinito. O mundo se tornaria esquecido nas mentes e corpos todas as vezes que eles se encontravam para bailar a mais perfeita dança, o amor.
Quinta-feira era o primeiro baile dos dois, mas parecia que já haviam ensaiado para uma noite de apresentação importante, para a plateia presente. Não erravam um passo sequer. Uma única espectadora, mas com uma imensidão sem igual. A lua, na sua mais discreta forma, resolvera ficar ali minguante em sua quietude a fotografar, pela parede com vidraça, cada segundo daquele intenso encontro de um casal a se amar, como se algum piscar pudesse desfazer o compasso dos dois.
Horas após, os dois resolveram voltar para casa, já que a vida haveria de continuar normalmente. Após aquele dia, ambos eram seres maiores e passavam a enxergar a vida de outra forma, como se o mundo passasse a ser deles. Clara experimentava uma sensação de sentir a importância de cada ser que compunha o seu mundo. E pensava: “como era bom se sentir imensa” – e aquela sensação, perceber a importância de cada ser humano dentro de você, se sentir maior, não mais do que alguém, mas grande como pessoa e isso o amor te faz enxergar.