chorar de frente ao muro
com os olhos cobertos de concreto /
na fala dizeres cinzas

ao invés de flores

no abraço cadeado nos dedos
dolorosos ardores expostos na saliva
há mares no engasgo da garganta
folhagens secas à procura do outono

chorar de frente ao muro
morrer de vez em sempre
sufocado e com sal na língua
dizer vapores
que atormentem a vizinhança
ser incômodo no vazio da surdina
dizer palavras tortas com os olhos
arranhados no chapisco

chorar de frente ao muro
com a agonia me esbofeteando o rosto
a ânsia invadindo minhas narinas

e na dolência povoar os meus delírios

chorar de frente ao muro &
derramar ancestrais do meu sangue
chorar de frente ao muro
chorar de frente ao muro
chorar de frente ao muro
sozinho na hora do recreio.

Ítalo Lima é escritor e publicitário. e-mail: italolimapoesias@gmail.com

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