Morder a fronha do travesseiro
com os olhos atravessados no caos
ouvir de deus o murmúrio do vento
se ater ao frio lambendo o escuro
e engolir a seco os desastres
que desabam em nós
a vertigem da loucura produz saliva ácida
nem mesmo na insanidade meus pés
conseguem tocar o chão
me atravesso pelos lamaçais em chamas
aceno lentamente para deus com os dentes
à mostra
[ele ri e me acena com os olhos /
deus é um ser estranho quando está sorrindo]
os mendigos da rua jogam pedras
em minha janela
[eu não me incomodo
porque mordo a fronha com ainda
mais força]
e faço do meu quarto abrigo
para todos os despejados do paraíso:
eu sou deus mendigando meu próprio abraço!
italolimapoesias@gmail.com