Joelson chegou na hora mais estranha do dia. Quinze para as nove. Já repararam que quinze para as nove é sempre uma péssima hora para tocar incansáveis vezes a campainha de uma casa em uma plena segunda-feira? Mas era Joelson.
— Já vai!
Gritei da cozinha. Atravessei descalça a passos longos e não mais irritada com o incansável barulho da campainha. Eu acabara de acordar. Porque era o Joelson.
— Eu disse já vai!
Dessa vez gritei eufórica e com um sorriso disfarçado no rosto. Porque era o Joelson. Esperei por alguma notícia urgente. Algum aviso que só poderia ser dado assim, quinzes para as nove de uma segunda-feira. Mas não. Joelson não queria me entregar flores. Nem explicar os motivos de ter saído de casa há mais de uma semana sem deixar um bilhete. Joelson não tinha os olhos de arrependimento. Joelson não trazia na bagagem as malas de volta para casa. Não tinha serenata para me cantar Bob Dylan. Não tinha bom dia na face de Joelson. Nem ao menos um abraço de despedida. Não tinha, reparem bem, não tinha Joelson de joelhos ao chão. O arrependimento passou longe da minha calçada. Também nos lábios, nossa! Os lábios de Joelson não esperavam pelo meu beijo.
Aliás, não tinha Joelson na porta de casa. Foi engano. Engano! Tenho enlouquecido sempre às quinze para as nove de segunda-feira.