O desejo de construir um teatro criativo e independente é uma forte alternativa de resistência para atores e atrizes que não estão inseridos no circuito hegemônico das artes cênicas. Profissionais lutam para se reafirmar num contexto em que falta investimento, espaços e há pouco incentivo. 

Mas este não é um cenário recente. A dificuldade sempre fez parte do caminho trilhado pelo artista autônomo. Quem se envolve com a produção teatral se desdobra em múltiplas funções, fica à mercê de leis de incentivo e precisa lidar com inúmeras questões, como produzir apresentações que atraiam público, em uma época em que a bilheteria está diminuindo quando, antes, era a principal fonte de recursos. 

As múltiplas possibilidades de criação e reinvenção são o que mantém esse modo de organização. “Aqueles que não respondem exclusivamente aos padrões da indústria do entretenimento e constroem seu teatro de forma independente, buscando criar linguagem, sempre terão mais liberdade, ainda que corram mais riscos e possam passar mais tempo nas zonas de marginalização”, observa André Carreira, professor do Programa de Pós-Graduação em Teatro da Universidade do Estado de Santa Catarina. As produções acabam sendo mais diversificadas e originais, ampliando as ofertas de um teatro plural e engajado. 

Ilustração: Irineu Santiago

Mesmo autônomos, os artistas não constroem suas trajetórias de forma solitária. Geralmente atuam em coletivos, articulando-se em inúmeras tentativas de produzir teatro e envolvendo-se em um ou outro projeto que surgir. Prática que pode ser enquadrada no movimento de “Teatro de Grupo”, que “serve para nos referirmos a um amplo conjunto de agrupações teatrais que produzem fora do sistema”, explica Carreira. 

Esses coletivos são responsáveis pela maior parte da produção teatral nacional. Por estarem muito mais engajados com as possibilidades de inovações, acabam sendo fundamentais para o teatro brasileiro contemporâneo, contribuindo para a construção de novos discursos cênicos. Mas seguem invisíveis para o grande circuito. 

O baixo investimento é o que mais dificulta a continuidade das ações. “O teatro é uma arte que se produz com esforço dos artistas e apoio de recursos públicos”, esclarece Carreira. Uma realidade que não se limita apenas ao cenário brasileiro e muito menos às artes cênicas. “Olhando para países como França e Alemanha, o México também, quase toda a produção teatral é subsidiada. Isso não é uma particularidade do teatro”, finaliza. 

Ilustração: Irineu Santiago

(Reportagem completa na Revestrés#38 – novembro-dezembro de 2018)