“Não existe vitória sem luta”. O lettering, na abertura do filme “Cangaceiros Fora de Tempo 3 – o Desfecho Final”, dá o tom do movimento que tem mobilizado Picos e região. No centro sul do Piauí, a 307 quilômetros de Teresina, com cerca de 73 mil habitantes, Picos tem a segunda arrecadação do Estado, perdendo só para a capital. O comércio agitado e a fama de capital do mel contrastam com as ruas mal cuidadas. Mas, corta! – isso é a vida real. Nos últimos anos a região tem vivido um novo enredo, baseado na produção cinematográfica. Com poucos recursos eles atraem multidões, veem crescer a pirataria do que produzem e têm suas vidas transformadas. Já não são apenas funcionários públicos, motorista de ambulância, vendedora de loja. Tornam-se roteiristas, heróis em ação, estrelas de cinema.
As exibições, em praças públicas ou ginásios, levam público de até mil pessoas. Algumas são promovidas com apoio do poder público local, outras bancadas pelos próprios envolvidos. A despeito do sucesso que fazem na região, os produtores são quase unânimes em reclamar da falta de apoio das administrações municipais e do Estado. “Eu quero é fazer, produzir. E não ficar esperando”, diz Douglas Nunes, 63 anos, escritor, roteirista e diretor de cinema. Na vida dita real, funcionário público da Prefeitura de Picos.
Nossa conversa com Douglas é interrompida por alguns telefonemas. São pessoas querendo participar da próxima produção. “Eu estou na fase de seleção de elenco”, explica. Perguntamos se, ao telefone, são atores. “Não sei se é ator. É gente querendo participar”, diz, bem humorado, já reconhecendo uma das dificuldades da produção audiovisual na região: não há atores nem cursos de formação. Eles vão fazendo, errando, tentando aprender. “São todos voluntários, trabalham em outras coisas ou estudam. Então eu só gravo aos domingos e feriados”, conta Douglas.
“Eita, porra!”
Como Bollywood, que se inspira no cinemão americano mas traz características próprias da Índia, a produção de Picos está impregnada por temas, sentimentos e sotaques locais. Estão lá a seca, a necessidade de partir para a cidade grande, o apego à terra. E à moda de “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”, muitas vezes os textos vão surgindo na gravação. “Não quero nada decorado, quero espontâneo. Mas tem que seguir a linha do roteiro”, ensina Douglas. Nos extras de “Cangaceiros Fora de Tempo” vê-se um paciente diretor Dedé Rodrigues conduzindo: -“Agora diga assim…”. Outras vezes ele deixa que os atores sintam a cena e interpretem de modo natural. Em “Cangaceiros 3”, quando a mocinha leva um tiro e corre o risco de morrer, o seu amado lamenta: – “Eita, porra!”.
Lá na vida real, Dedé Rodrigues, 46 anos, herdou do pai o ofício de fotógrafo. No pequeno estúdio que mantém em Picos, recebe encomendas para fotografar aniversários e batizados. Na parede atrás de sua mesa, pintou um desenho do Universo. No cinema, é tão ousado que utiliza efeitos especiais – produzidos em seu próprio notebook – e já trabalhou com mais de cem pessoas numa única produção. E quando o ator não é bom ou começa a dar trabalho? Dedé tem uma solução: “Eu dou um fim nos personagens que causam confusão”, diz sorrindo. “Inventei uma chuva onde sumiu um monte”.
Mas Dedé é generoso. Quando Maciel Maximiliano quis participar do filme, já no final das gravações de Cangaceiros 1, o diretor criou para ele o papel de filho do Cabeleira, o chefe dos cangaceiros. Maciel está nos outros dois filmes e seu personagem, Léo, foi ganhando importância ao se envolver com Esmeralda, a filha da delegada. “Eu sou ator profissional”, diz Maciel, compenetrado, referindo-se ao fato de não ter uma segunda ocupação, como a maioria.
Um dos únicos atores a ter alguma experiência é Jesualdo Alves, nas horas de vida real professor de Inglês e Espanhol. Ele fez teatro na escola e na igreja, quando ainda morava na Paraíba, sua terra natal. Em Picos, diz que se apaixonou pela cidade e por dona Almerita, com quem é casado. Entusiasmado, organizou a associação batizada de Cinevap – Companhia Cinematográfica do Guaribas – para reunir produtores e tentar organizar o que estão fazendo. Jesualdo é ator requisitado e aparece em filmes de diferentes diretores. Autocrítico, diz que sua experiência em teatro pouco lhe valeu para o cinema: “São interpretações diferentes”, explica. E se derrete em elogios: “Almerita é melhor atriz do que eu”. A esposa rebate: “Ora, ele me botou pra lavar roupa, estender roupa, servir comida – tudo coisa que eu faço há 26 anos!” (risos).
“Eu também podia fazer cinema”
Entre a incansável vontade de produzir, as dificuldades técnicas e de recursos, e um senso de humor que acompanha quase todos os envolvidos, Picos e região já somam, segundo dados da Cinevap, 19 longas-metragens produzidos desde 2010. Antes disso há uma produção de curtas, a maioria enfocando histórias e personagens da própria região. Flávio Guedes, 34 anos, é apontado como um dos inspiradores desse movimento. Nascido em Oeiras, aos 17 anos Flávio mudou-se para Picos, onde morou durante nove anos e começou a produzir alguns curtas, “mesmo amadoramente”, reconhece. Aquela produção inicial foi o combustível que animou os picoenses. É comum que citem Flávio Guedes com admiração: – “Você não conhece Flávio Guedes?! Ele vai estourar nacionalmente”. Atualmente Flávio mora em São Paulo, onde faz cursos de teatro. Na vida real, formou-se em Pedagogia e é funcionário do Banco do Brasil.
Outra inspiração é o filme “Ai, que vida!”, de Cícero Filho. Maranhense e apaixonado por cinema, Cícero fez “Ai, que vida!” de modo quase artesanal, quando ainda era estudante em Teresina. A comédia dramática caiu nas graças do Piauí e do Brasil. Tornou-se um dos filmes mais pirateados na região Nordeste, virou objeto de estudo em faculdades do Brasil e levou Cícero a ser entrevistado em programas nacionais, como o de Jô Soares. “Ai, que vida!” tornou-se exemplo do que é possível fazer e virou um padrão técnico e estético para outras produções. “Depois que eu vi ´Ai, que vida!`, criei coragem. Vi que eu também podia fazer cinema”, diz Dedé Rodrigues.
E eles estão fazendo cinema? Os envolvidos reconhecem algumas falhas, mas asseguram que sim. Uma crítica mais rigorosa ou tradicional poderia considerar que não. Mas, corta! Isso é pensar com aquela cabeça de vida real. Flávio Guedes prefere destacar a ousadia, que considera comum aos cineastas de Picos. Dácia Ibiapina, pesquisadora de cinema, cineasta e professora da Universidade de Brasília – UnB (leia entrevista no box), que está estudando a produção na região, ao se referir aos produtores de Picos destaca a paixão pelo cinema e a necessidade de expressão em linguagem audiovisual. Para a pesquisadora, é mais útil pensar que existem “cinemas” e não apenas cinema. “Se os colegas de Picos dizem que seus filmes são cinema, quem sou eu para dizer que não?”.
Entre referências, truques e pirataria
Seis grandes salas de cinema devem ser inauguradas em breve em Picos. Elas serão instaladas nos dois shoppings que estão em construção na cidade. Nas placas das obras, o aviso: “Tom Cruise, Brad Pitt, Angelina Jolie, em breve estarão aqui!”.
Por enquanto a cidade segue sem salas de cinema, sem locadoras, sem livrarias. Os cineastas se esforçam para driblar a escassez de referências. Se o acesso às tecnologias está mais facilitado, por outro lado eles se pegam aprendendo a operar os equipamentos sozinhos ou consultando manuais em inglês. “O prazer de filmar é maior que a falta de tradição e referências”, aponta Dácia Ipiabina.
Thico Almeida, 47 anos, diretor de “Vidas Opostas”, conta que a primeira vez que assistiu televisão já tinha 15 anos. Passava a novela “Paraíso”, na Rede Globo, a história de Santinha e o filho do diabo, vividos por Cristina Mullins e Kadu Moliterno na primeira versão, em 1982. Em 2010, Thico deixou a família em São Paulo, onde viveu por 20 anos, e regressou ao Piauí, animado com as notícias da produção audiovisual e acreditando no sonho de também tornar-se cineasta. “Em São Paulo não tem espaço pra gente trabalhar com isso, não”, acredita. Perguntado sobre que tipo de filmes costuma ver, ele diz que, antes de gravar, sua estratégia é não assistir a nada, por receio de ser influenciado. “Prefiro deixar minha imaginação livre”.
Já Dedé Rodrigues, antes de virar cineasta, foi ao Shopping da Cidade, em Teresina, e comprou 35 filmes. Conta que assistiu a todos, tentando entender como se faz.
Quando chegamos à casa de Douglas Nunes, ele buscava referências: no canal TCM assistia “Meu ódio será sua herança”, de Sam Peckinpah. Douglas se diz fã de Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock. Entre os filmes brasileiros cita “O Pagador de Promessas”, de 1962. O cineasta é saudosista do Cine Spark, sala de cinema que funcionou em Picos entre os anos de 1964 a 1982.
A distância não impede certas aproximações. Todos utilizam a internet e as redes sociais para divulgar seus trabalhos. “Saga”, “trilogia”, “megaprodução” – Dedé Rodrigues usa os termos do jargão do cinema para se referir à sua série. Nos DVDs dos filmes há extras com tudo a que se tem direito: cenas retiradas, erros de gravação, entrevistas.
A ideia de produzir cenas consideradas difíceis não amedronta os cineastas. No novo filme, “O Diário de Enoe”, ao contar trechos da passagem da Coluna Prestes por Picos, Douglas vai reproduzir uma batalha. E como fará isso? “Ora, vamos fazer truques. É assim que fazem no cinema”, explica. Em seguida pergunta: “Você acha que em Tróia tinha aquele tanto de gente? Se eles podem fazer, porque nós não podemos?”.
Ninguém pode duvidar desses produtores que têm nomes como Roberto Borges, 44 anos, criador de “Raízes do Sertão”, sucesso tão grande que virou série. Roberto concilia a vida de cineasta com a de pastor da Assembleia de Deus em São José do Piauí, cidade vizinha a Picos, com cerca de sete mil habitantes. Ele conta que já está gravando os episódios 10 e 11 de “Raízes”. É possível comprar os nove episódios da série em um único DVD. Eles são vendidos por meio de pirataria em toda a região de Picos e também em Teresina. Roberto diz que o dinheiro que entra via pirataria não chega até os cineastas do sertão.
Uma prática comum entre os produtores é o acúmulo de funções. Eles são roteiristas, produtores, editores, fazem sonoplastia e muitas vezes ainda são câmeras ou atores. Acumular tantos papeis já preocupa Jesualdo Alves, que diz: “Quando a gente vê filme de fora, cada um faz uma coisa. A gente tem que respeitar as diferentes funções para profissionalizar mais o trabalho”.
É que Jesualdo está de olho naquelas seis salas de cinema que vão inaugurar. E essas salas vão exibir os filmes produzidos na região? – perguntamos. Espontâneo, Jesualdo não duvida: “Vão sim. O pessoal é apaixonado pelo cinema daqui, minha cumade!”.
Mas o que tem a ver cangaceiro com feiticeiro e Minotauro?
Uma multidão lota o ginásio de Sussuapara, cidade vizinha a Picos. Era final de outubro de 2014 e todos querem acompanhar o último episódio da saga “Cangaceiros Fora de Tempo”. Desta vez, Dedé Rodrigues conta uma história onde contracenam Minotauro, feiticeiros, ninjas, uma criatura das cavernas, um regueiro e, claro, os cangaceiros fora de tempo. Isso tudo com um elenco de mais de 100 pessoas.
Mas o que tem a ver cangaceiro com feiticeiro e Minotauro? “Eu sei lá!”, responde Dedé aos risos. “É claro que eu quero agradar aos outros, mas tenho que agradar primeiro a mim. E eu achei que ia ficar bom misturar isso tudo”. E por que o título Cangaceiros Fora de Tempo? “Ah, isso aí já é questão de recursos mesmo. Fazer roupa de cangaceiro é caro, então eu resolvi fazer uns cangaceiros mais econômicos”.
Dedé tem suas teorias sobre cinema e aposta no uso de humor e efeitos especiais. “Se a gente fizer um filme muito sério, o pessoal não gosta”, explica. Sobre os efeitos especiais, faz uma provocação aos cineastas brasileiros: “Eles são muito medrosos. O Brasil jamais gravaria um Star Wars!”.
Com pouco mais de seis mil habitantes, Sussuapara tem no lançamento do filme um acontecimento. Cerca de 700 pessoas comparecem. Elas pagam cinco reais de entrada e levam um DVD da produção. Ainda ganham pipoca, pirulito, bombom. Até o prefeito marca presença, devidamente bem arrumado, com seus sapatos trocados: um marrom e outro preto.
Como em Saramandaia, de Dias Gomes, Sussuapara parece cheia de personagens de realismo fantástico. O prefeito Edvardo Rocha, que apoia os filmes dos cangaceiros, só calça sapatos de pares diferentes. Conta-se que, ainda garoto, foi impedido de entrar numa escola por estar calçando chinelos. Desde que teve condições financeiras, em sinal de protesto, compra dois pares de sapato ao mesmo tempo e usa-os do seu modo inovador. Virou o “Pé Trocado”.
Mas nem tudo é final feliz. Quando emprestou o carro oficial da Prefeitura para gravar cenas de perseguição e fuga, Pé Trocado teve que ouvir as críticas dos opositores.
“Cangaceiros 3”, exibido naquele final de outubro, já não usou carros oficias, mas, com o apoio do prefeito, teve cenas gravadas em Picos e Teresina, no Piauí; em Petrolina, Pernambuco, e Juazeiro, na Bahia. O filme chegou tão longe que Dedé conseguiu uma van e encheu com seus atores. Foram todos a Teresina e, graças aos contatos de Josely Ecologista, ator que também se prepara para ser cineasta, deram entrevista na TV Meio Norte.
Na van, de volta a Sussuapara, cangaceiros, feiticeiros e Minotauro têm muito a ver: são pessoas felizes com o trabalho realizado. Dedé ouve de um: “esse foi o melhor dia da minha vida”, e promete a outro: “você está em meus projetos”. Depois da viagem, Deusimar Barros, que interpreta a Delegada Redonda nos 3 filmes, vai voltar a ser dona de casa e dirigente da Igreja Católica. Por enquanto, na van, é atriz falando sobre os bastidores da produção. Ela diz sobre Dedé: “Se não fosse o sonho dele, nenhum de nós estaria aqui”.
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ENTREVISTA: Dácia Ibiapina
“Toda vez que uma equipe faz um filme, o cinema é reinventado”
A cineasta e professora Dácia Ibiapina diz que a linguagem do cinema está viva e os filmes de Picos são um exemplo dessa vitalidade.
Pesquisando na internet, Dácia Ibiapina encontrou links com trailers e trechos de filmes da numerosa produção audiovisual de Picos e região. Dácia é piauiense, tem familiares em Picos e é professora de Comunicação da Universidade de Brasília – UnB. É cineasta, com curso na Escola de Cinema de Cuba, e pesquisadora do audiovisual. Quando se deparou com os filmes piauienses juntou a vontade de estudar algo que gosta e a busca de se religar a suas memórias. Os filmes de Picos, e muitas questões que vão de produtores a temas e interesses, agora são objeto de estudo do pós-doutorado de Dácia, que nessa etapa tem apoio da Universidade Federal do Piauí – UFPI. Sobre o que tem encontrado em Picos e região, a pesquisadora garante: “Estou aprendendo muito com esses novos parceiros de cinema e de pesquisa”.
Podemos classificar essa produção audiovisual de Picos e região como “cinema”?
Classificar não é um termo que me mobiliza neste momento. Classificar geralmente implica em reduzir, colocar em escaninhos, planilhas do Excel. Não senti esta necessidade. No momento, o que desejo é justamente ampliar as possibilidades da pesquisa. Estamos vivendo uma época em que os conceitos estão ficando pequenos para dar conta de tantas formas diferentes de fazer, de dizer e de expressar as experiências de vida. Cinema é um bom exemplo. Atualmente, existem muitas expressões audiovisuais que são denominadas ou autodenominadas de cinema. Talvez possamos dizer que existem “cinemas” e não apenas cinema. A propósito dos filmes que faço, eu digo que são cinema. Se os colegas de Picos dizem que seus filmes são cinema, quem sou eu para dizer que não? Já pensou se alguém dissesse que nossas universidades não são universidades?
Os filmes têm dificuldades técnicas e estéticas. É justo avaliá-los sob este aspecto?
Eu penso que a avaliação mais importante para um filme e para seus realizadores é a do público. E os filmes de Picos, pelo que me consta, são bem avaliados pelo seu público. As pessoas compram os DVDs, comparecem aos lançamentos, comentam os filmes entre si e com os realizadores. Todo filme tem dificuldades técnicas e estéticas. Toda vez que uma equipe faz um filme o cinema é reinventado. Se não tem desafio, não tem graça fazer e nem mesmo porque fazer. Segundo o teórico e roteirista Jean-Claude Carrière, “uma linguagem viva é uma linguagem onde ainda se pode cometer erros. Uma linguagem perfeita é a que já está morta. Não tem mais o que inventar e muito menos como cometer erros”. A linguagem do cinema está viva e os filmes de Picos são um exemplo dessa vitalidade. Deixo aqui meu protesto contra a ditadura da obra bem feita e declaro meu interesse por um cinema diverso, vivo, acessível a qualquer um que esteja disposto a correr os riscos inerentes a esta forma de expressão.
Por que os filmes fazem sucesso com o público local?
Eu penso que é porque os filmes trazem memórias, histórias, paisagens, corpos, humor, etc, com os quais o público local pode se identificar e se reconhecer. Como ficar indiferente a um filme onde meu vizinho atuou, que foi gravado em minha rua e onde meu carro foi usado na fuga dos bandidos?
Numa cidade sem cinema e sem locadora, com poucas referências no assunto e poucos recursos para este fim, o que você considera que esteja motivando essa produção?
Eu diria que é a paixão pelo cinema e a necessidade de expressão em linguagem audiovisual. O prazer de filmar é maior do que a falta de tradição e de referências. Não posso deixar de notar que muitas referências e ferramentas audiovisuais antes inacessíveis agora estão na TV e na Internet. O Nordeste sempre teve grandes poetas da oralidade, como Patativa do Assaré e Luiz Gonzaga. Talvez tenha chegado a hora dos poetas do audiovisual.
Que tipo de reflexo para a produção local pode acontecer com a chegada de seis salas de cinema nos shoppings que estão sendo construídos?
É difícil prever. E ao mesmo tempo é fácil. Os shoppings são talvez a melhor expressão da sociedade de consumo porque reúnem no mesmo espaço os objetos de desejo de uma gama ampla de consumidores. São iguais em qualquer lugar do mundo, guardadas as devidas proporções: grandes, médios, pequenos. São um bom lugar para comprar, mas também para flanar – no sentido de flâneur – e se refrescar nas tardes de calor. Com o passar do tempo se tornam familiares. São as mesmas lojas, a mesma praça de alimentação, os mesmos brinquedos para as crianças e passam o mesmo tipo de filme. Os feirantes de Picos que se preparem: vão ganhar um concorrente de peso. Que bom que os shoppings estão chegando a Picos. A população local vai adorar. Quanto aos cineastas locais, não muda nada. Seus filmes dificilmente vão passar nos shoppings. O que é uma pena.
(Publicada na edição #18, janeiro/fevereiro de 2015)