Os cenários e conceitos para as artes visuais estão mudando. Acompanhar esses processos exige de artistas, galeristas, curadores e entusiastas, um olhar sobre como posicionar os movimentos artísticos locais em parte de uma rota cada vez maior e mais complexa dentro dos circuitos artísticos. Revestrés quer saber: como tem se constituído o espaço das artes visuais em Teresina?  

“A gente já tem o mais difícil, que é gente que não ganha nada, mas com vontade de fazer”, diz o artista visual Jabuh. Os dedos ainda sujos de tinta evidenciam o ofício de quem decidiu trilhar esse caminho dentro de um mercado ainda incipiente. Desde 2017 Rafael Albuquerque, o Jabuh, se entregou à paixão das artes visuais e tenta compreender como atuar. “A gente tem que entender a dinâmica de como funcionam as artes visuais no Piauí. A demanda por esse tipo de produto é um pouco seleta, é um produto que não é necessidade. Vamos jogar a real: é um luxo”, acrescenta.   

Teresina, então, se encontra em uma fase inicial nessa história? Para a professora e artista visual Elda Ribeiro, no mundo das artes visuais sempre existe a tutela de uma elite econômica e política capaz de impulsionar o meio. “Têm os poetas, os artistas, e então percebemos que, em todos os inícios de grandes momentos culturais, há uma elite que acaba por tutelar esse desenvolvimento. As pessoas começam a se descobrir, estudar, trazer intercâmbios. O que acontece hoje é que existem amarras que não se soltam”, reclama, para depois completar: “Mas elas estão começando a se soltar e estou achando que, nesta década, temos mais pessoas interessadas nas artes”. 

Jabuh fala em dificuldades burocráticas para o fomento das artes visuais na capital piauiense. “Eu já participei de um projeto via Lei Rouanet. É uma lei excelente, que as pessoas deveriam conhecer melhor. Mas, mesmo com ela, tem uma dificuldade para que as coisas aconteçam”. Uma das principais leis de fomento à cultura no país, a Rouanet atualmente passa por críticas e reformulações.  

 “Teresina é uma cidade ainda tímida para a arte. Apesar de termos uma juventude fazendo muita coisa, ainda acho pouco”, frisa o artista visual e escultor Braga Tepi. Ele, que produz há mais de 20 anos, acompanha a construção de espaços e mecanismos de incentivo às artes visuais como algo que “ainda deixa a desejar”, ainda que enxergue uma evolução na recepção do público e no interesse dos jovens em se envolverem na produção do universo artístico. “Com as redes sociais a gente divulga uma exposição e o público vai”, afirma. Na última exposição que ele fez, na galeria do Mercado Velho, centro de Teresina, em parceria com a Piauhy Surreal Group, mais de duas mil pessoas compareceram.   

O interesse momentâneo pelas artes é alvo de críticas por parte do fotógrafo Wolf Sulzer. Austríaco, ele vive em Teresina há cerca de 30 anos e analisa dois comportamentos no público: achar que deve consumir arte visual com preocupação comercial ou frequentar espaços de exposição apenas nos eventos. “Gostaria que as pessoas entrassem na minha galeria sem sentir obrigação de comprar, simplesmente ficar olhando pras minhas fotos, perguntando, questionando. Isso já é muita coisa. Esse hábito não existe em Teresina. Outra coisa: quando um artista lança um trabalho, todos vão à galeria pelo evento, pelo drink, pelo lado social. No dia seguinte ninguém aparece”.  

Wolf mantém uma galeria com fotografias autorais há quatro anos, no centro da cidade. Apesar do aviso na porta de que o espaço é aberto para visitações gratuitas, ele diz que conta nos dedos às vezes em que recebeu turmas de estudantes de artes e pessoas para analisar as obras. Para o fotógrafo, o crescimento econômico de Teresina não significou mudanças profundas no cenário cultural. Ele atribui à falta de hábito por parte do público e a pouca variedade de espaços. “Antes era comum exposições em lojas de decoração e o conceito das galerias é recente. Temos que entender que esses espaços são bons para os artistas mostrarem trabalhos e, quem gosta, poder comprar”.   

“A carência de empresas especializadas na logística para transportar obras também é um problema”, diz Tepi. Muitas vezes o artista tem que se envolver nessa área para conseguir expor seu material com o mínimo de condições. “Ainda está longe de se comparar com grandes exposições como no eixo Rio-São Paulo, por conta da logística profissional que uma exposição requer, e também pelo baixo número de galerias”, compara Tepi, conhecido pelas esculturas à base de ferro, bronze e cobre.  

Outra experiente escultora, Fátima Campos, é enfática ao avaliar os espaços de artes visuais em Teresina: “Não temos locais apropriados para grandes exposições, com boa condição de tudo que se faz necessário para uma mostra. Também é preciso criar programas, com editais e curadorias que primem pelo rigor e pela qualidade das obras e dos artistas escolhidos. O que se tem visto nas mostras costumeiras é uma mistura desordenada de todo tipo de arte, sem o devido cuidado na escolha dos artistas e das obras, como se tudo o que se emoldura e se coloca na parede pudesse ser considerado arte, sem uma avaliação apurada do sentido que se pretende dar à mostra”. 

Completa na Revestrés#44- novembro-dezembro de 2019.

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