Eles se vestem parecidos, têm voz e performances semelhantes e por muitos momentos parecem demais com aqueles artistas que você costuma ver em clipes no Youtube, na tv ou escutar no rádio. Alguns fazem uma espécie de tributo, outros tocam para se aproximar de seus ídolos e, uma outra parcela viu em misturas improváveis (como unir Pink Floyd e Amado Batista dividindo o setlist) um bom negócio surgir. O universo das bandas covers é sempre uma divergência de estilos e opiniões.  

Longe de ser um privilégio regional – em todos os cantos do mundo temos histórias de bandas que fizeram sucesso imitando a fórmula de seus ídolos, seja de Beatles a Daniela Mercury – o fenômeno das bandas covers marcou a música piauiense em diversas épocas – dos anos 1960, com a banda Os Brasinhas e o melhor da jovem guarda, passando pela década de 1990 com Luau e Banda Bali e chegando aos anos 2000, num gap geracional que trouxe de volta o flashback e o melhor do indie rock – como o grupo Último Romance que, como o nome indica, toca Los Hermanos há mais tempo que o próprio grupo que anunciou um hiato em 2007. Os Hermanos piauienses têm 13 anos de estrada e contando. 

Diferenças de estilo, semelhanças nos dilemas – os músicos batalham para encontrar brechas de amplificar o trabalho, buscando estratégias de driblar o grande cerco da comunicação de massa – antes, tinha-se poucos falando e influenciando muitos; agora, são muitos sendo ouvidos e curtidos por poucos. 

Nesta reportagem, Revestrés tenta traçar um panorama histórico das bandas que marcaram época no Piauí, fazendo a ponte entre fãs e ídolos, ainda que genéricos – não é cópia nem imitação, só para esclarecer. Uma versão cover é uma reprodução, motivada por inspiração e, às vezes, pura vontade de tocar/ouvir, nem que seja só por uma noite, os hits que fizeram história. As bandas covers lançaram músicos excelentes e derrubaram barreiras de tempo e espaço: Pink Floyd alcança Teresina sem sair da Inglaterra.   

Já fui uma brasa, mora? 

Em 1966, Os Brasinhas surgiam em Teresina cantando os maiores sucessos da Jovem Guarda, com repertório reunindo clássicos de Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Ronnie Von. Mais de 40 anos depois, a banda resiste interpretando as mesmas músicas do início da carreira. 

O segredo para se manter tanto tempo na ativa, como conta o baterista e vocalista Sydney Almendra, hoje com 73 anos, foi conseguir se reinventar ao longo do tempo, mas sem perder a essência. O pedido foi dos próprios fãs que não aceitam Os Brasinhas tocando estilos musicais como forró, pagode ou sertanejo. “Resistimos com veemência aos novos ritmos. Somos fiéis ao conceito musical e nunca deixamos a nossa índole”, afirma. 

A principal mudança em relação ao início da banda foi a inclusão de algumas músicas das décadas de 1970, 1980 e 1990 no repertório. A adaptação foi influenciada pelo atual guitarrista Flávio Wijama. “A gente via que os jovens sempre queriam ir embora dos nossos shows, então eu pensei em algo para segurar esse público. Passamos a inserir músicas da banda Queen, Pink Floyd, de Cássia Eller e outros artistas atuais. Isso deu mais dinâmica e ritmo ao nosso show, mas o foco continua sendo a Jovem Guarda”, destaca. 

Atualmente a banda conta com sete integrantes, mas apenas Sydney se mantém desde a fundação. “O único responsável pelos Brasinhas existirem até hoje sou eu. Tomei como uma coisa do meu coração, a minha paixão. A música preenche todos os meus sentimentos”, diz com a voz cortada pela emoção. 

O esforço de Sydney tem sido recompensado. São em média 12 shows por mês; uma frequência melhor do que a do início da carreira, segundo ele. “Naquela época, o mercado era limitado. Tinha poucos clubes e associações e a dificuldade para ir ao interior do Piauí era maior”, conta. 

Os shows aconteciam geralmente em clubes e casas de shows, como Clube dos Diários, Jockey Clube, Clube do Marquês e algumas cidades do interior do Piauí e também no Maranhão. Agora, Os Brasinhas viajam mais e tocam em buffets, festejos de igrejas e festas particulares. Há 16 anos também é possível encontrá-los no Clube dos Professores, sempre na primeira sexta-feira de cada mês. “Entra e sai diretoria do Sinte (Sindicato dos Trabalhadores em Educação), mas a gente continua lá com esse contrato”, comemora Sydney. 

Tanto sucesso nem era intenção dos jovens que iniciaram a banda na década de 1960. Os fãs de Roberto Carlos queriam apenas se divertir, como lembra Sydney. “A gente queria ser artista e ter fama, mas sem se preocupar em se profissionalizar. Isso aconteceu porque a demanda nos obrigou”. 

Os ensaios aconteciam na casa do pai de Sydney, na região central de Teresina. O nome Os Brasinhas, nos conta Sydney, foi dado por estudantes. “Na época, tudo o que se dizia e se vestia era influência do Roberto Carlos”, relembra. “Ele falava ‘é uma brasa, mora’. As moças viam a gente tocando – meninos novos e bonitos – e diziam que a gente era os brasinhas, então o nome ficou”, recorda com saudosismo.  

Para este ano, a banda que animou várias gerações tocando apenas músicas de outros artistas, planeja gravar um disco com canções autorais pela primeira vez. As músicas no estilo pop e rock são compostas por Flávio Wijama e também por outros compositores piauienses. Mas Sydney se apressa em avisar: “Vai ser um disco mesclado com os sucessos que a gente já canta nos shows”. 

 Os inimagináveis 

Quem viveu em Teresina no início da década de 1990 certamente ouviu músicas de Pink Floyd misturadas com Amado Batista. A junção inusitada era uma das muitas feitas pela Banda Luau, sucesso naquela época.  

Quem relembra os tempos áureos é Marcelo Leonardo, o primeiro guitarrista da formação original. Ele comandava a banda junto com o tecladista Marco Veloso (que depois empresariou também as bandas Bali e Top Gun, e morreu no ano passado vítima de um AVC). “Começou como um trio. Era eu, Marquinhos e Franklin Almeida. Depois a banda foi crescendo e entraram Machado Júnior (baixo), Flávio de Castro (voz e guitarra) e Luciana Nunes (vocalista)”.  

Mesmo com músicas autorais, o sucesso da Banda Luau era garantido pelas interpretações que faziam de outros artistas. “Tocávamos todos os inimagináveis. Adorávamos justamente criar surpresas. Pegamos bastante aquela época do auge do axé. Houve uma certa hegemonia nossa aqui em Teresina”, atesta Marcelo. 

A opção pelo cover, segundo Marcelo, foi uma estratégia para se inserir no mercado. “A princípio é mais rentável do que fazer autoral. Depois você ganha nome e fica melhor de mostrar algo seu”, avalia.  

O primeiro LP da Luau, com composições próprias, foi gravado entre 1993 e 1994, um ano antes da banda acabar. “Em 1995, eu me formei como advogado e não tinha mais interesse em continuar tocando na noite. O Marquinhos, que já tinha uma empresa, disse que sairia junto comigo. Deixamos a banda que nós mesmos criamos”, relata Marcelo. A Luau permaneceu durante algum tempo, mas depois os integrantes seguiram caminhos diferentes.  

Fora da Luau, Marcelo e Marco decidiram ser empresários da música e montaram a Banda Bali. O grupo de grande sucesso no Piauí teve a cantora Lilly Araújo como vocalista. “Ganhamos muito capital de relacionamentos com a Luau e não queríamos perder isso, mas na Bali a gente era só administrador”, ressalta Marcelo. Ele e a vocalista acabaram casando-se, levando a parceria dos palcos para a vida.  

Em 14 anos, a Banda Bali gravou cinco CDs e três DVDs, que incluíam composições da vocalista – o repertório mesclava sucessos nacionais com músicas autorais, compostas por Lilly. Sucessos como Não Vou Negar, Bad Boy e Ainda Te Amo permanecem na memória de quem ia às festas promovidas em espaços como o Mais Um, casa de shows que atraía grande público no início dos anos 2000 na zona Leste.  

“Era um mercado totalmente diferente de hoje”, relembra Lilly Araújo. “A gente dominava Teresina e não deixava nada a desejar em relação à estrutura, qualidade musical e músicas próprias. Fazíamos show com cover, aproveitando o auge do axé, mas tínhamos as nossas autorais. Isso foi essencial”, defende a cantora. 

Lilly deixou o grupo em 2009 para seguir carreira solo, mas até hoje tem que incluir no seu repertório as músicas daquela época. “Isso é uma coisa que me assusta. Não tem uma vez que eu subi no palco, nos últimos nove anos, em que o primeiro pedido não fosse Banda Bali. Qualquer artista no meu segmento canta as músicas do Safadão, que fazem sucesso atualmente, mas a Bali só quem faz sou eu”, afirma com orgulho. 

Por escolha própria, a artista agora se dedica a um outro projeto musical, que permite a ela cuidar dos filhos e conciliar a carreira. “Agora eu posso escolher quando e onde eu toco. Antes eu vivia para a Banda Bali e não tinha como me recusar a viajar e a fazer shows. Aquilo foi se tornando um peso para mim”, conta. 

Atualmente, Lilly ainda grava músicas autorais, mas compostas por outras pessoas. “Compor exige inspiração e agora eu tenho uma rotina de mãe. Preciso me dividir em mil, mas conto com parceiros e compositores a quem recorro quando vou lançar uma música”, afirma e anuncia: “Vem novidade depois da Copa. Música nova e clipe novo”. 

 Do lado oposto 

O ano era 2005 e um grupo de amigos jovens, cheios de disposição e completamente arrebatados pelo som do Ventura (na época, o CD mais novo da banda Los Hermanos) resolveu reunir-se para tirar um som. O primeiro show, com a pretensão apenas de tocar o que gostavam, foi num inferninho no centro de Teresina: “Uma festa indie que a gente pensava que não ia ninguém”, relembra Rigoberto, um dos vocalistas e guitarrista da banda. “O som era péssimo e todo o mundo gritou todo o show”, recorda. “A gente ficou de queixo no chão”. 

A surpresa é que a Último Romance, banda cover de Los Hermanos, surgiu sem maiores intenções naquela época e virou uma das bandas com maior longevidade na noite piauiense – e não só aqui, a UR soma mais de mil shows na rota de Fortaleza, São Luís e outras capitais.  

Da formação original estão Rigoberto e Diego (baterista). Freitas Ts entrou depois – ele toca guitarra e reveza os vocais com Rigoberto, e ter a dupla no palco é o mais próximo de Marcelo Camelo e Amarante que conseguimos chegar atualmente – o quarteto carioca anunciou um hiato em 2007, que dura até os dias de hoje.  

A Último Romance também passou por seu período sabático – só que nem tanto, já que todos os integrantes têm projetos autorais paralelos ao grupo cover. “Teve um tempo em que as pessoas queriam tanto a banda que começamos a variar o repertório e tocar música de baile”, conta Rigoberto. “Foi o período de maior estresse”, lembra. “Era muito show e a gente tinha entrado no circuitão: barzinho, restaurante, pubs”. alguns integrantes afastaram-se e a banda acabou perdendo seus “originais”. 

Hoje, os hermanos piauienses encontram-se esporadicamente em propostas de shows que julgam pertinentes – palco bacana, evento legal e público condizente. “Desde 2017 os pedidos de shows não param. Negamos quase todos, um ou outro vale a pena. Fizemos só dois esse ano e tem proposta para São Luís e Codó, e mais dois marcados pra dezembro”, explica Rigoberto. 

Em 13 anos juntos, os músicos viram muita coisa mudar na cidade – inclusive o perfil do público e o cenário da noite. “O público mudou bastante”, analisa Freitas. “É comum encontrarmos hoje pessoas que andavam nos shows que fazíamos no Churu, Raízes, Boemia e hoje estão casadas, com filhos, morando fora”, observa o cantor. No reencontro da banda há dois anos, surpreendeu uma plateia marcada por uma nova geração. “Foi incrível o número de jovens com pouco mais de 18 anos que jamais tinham ido a um show nosso e eram fãs de Los Hermanos mas nunca tinham tido a oportunidade de ouvir a banda original ao vivo”.  

O clima no palco é sempre de encontro de amigos. “Às vezes, ouso dizer, nos divertimos mais que o público, tirando sarro um do outro, lembrando de histórias antigas de viagens”, diz Diego Alencar, baterista. Apesar da sintonia, nem tudo é sempre flores. “Claro que já teve desentendimento. Quem fica num relacionamento 13 anos sem brigar?”, provoca. “Mas agora é só paz: ‘pra nós, todo amor do mundo’”. 

 Trilha sonora 

O flashback internacional é o fator em comum na playlist dos músicos que compõe a banda Top Gun, que há sete anos embala festas para os mais saudosos, os cinéfilos e os fãs de love song internacional.  

“A banda me chamou muita atenção porque os músicos eram muito compromissados, responsáveis, isso era raro”, conta Luana Campos, vocalista da banda. Ela, que vem de uma formação de canto lírico, emprestou sua voz para o pop em clássicos como Voyage, Voyage, The Time Of My Life, Dancing Queen e outros. 

“O perfil do público da Top Gun era quem viveu adolescência nos anos 1980, pessoas de trinta e poucos anos”, diz a cantora. “Mas isso se expandiu e foi muito legal, a gente vê pessoas de todas as idades”. A banda tem mais de 20 mil seguidores no Instagram e em 2016 gravou um DVD, com registro do seu show ao vivo. 

Na opinião de Luana, o sucesso das bandas covers não tem necessariamente a ver com o acesso mais difícil aos artistas originais. “As pessoas gostam de ouvir o que conhecem, dá pra interagir mais, cantar junto, enquanto que ouvir uma música desconhecida termina sendo muito unilateral”, defende ela, que considera um trabalho árduo viver de música autoral em Teresina. “Bandas e compositores locais não têm muito acesso à massificação de suas músicas, porque isso é por novela, filmes, e aqui a gente só tem as redes sociais e as rádios”, avalia. “As pessoas querem ouvir coisas que marcaram a vida, seja dos anos 1980, ou uma música lançada duas semanas atrás e que já marcou”. 

 Toque como uma garota 

Nos anos 2000, os fãs de Black Sabbath lotavam os inferninhos da cidade para ouvir o melhor do heavy metal britânico. Em cima do palco, quem fazia às vezes de Ozzy Osbourne, Geezer Butler e Bil Ward eram quatro garotas: Lysianne, Florisa, Jeane e Isis. 

Lysianne e Florisa se conheceram no colégio – chegaram, na época, a tocar na mesma banda em períodos diferentes, a banda Valkíria, também formada só por mulheres. A carreira de Florisa como baterista começou e acabou ali: ela mudou para a guitarra e tocou em algumas bandas de punk rock, alternando sempre com teclado.  

Na mesma época em que começou a ouvir doom metal e curtir, especialmente, o som do Black Sabbath, Florisa conheceu Jeane e Isis – a primeira vocalista da Evil Woman. “Eu, Jeane e Isis tínhamos uma banda chamada Drink My Tears e tocávamos The Gathering”, recorda Florisa. “Então, a Lili teve a ideia de montar a Evil Woman”, completa. “Foi a experiência mais legal da minha vida”. 

A Evil Woman fez o primeiro show em junho de 2000, na festa “Quinta dos Infernos”, em plena Universidade Federal do Piauí – era metal dos bons para estudantes que batiam cabelo com outras bandas como Hipnose e Johnny Bravo. No dia seguinte, o grupo já tinha contrato para o segundo show, em uma festa chamada “Bagaceira Rock Festival III”. 

No repertório das garotas, Black Sabbath em peso – o set list era dos clássicos como Sabbath Bloody Sabbath, N.I.B., Iron Man, Sympthon of Universe, Under the Sun, e, é claro, a música homônima, Evil Woman. 

Depois de Isis Werneck, Eldima assumiu os vocais e a banda seguiu com Florisa Gessle (baixo), Lysianne Reis (guitarra) e Jeane Doo (batera). Juntaram-se às artistas, a produtora Marcelle Luz. “Ela era bem severa quanto a pagamentos e como seríamos tratadas”, aponta Florisa. “Não éramos somente amigas de banda, éramos uma banda de amigas”, relembra.  

A Evil Woman encerrou com a ida de Jeane para o Canadá. Florisa continuou tocando na banda EverDown, que conciliava com a Evil – foi a última banda com a qual tocou ao vivo.  

Em 2012, ela também se mudou para a Alemanha, onde mora até hoje e trabalha como front-end web dev e finaliza a faculdade de computação. Florisa trocou a música pelo esporte: é hoje jogadora de handebol no time oficial da cidade onde mora. “Ano passado, vendi minha guitarra porque acho muito triste ver um instrumento parado”, contou em entrevista à Revestrés. “Ainda tenho contato com as meninas, o grande problema é nos encontrarmos já que cada uma mora agora em um país diferente”.  

 Exigentes e excelentes 

Os integrantes da banda Cojobas não saem de casa para fazer um show qualquer. Se o espaço não oferecer condições excelentes de som, luz e palco, eles se dão ao direito de negar o convite. 

Talvez por isso, Ostiga Jr. (vocal e baixo), Marco Pires e Marcelo Leonardo (guitarrras), Mário Pinheiro e Vinicius Rufino (teclados), Cláudio Hammer e Fábio Fortes (bateria e percussão) sempre conseguem lotar os espaços onde se apresentam, apenas duas ou três vezes por ano. 

A história da banda começa em 2001, quando alguns amigos se reuniam para tocar rock and roll de forma despretensiosa, na casa de outros amigos. O grupo foi crescendo e, em 2008, realizou seu primeiro grande evento, o show “Cojobas Plays Pink Floyd”. 

No fim do mesmo ano, a banda produziu o “Cojobas Plays The Beatles”. “De lá para cá, temos sido imensamente gratos pela presença do público em nossas loucuras”, diz o músico Ostiga Jr. 

Marco analisa que o mercado para as bandas de rock em Teresina está muito restrito, por isso a banda prioriza fazer menos shows. “O que existe são restaurantes, que limitam o tamanho da banda a um trio ou, no máximo, quatro pessoas”, observa. “Preferimos eventos produzidos por nós ou eventos que ofereçam condições que julguemos adequadas à nossa proposta”, afirma. 

Ostiga Jr. também é enfático ao defender que um show de rock deve ser mais do que uma apresentação musical, mas uma experiência audiovisual que instigue a plateia. “Fazemos assim por acreditar que produzir nossos shows nos dá mais liberdade para utilizar recursos técnicos”, afirma o cantor. “Traduzindo: gostamos de apimentar os palcos com muita iluminação, bom som e painéis de LED”, comenta. 

A Cojobas band interpreta músicas de outros artistas, mas já lançou um EP em 2016 com três faixas autorais – Senescence, From The Stars e Clean The Mess – disponíveis nas principais plataformas de streaming do mercado. “Particularmente, vejo o cover como uma forma natural de um músico ou uma banda se fazerem visíveis e delinearem suas linhas de atuação”, defende o músico. O trabalho autoral, acredita, vem com o tempo e a estrada, que ele considera grandes professores. “Se essa for a intenção, o artista desenvolverá, como que instintivamente, seu próprio material, seguindo aquilo que sempre o influenciou”, diz. A banda Cojobas promete o lançamento de um novo EP ainda este ano.  

 É pra tocar no rádio streaming? 

As bandas citadas aqui têm como semelhança em suas histórias o fato de serem frutos da união de artistas com gostos musicais em comum. Algumas se profissionalizaram, seguiram carreira e gravaram discos, outras seguiram no circuito barzinho, mas todas, em algum momento, passaram por dilemas parecidos entre conquistar público e fazer seu nome na noite teresinense em épocas distintas. 

“Cover é um caminho que serve meio que como paliativo, uma amostra para quem está nesse eixo da ponta do país, com passagem cara, ingresso caro para shows que você quer assistir”, aponta o músico Rigoberto Lima, que também lidera a banda Gramophone, de músicas autorais. “Acho bobo e datado ficar criticando banda cover. Tenho os dois projetos e cada um tem suas dificuldades e limitações específicas”.  

Para Freitas, que paralela a Último Romance também toca em outros projetos como La Folie e Magnólia, a discussão entre cover e autoral não tem distinção geográfica. “Cover é bem mais fácil de ser vendido em qualquer lugar do mundo”, observa. “Pega Vanguart lá, em São Paulo, e eles fazem cover de Beatles na Augusta, por exemplo”.  O músico, assim como Luana Campos, concorda que o rádio continua sendo veículo massificador de hits – e que as pessoas querem ouvir o que escutam ali. “O sertanejo está uma febre em todo o país, e é como se a gente estivesse no local mais complicado de trabalhar outra proposta”.  

No cenário do rock, Diego Alencar avalia a possibilidade que os aplicativos de streaming trouxeram para buscar bandas novas e conhecer novos sons. “A facilidade do Spotify é maravilhosa, eu ouço disco de uma banda de hard rock sueca no dia seguinte que ela lançou”, comenta o baterista. “Mas aí dificulta a formação do gosto musical do pessoal mais novo, que é bombardeado por um bilhão de músicas ao mesmo tempo, e termina gostando pouco de muita coisa”. Isso explica o fato de que, para ele, as últimas bandas de rock apareceram em meados dos anos 1990. “Infelizmente, só o que se destacou lá atrás permanece no mainstream – e parece que banda nenhuma consegue chegar lá de novo”.

(Reportagem publicada na Revestrés#36-maio-junho de 2018).