Um mar de gente na ponta da areia com a pele amarelada de pôr-do-sol. O som de rock misturando-se com o vento e anunciando com leveza o fim do dia na capital piauiense, enquanto outras tantas pessoas desafiavam o b-r-o-bró característico daquele período do ano com um mergulho certeiro no rio. Quem não presenciou, poderia jurar que jamais teria acontecido. Mas, durante quase dez anos, o Rio Parnaíba foi palco de momentos únicos como esses e a cena descrita era comum para quem viveu Teresina na década de 80 e início de 90.

A ideia era realmente inusitada: abrir um bar com shows e atividades variadas no meio do rio. Não se poderia acreditar que seria possível montar uma estrutura em uma coroa de rio que contasse com tantos atrativos: banhos de água doce, jogos esportivos na areia, realização de luaus, festivais e um palco para apresentações musicais. Mas, determinado, o então estudante de educação física Valter Morais, o Nêgo Valter, resolveu arriscar e fez surgir o “Voley Bar”. Em uma época que a cidade pouco ofertava opções de lazer que reunissem todas as classes sociais, as coroas do rio foram literalmente ocupadas.

Foto: Acervo Alexander Galvão

Foto: Acervo Alexander Galvão

Para colocar a ideia em prática, Nêgo Valter contou com a ajuda de seus amigos Eduardo Pereira, o “Zecão”, e os irmãos César e Dogno Içaiano. O bar funcionava somente em temporadas, geralmente de maio a dezembro, quando as coroas do rio surgiam. Em seu auge, recebia quase 5 mil pessoas num só domingo, segundo um de seus organizadores e jornais da época. Como o próprio Nêgo Valter afirmava, “o Voley Bar não era mar, mas rolava altas ondas”.

O aparecimento do Voley Bar e suas atividades inovadoras acabou dando um novo significado aos momentos de lazer dos teresinenses e timonenses e tornou-se um marco para a época. A coroa do Rio Parnaíba era o ponto democrático de encontro, principalmente para quem era da área cultural. “Para eles, servia como referência, era um local para sentar, compor música, ensaiar, fazer reuniões. Ele virou uma extensão do complexo do Theatro 4 de Setembro”, relembra o fotógrafo e documentarista Alexander Galvão, que frequentava o local com a família desde a infância e, quando mais velho, passou também a ajudar na organização. Para quem participava dos encontros, o contato com a natureza, o mergulho de água doce, a visão do céu sem interrupção, todos esses elementos reunidos e tão próximos, criavam uma aura mágica no local.

Mas as boas sensações e agitações começavam bem antes, já na expectativa da chegada da embarcação. Era preciso pegar um barco ou uma canoa para chegar ao Voley Bar, que eram disponibilizados de acordo com a quantidade de pessoas que seriam transportadas. “Durante a semana a gente usava uma canoa e, no final de semana, ficavam duas barcas levando o pessoal”, explica Galvão. A espera na beira do rio aumentava a ansiedade daqueles que, quem sabe, ficariam o dia inteiro até depois do entardecer no único “pedaço de mar” localizado na única capital do Nordeste que não tem praia.

(Reportagem completa na Revestrés#32 – Agosto/Setembro 2017)