Na edição anterior, a Revestrés publicou o Dossiê Cultura, uma pesquisa de opinião que trouxe dados sintomáticos sobre o consumo de cultura em Teresina. Entre os resultados apresentados, 95% das pessoas afirmaram não conhecer nenhum cineasta piauiense, 82% não vão ao teatro e 88% não conhece um dançarino piauiense sequer.

Em parceria com o Instituto Amostragem, foram entrevistadas 300 pessoas no mês de abril, em bairros das zonas norte, sul, leste, sudeste e centro. As entrevistas foram presenciais e domiciliares realizadas com pessoas de, no mínimo, 15 anos de idade. Uma amostragem não-aleatória por cotas de sexo, faixa-etária e classe econômica, por exigência da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa – ABEP, órgão responsável por ditar estes critérios.

A continuação da pesquisa mostra agora que o reconhecimento popular parece estar mais presente no imaginário coletivo. Como por exemplo, na gastronomia. Entre as comidas típicas considerada mais representativa do Piauí estão a Maria Isabel, Baião de Dois e Carne de Sol, com 33%, 24,33% e 11%, respectivamente. Por outro lado, comidas como Panelada, Paçoca, Sarapatel e Capote ocupam porcentagens entre 1% e 4% das respostas, ao passo em que 5% das pessoas disseram não saber ou não quiseram opinar.

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No desdobramento do Dossiê Cultura, também vêm à tona dados sobre os espaços arquitetônicos de Teresina, manifestações folclóricas mais representativas do Piauí e, ainda, conferimos se as pessoas conheciam as personalidades marcantes da cultura do estado, como Torquato Neto.

Para o Secretário de Cultura do Estado, Fábio Novo, a cultura é muito diversa e um dos desafios da recém-criada Secult é garantir o acesso à cultura em diferentes frentes. “Se a Secretaria consegue dar vida aos espaços que ela já tem, dá pra você democratizar e fazer com que esses números aos poucos vão se invertendo”, diz o secretário, referindo-se aos dados publicados na edição anterior. Ele defende o desenvolvimento de um plano, um sistema e um fundo de cultura e garante que haverá perspectiva para um novo orçamento em 2016, recursos que serão utilizados por meio de editais específicos para cada área cultural.

Na busca de aproximação federal por parte do estado, recentemente, o ministro da cultura, Juca Ferreira e secretários do Ministério da Cultura-Minc estiveram no Piauí. “Minha presença aqui é a manifestação do desejo de fortalecer a relação com o Piauí”, declarou o ministro.

Secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do MinC, Ivana Bentes comentou a relevância da diversidade cultural e a necessidade de dar visibilidade a diferentes manifestações e fomentar políticas de diversidade. “Hoje, o circuito cultural é muito voltado para a ideia do artista tradicional ou quem produz para a indústria da cultura, então, outra experiência de cultura é decisiva para você realmente falar de diversidade”.

Para além das tentativas institucionais, Antônio de Noronha Pessoa Filho propõe uma visão criteriosa sobre cultura: “Por onde as pessoas vão saber da cultural local, quando hoje a cultura é de eventos?”, questiona o médico pediatra, terapeuta sexual, produtor de vários filmes de Torquato Neto, além de acompanhar a cena de cultura local desde os anos 70.

Para Noronha, o desconhecimento da produção artística local revelada na primeira parte do Dossiê Cultura denuncia o desinteresse geral por compreender processos nos quais a cultura está inserida. “Todo lugar em Teresina você vai encontrar focos culturais e tradicionais, mas o que existe hoje é visão elitizada e cultura de eventos”, denuncia.

Além disso, Noronha destaca que, entre os empecilhos está a logística econômica no qual os processos culturais acabam submetidos. “Na medida em que entra a dominação econômica, entra a dominação ideológica porque você anula a cultura local e investe na cultura padronizada. A implicação disso é a alienação e a perda de referência cultural. Se você não tem referência, não é sujeito, você é objeto de manipulação. Então, existe toda uma ideologia de dominação para preservar o conformismo e a não criatividade”, reflete.

Doutor em Comunicação e Semiótica, Feliciano Bezerra defende que uma real democratização cultural não deve se apoiar apenas na noção de serviços culturais. “É preciso criar condições para que as práticas culturais da comunidade sejam duradouras, tanto no consumo quanto na produção”.

Além disso, argumenta que a colaboração governamental está na descentralização e ações de incremento dos equipamentos culturais, por meio de leis mais acessíveis e democráticas. “O Estado tem que reagir no atendimento das demandas culturais e sociais da comunidade”, diz o professor.

Para Feliciano, apesar de entender que a cultura pode ser um empreendimento lucrativo por parte da iniciativa privada, é necessário tratá-la criteriosamente. “Embora o mecenato para iniciativas culturais deva ter um qualificativo diferenciado, não deixa de gerar um produto de mercado, com o acréscimo de que cultura é um bem imperecível. O desafio é justamente ampliar e comprometer a lógica do consumo a critérios mais arrojados e críticos, do ponto de vista estético e de difusão cultural”, completa Feliciano Bezerra.

Para tentar compreender esses dilemas conversamos com professores, produtores e artistas para continuar sugerindo o exercício da reflexão. Ao invés de respostas, trouxemos mais algumas considerações. Afinal, quem está interessado em verdades irredutíveis?

Manifestações Folclóricas

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Existe uma manifestação folclórica que mais representa o Piauí? De acordo com o professor Gustavo Said, doutor em Comunicação, existe apenas uma certeza: não há como responder qual elemento seria o mais marcante da nossa identidade. “Cada lugar tem sua singularidade, que lhe diferencia de outros lugares, mas quando se pensa em identidade o grande erro está em tratá-la de maneira homogênea”, diz Gustavo Said.

Revestrés perguntou: Qual é a manifestação folclórica mais representativa do Piauí? 24,67% responderam Bumba Meu Boi, 22% citaram Festa Junina/Quadrilha e 14,33% elegeram o Cabeça de Cuia. Reisado, Cavalo Piancó e Batalha do Jenipapo aparecem com porcentagens próximas a 1%, cada, sendo esta última um acontecimento histórico. Enquanto isso, 36,67% não soubem ou não quiser opinar. 

“Se considerarmos a pesquisa feita pela Revestrés, o dado mais interessante não é o percentual de 24,67% que apontaram o Bumba Meu Boi como o elemento central de nossa identidade, mas o fato de 36,67% afirmarem que não sabem responder ou não tem opinião sobre isso, o que corrobora a dificuldade de definir a identidade num mundo tão fragmentado, multifacetado e diversificado”, analisa o professor.

Influenciadas pela literatura, artes e meios de comunicação, de acordo com Gustavo Said, é comum que as pessoas mencionem sempre as tradições e o folclore. O pesquisador também destaca as relações de poder que essas manifestações podem estar inseridas. “As tradições, folclóricas ou não, também são inventadas e podem servir a grupos dominantes. É preciso analisá-las criticamente, para não cair na ingenuidade de defendê-las apenas porque são ‘coisa nossa’”, ressalta. 

Um estado com 251.529 km², mais de 200 municípios, é difícil pensar em uma manifestação folclórica que represente todo esse território. “Para garantir cidadania a todos os grupos, não podemos excluir uma ou outra manifestação. Um projeto coletivo de identidade deve possibilitar que todos os elementos possam ser valorizados e legitimados. Quando se elege um ou outro elemento como traço identificador de uma cultura, corre-se o risco de deixar muita coisa de fora”, destaca o pesquisador.  

“Nas últimas décadas, o Piauí, que era o ponto cego da historiografia e das mídias nacionais, virou a bola da vez. Parece que o mercado cultural e turístico, por conta da saturação dos seus conteúdos, descobriu, enfim, o Piauí. Essa é nossa hora”, completa. 

Para o secretário de Cultura do Estado, Fábio Novo, a implantação e desenvolvimento dos Pontos de Cultura são fundamentais para manter as manifestações folclóricas em atividade. “São 80 pontos de cultura, que focam manifestações da cultura popular. São micro-organismos que chegam aos lugares mais distantes para manter vivas essas produções”, diz Fábio Novo sobre os pontos de cultura que, na prática, devem funcionar como entidades ou coletivos culturais certificados pelo MinC com mediação de cada estado, a partir da realização de novos editais lançados pelo MinC. 

Mestre Severo, líder do tradicional grupo Reisado do Piauí, em atividade há mais de cem anos, considera que o apoio governamental é peça fundamental para que a cultura desempenhe seu papel. “Alguns promoventes das manifestações folclóricas desistiram e outros morreram. É difícil depender do governo que, quando não acompanha, promove a falência da cultura. Quando o governo não entrega os repasses em tempo satisfatório, os grupos vão desativando e diminuindo a frequência das atividades”, diz Severo de Sousa Barros, aos 79 anos, com mais de 60 investidos na cultura popular. 

Manifestação cultural religiosa que relembra a trajetória dos Três Reis Magos no catolicismo, o reisado foi citado na pesquisa Revestrés/Amostragem com 1,67% das respostas. “A importância do reisado é a tradição religiosa”, diz Severo. Por sua dedicação às artes folclóricas, Mestre Severo já foi reconhecido pelo Ministério da Cultura-MinC e comenta sobre um dos empecilhos que dificulta a realização das atividades culturais. “Quem impede a cultura é a burocracia”, completa.

Com trabalhos que circularam pelo mundo, o coreógrafo Marcelo Evelin reconhece a importância de preservar qualquer tipo de manifestação folclórica. “Isso é fundamento da nossa organização social e patrimônio imaterial e temos que saber pensar para que esse ‘preservar’ não se torne uma mumificação, um enrijecimento, transformando a cultura em um fóssil”.

No entanto, Marcelo Evelin também é incisivo e critica a existência de um circuito comercial: “Eu sinto que o que se chama de cultura local, hoje, se comercializou, virou camarote de cerveja e palanque para propaganda política, perdendo totalmente o sentido comunitário intrínseco e, o que vem sendo produzido como cultura contemporânea local, fica sujeito a programas de apoio instáveis que, por exemplo, no Piauí, ainda são raquíticos e quase inexistentes”, destaca. 

Temos que saber pensar para que esse ‘preservar’ não se torne uma mumificação, um enrijecimento, transformando a cultura em um fóssil. – Marcelo Evelin, coreógrafo

Evelin entende que é importante a atuação governamental diante da cultura, no entanto, alerta para as formas de apoio que existem. “Eu acho importante que os governos façam o que puderem pela cultura, mas o contexto desses eventos está velho e equivocado, sem nenhum pensamento crítico ou curatorial”, diz o coreógrafo.

“Não existem planos e programas de apoio e disseminação ou iniciativas que estimulem essa arte que emerge no Piauí de hoje, que pode não ser vista como folclórica, mas surge com a mesma força que um dia surgiu o Boi da Matinha ou o Reisado do Mestre Severo. O governo precisa parar de tratar a cultura como tesouro do passado ou santo de altar, e encará-la como processo da nossa história em curso”, continua. 

Autor de Bull Dancing (2006) e Matadouro (2010), obras com referências regionais, Marcelo Evelin coloca que é natural que essas manifestações e ícones tenham surgido em seu trabalho. “Sempre fizeram parte de quem eu sou, mas são trazidas ao presente não como maneira de legitimar a história já feita, mas como tentativa de escancarar possibilidades para que a história seja reconstruída e não como repetição de uma história fadada”, declara. “Não sou piauiense de carteirinha e crachá, mas tenho um orgulho danado de ser daí”, completa Evelin, que nos respondeu da Holanda. 

Espaços Arquitetônicos

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Ao nos depararmos com Teresina nos seus 163 anos, encontramos uma cidade que cresceu e, em meio ao avanço natural, há prédios que resistem ao tempo e ao seu crescimento. E como saber o que mais representa seu patrimônio arquitetônico? A pesquisa de cultura Revestrés/Amostragem perguntou que espaço arquitetônico melhor representa Teresina.

As opiniões foram as mais variadas e merecem considerações. Em primeiro lugar na pesquisa, está a Ponte Estaiada, com 17%. Hoje, na capital, o espaço é um dos mais visitados pelos turistas. Sua arquitetura dispõe de elevador panorâmico de 90 metros de altura que, apesar de receber tantos visitantes, passou mais de um ano sem funcionar. A Ponte Estaiada tem sido um ponto de encontro, concentrando o público nos mais diversos eventos, entre eles o Corso do Zé Pereira, Parada da Diversidade e campanhas de saúde como o Outubro Rosa e Novembro Azul.

Para o arquiteto Paulo Vasconcellos tanta visibilidade em um dos cartões postais da capital, hoje, é explicada pela seguinte razão: “O centro de gravidade da cidade, ou seja, o centro de interesse dos seus moradores, está cada vez mais voltado para zona leste, na região dos shoppings. Isto explica, em parte, a opção da maioria, sobretudo, entre os mais jovens”, diz.

Por outro lado, o Parque Potycabana, reinaugurado em 2013 após muitos anos desativado, também espaço de grande movimentação de pessoas com localização na zona leste, ficou em terceiro lugar com 5% das respostas. Enquanto isso, prédios históricos para a memória da cidade, como a Igreja São Benedito e o Theatro 4 de Setembro, ambos construídos no século XIX, foram lembrados por apenas 4% e 8% das pessoas, respectivamente.

Uma comunidade com pouco tempo de história e pouco tempo de urbanização, tende ao deslumbre da novidade e relega ou mesmo desconhece, suas raízes históricas e sua identidade cultural. – Paulo Vasconcellos, arquiteto

Para Vasconcellos, essas referências arquitetônicas são relegadas pelo pouco conhecimento e também pela pouca importância que o patrimônio histórico e artístico desperta nas pessoas de um modo geral. “Outro aspecto que deve ser considerado é relacionado à linguagem contemporânea e monumental, que tende a ser mais representativa no olhar de uma comunidade com pouco tempo de história e pouco tempo de urbanização, que tende ao deslumbre da novidade e relega ou mesmo desconhece suas raízes históricas e sua identidade cultural”.

Já Patrícia Mendes, da Divisão de Patrimônio da secretaria estadual de Cultura do Piauí, acha que é preciso que haja uma mudança cultural que passa pela educação. “Não nos identificamos com o que é nosso, da nossa terra, da nossa raiz. Não dizemos com todas as letras: somos piauienses. A educação básica não inclui disciplinas como história e geografia do Piauí na grade curricular. Nas universidades e faculdades também é ainda pouco explorado”, diz a arquiteta que ressalta a importância da valorização do espaço público e da memória da cidade, que atravessa esses monumentos arquitetônicos, reconhecidos parcialmente na pesquisa.

Patrícia Mendes acredita que valorizar o que de fato é importante na memória de um lugar é o primeiro passo para não deixar a história de Teresina esquecida e fazer com que monumentos de grande importância do seu passado sejam valorizados.

Alguns entrevistados ainda citaram os Shoppings como monumentos arquitetônicos representativos, com a porcentagem de 1,67% e o Atlantic City, parque aquático e local de shows e eventos com 1,3%. A resposta Outros foi representada por 14,97%, enquanto as pessoas que não souberam ou não quiseram opinar aparecem com a parcela de quase metade das respostas, 40%.

Você conhece?

Se alguém perguntasse o que Da Costa e Silva, Torquato Neto, O.G. Rego de Carvalho e Carlos Castello Branco têm em comum, algumas pessoas certamente diriam que são piauienses. Outras, talvez a maioria, sequer saberiam responder. É que os dois poetas, o escritor e o jornalista, respectivamente, estão unidos pelo esquecimento.

Sim, é verdade que os piauienses acima se tornaram referência nacional, são lembrados pelo mundo afora, têm obras publicadas, viraram objetos de estudo ou de biografias, porém existe algo a mais em comum entre eles: são ignorados pelos seus conterrâneos.

Na segunda parte do Dossiê Cultura, a pesquisa Revestrés/Amostragem quis descobrir se os piauienses conheciam algumas personalidades importantes do Estado. E a resposta à pergunta “quem é…?” na maioria das vezes foi “não sei”.

A personalidade mais lembrada foi a cantora e compositora Maria da Inglaterra, com 49% das respostas. Por outro lado, 48% disseram que não conheciam a artista piauiense. Alguns ainda fizeram referência a ela como sanfoneira e até dançarina.

Entre os quatro já citados, Torquato Neto é o mais lembrado: 23,33% dos entrevistados responderam que ele foi um poeta. Alguns ainda afirmaram que Torquato foi escritor (16%) ou compositor (5,67%). Os três livros de Torquato foram publicados postumamente e suas composições tropicalistas até hoje são famosas como Let’s play that, com Jards Macalé; Mamãe coragem, com Caetano Veloso, Geleia geral, com Gilberto Gil e Go Back, com Sérgio Britto, musicada pela banda Titãs.

Outros, no entanto, disseram conhecê-lo, mas claramente arriscaram, ao responder, que o tropicalista foi fotógrafo, apresentador ou, até mesmo, ex-presidente. Os 52% dos entrevistados mais sinceros preferiram não opinar ou falaram simplesmente que não sabiam.

Outro que está na lista dos menos esquecidos é o escritor O.G. Rêgo de Carvalho. O autor de livros como Rio Subterrâneo e Ulisses Entre o Amor e a Morte, foi lembrado corretamente por 22% dos entrevistados. Outros 77,33% disseram que não sabiam ou preferiram não opinar sobre quem foi o escritor que faleceu em novembro de 2013. 

Nem mesmo o autor do Hino do Piauí foi poupado do esquecimento. Da Costa e Silva talvez até seja mais lembrado no município de Amarante, onde nasceu, mas em Teresina somente 8,67% dos entrevistados responderam que ele foi um poeta. Alguns (23,33%) citaram o piauiense como escritor, embora não seja possível afirmar que esses entrevistados conheçam verdadeiramente a sua obra. O poeta ainda foi confundido por alguns entrevistados com o ex-presidente Costa e Silva, que governou no período da ditadura militar, decretou o AI-5 e foi responsável, a partir daí, pelos “anos de chumbo” no Brasil.

E um dos mais esquecidos entre os nomes citados da pesquisa Revestrés/Amostragem é o jornalista Carlos Castello Branco. Somente 4% lembraram corretamente do piauiense que ocupou a Academia Brasileira de Letras, manteve uma coluna no Jornal do Brasil durante 30 anos e marcou o jornalismo político. Vários entrevistados chutaram nas respostas, mas 87,33% foram diretos ao dizerem que não conheciam Carlos Castello Branco.

Segundo o sociólogo Marcondes Brito, somente uma coisa pode explicar o fato de personalidades tão importantes serem esquecidas pela maioria das pessoas. “A memória é seletiva e ela seleciona aquilo que impacta individualmente ou coletivamente. Eles são desconhecidos porque seus feitos ou suas contribuições para o Estado, ou se restringem a pequenos círculos – como o Torquato Neto que fica restrito às rodas intelectuais -, ou então porque sua abrangência na mídia não é suficiente para lhes dar notoriedade duradoura. Eles pouco aparecem no teatro, tem pouquíssimo incentivo de leis culturais, poucas pessoas escrevem sobre eles”, afirma.

Para Brito, o que contribui na formação de uma memória coletiva, além da importância do fato ou da pessoa, é a visibilidade dada ao que foi realizado. “Poderíamos dizer que nessa sociedade midiatizada do espetáculo em que vivemos, quem não é midiatizado não é lembrado. Pouquíssimas exceções vivem fora desse círculo de cultura da divulgação”, destaca.

Poderíamos dizer que nessa sociedade midiatizada do espetáculo em que vivemos, quem não é midiatizado não é lembrado. – Marcondes Brito, sociólogo

Nesse sentido, os meios de comunicação poderiam ter um papel importante na preservação da memória se eles não fossem marcados pelos fenômenos da globalização ou da comunicação de massa. “A imprensa tem o papel de propulsor de mensagens e divulgação de informações. Mas nesse mundo global, a memória artística dura cada vez menos. Ninguém lembra quem venceu a primeira edição do Big Brother, nem a penúltima edição do programa Ídolos”, exemplifica.

Nesse cenário de globalização e midiatização que desvaloriza a memória artística local, a pesquisa Revestrés/Amostragem revela que alguns nomes ainda conseguem se destacar, mesmo que de forma tímida. É o caso do escritor Assis Brasil, membro da Academia Piauiense de Letras e autor de mais de 100 livros, entre eles Beira Rio Beira Vida e Os que Bebem Como os Cães. Ele se sobressaiu como um dos mais lembrados pelos entrevistados. Ao todo, 20,33% disseram que Assis Brasil é escritor. Mesmo assim, 74,33% admitiram não conhecê-lo.

Quando o assunto são os artistas, o produtor cultural e ex-diretor do Theatro 4 de Setembro, Antoniel Ribeiro lamenta a falta de investimento e divulgação, mas acrescenta outro ponto ao debate. “Tem muita gente boa no Piauí, com trabalhos magníficos. Seria interessante que os governantes dessem mais apoio, porém os artistas não podem ser acomodados. Não devemos esperar um milagre acontecer. Temos que correr, e muito!”, provoca Antoniel.

(Publicada na edição #21, julho/agosto de 2015)