(Participaram desta entrevista: Samária Andrade, André Gonçalves, Wellington Soares, Maurício Pokemon e Layane Holanda)

O jovem secretário de Cultura posta foto nas redes sociais, em frente ao espelho da academia de ginástica, feliz pela forma física conquistada. “Fui presidente do PT durante oito anos e engordei 10 quilos, estava horroroso e com as taxas do metabolismo alteradas”.

Fábio Núñez Novo tinha apenas 19 anos quando foi eleito vereador de sua cidade natal, Bom Jesus, a 635 quilômetros de Teresina. “Fui eleito a contragosto da família, que não era de políticos”. O sobrenome denuncia a ascendência. Os pais de Fábio, Ramón e Eduvigis, são espanhóis. Vieram da Galícia trazidos pelo bispo Dom José, quando este cuidava da recém formada paróquia, desmembrada de São Raimundo Nonato. Sobrinho do bispo e pessoa de sua confiança, Ramón veio ajudar o tio em sua missão. Corriam os anos sessenta e o sul do Piauí carecia de tudo: estradas, energia elétrica, alimentos. Junto com eles, mais 50 padres espanhóis, numa época em que o Brasil tinha poucos sacerdotes nativos e os europeus misturaram cultura e sotaques por todo o interior do Brasil. Os padres espanhóis se espalharam por Corrente, Parnaguá, Curimatá e Bom Jesus e, com recursos da Igreja Católica da Espanha e Alemanha, começaram a construir e manter escolas e centros sociais.

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Fábio Novo por Maurício Pokemon

Como parte dos meninos interioranos, Fábio só pôde estudar até o ensino fundamental em sua terra natal, que não oferecia muitas oportunidades. Veio fazer o ensino médio em Teresina, morando na mesma casa até hoje, um imóvel adquirido por seu pai nas imediações da Universidade Federal do Piauí (Ufpi). “Moro aqui há 28 anos”, afirma.

Inquieto, ele logo aderiu a outra prática dos jovens estudantes do interior: formou uma associação encarregada de animar as férias de julho e dezembro em sua pacata cidade. Organizavam festival de música, dança, teatro, lançamento de livros, jogos. “Foi daí que nasceu minha candidatura a vereador em Bom Jesus. Então eu vim para a política através da cultura”.

O desgosto inicial dos pais se justificava. Além de estranharem o mundo político, eles ainda comemoravam a recente conquista: Fábio tinha sido aprovado para o curso de Jornalismo na Ufpi, abandonado com a eleição a vereador e só concluído anos mais tarde, na Faculdade Santo Agostinho. Formou-se também em Pedagogia pela Ufpi.

Fábio trabalhou como jornalista, com passagens pelos jornal O Dia, Diário do Povo e no portal 180 graus. Nunca tirou o olho da vida política. Estava atuando como secretário de Educação em seu município quando o atual governador do Piauí, Wellington Dias, fez a provocação: por que ele não se candidatava a deputado estadual? Aceitou o apoio e o desafio, obtendo quase 11 mil votos e ficando com a quinta suplência, terminando por assumir uma vaga na Assembleia Legislativa um ano mais tarde. De lá pra cá foi eleito mais duas vezes deputado estadual e, para surpresa de muitos, foi presidente do PT por dois mandatos seguidos, vindo originalmente do PSDB e concorrendo com estrelas do partido. “No meu segundo ano como vereador me filiei ao PT, de onde nunca mais saí, nem vou sair”.

Fábio é frequente nas redes sociais. Os posts vão das ações de trabalho às opiniões políticas e vida pessoal, partilhando o dia a dia: um livro que esteja lendo, uma música que escuta no som do carro enquanto cantarola junto. O secretário não se furta a responder quando questionado. A aparente exibição nas redes contrasta com certa discrição: ele pouco fala de relacionamentos ou que tem um irmão gêmeo, sendo eles os filhos do meio do casal. “Meu gêmeo é doutor em Direito Internacional e minhas duas irmãs são doutoras em Educação Física”. Contrasta também com a casa quase austera onde vive sozinho e nos recebe: sem luxos, apenas um quadro do pintor Jandaia na parede da sala, onde a maior extravagância são o telefone e o toca-discos, ambos vermelhos. Na estante, imagens de santos e de uma coruja, um porta-retrato sem fotografia e peças de artesanato da Serra da Capivara. Ele mostra os discos de vinil e diz que sua eleita é Gal Costa. A predileção está clara na mesa de centro da sala, que ele decorou com um pôster de Gal tirado de um dos LPs.

Você já viu empreiteiro reclamar em rede social quando uma fatura de um milhão atrasa? Eu nunca vi! Mas se tiver um cachê de mil reais de um artista que não foi pago, ele te coloca na rede social.

Aos 42 anos, o secretário de Cultura tem gozado de simpatia de parte da classe artística: comenta-se que ele tem trabalhado bastante, desengavetou projetos e pôs novas ideias em prática, em um período onde as iniciativas culturais enfrentam tempos desanimadores, após a quase extinção do Ministério da Cultura e a propalada situação de crise econômica no país. Ele percorre vários municípios e tem descentralizado às ações da capital. No fim do dia costuma ir a espaços como o Theatro ou as escolas de Música e Dança do estado. Diz que faz isso porque é lá que circulam os artistas e onde ele pode “escutar críticas e, humildemente, ir percebendo onde pode melhorar”.

Não é unanimidade. É também criticado por escolher investir em algumas iniciativas e quase ignorar outras. Há quem se chateie também por suas aparições constantes em selfies, acusando-o de vaidade e autopromoção. Ele considera que as redes sociais o ajudam na divulgação das ações, que carecem de verba para serem melhor publicizadas. Além do mais, formado em Comunicação, considera que adquiriu habilidade para usar recursos que estão à sua disposição.

Fábio Novo é gentil. Costuma se vestir sem a formalidade que caracteriza os secretários de estado. Muitas vezes opta por camiseta e tênis. Não fala alto, mas muito, embora economize algumas palavras – não diz “2017”, por exemplo, para se referir ao ano, mas “17”. Ele é empolgado com o que chama de potencial do estado e com os planos do que deseja fazer, ainda que reconheça a limitação de recursos. “Sou ansioso e queria fazer muito mais”.

Revestrés quis saber do secretário de Cultura do estado o que ele pensa sobre o momento atual para a cultura, leis de incentivo, espaços independentes e os projetos para “17”.

(Entrevista completa na Revestrés#29 – Fevereiro/Março 2017)