[Participaram desta entrevista: André Gonçalves, Luana Sena, Samária Andrade, Wellington Soares e Jorginho Medeiros (convidado, produtor cultural). Texto e edição: Samária Andrade. Fotos: Maurício Pokemon].

“Sem filhos, sem família”. Assim se define Assis Brasil, 80 anos recém completados em 18 de fevereiro.  Mas não é fácil defini-lo. Foi o que percebemos quando chegamos em sua casa, no Parque Piauí, bairro da zona sul de Teresina. Na sala simples onde nos recebeu, uma máquina de escrever Underwood ocupa a mesa de centro. Outra máquina, uma Olivetti, está no quarto. Ele não usa computador e já deu muita canseira para as grandes editoras do Brasil que continuam a lhe procurar e publicar seus livros. “Hoje eu recebo direitos de cinco editoras: Moderna, Scipione, Ática, Ímago e José Olímpio”, conta.

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As duas máquinas datilográficas foram adquiridas em Teresina, onde ele voltou a morar em 2008 depois de viver por anos no Rio de Janeiro, conviver com os maiores nomes da literatura e jornalismo no Brasil e de ser um dos escritores brasileiros que mais lançou livros e mais tem histórias para contar. A história das duas máquinas é uma delas: “eu cheguei em Teresina sem máquina e fui morar no Dirceu (bairro Dirceu Arcoverde). Um dia, em um desses comércios do bairro, vi uma maquininha Olivetti na mesa do dono e perguntei se ele queria vender. Ele me pediu 120 reais e fechamos por cem. Mas essa máquina tem um segredo: eu passo três, quatro horas escrevendo e tenho impressão que ela cansa, porque ela para. Eu dou espaço e ela não sai do lugar. Já me zanguei, tive vontade de jogar fora…Ai eu comprei outra máquina, deixei ela lá esfriando. De repente passei por ela e bati no espaço… (faz gesto com a mão). E ela funcionou” (risos).

Na casa modesta onde vive com suas duas máquinas ciumentas e seu copo único, Assis Brasil não se queixa de solidão. Você mora só? – Perguntamos. “Às vezes” – responde com um farto sorriso.

IMG_1840Inteligente, bem humorado, irônico, vai se revelando durante a conversa. Mas tentar interpretá-lo pelo espaço que lhe cerca também não é  fácil. Leitor voraz – “Hoje leio mais do que escrevo”- está cercado por Nietzsche, Deleuze, Roland Barthes e muitos outros. Inclusive um Paulo Coelho. Nas estantes da sala e do quarto chama a atenção a quantidade de livros onde se lê na lombada: “Assis Brasil”.

A televisão fica na sala e seu uso mais freqüente é dar conta da quantidade de filmes que o escritor assiste. Sobre a mesa de escritório, que também fica na sala, cerca de cem filmes piratas, a maioria westerns americanos ou clássicos do cinema. Entre Butch Cassidy, Os Brutos também Amam, A Megera Domada, Revanche Selvagem, vê-se a improvável série Crespúsculo, Lua Nova e Eclipse. “Eu gosto. Ainda vou escrever um livro sobre vampiros”. Não duvidamos. O ficcionista, tradutor, ensaísta, historiador literário, antologista, dicionarista, crítico de literatura, também escreve romances adolescentes – alguns adotados em escolas por todo o Brasil.

No Parque Piauí ele leva uma vida simples. “Dinheiro nunca me impressionou”. Toma café na padaria, almoça no mercado do Parque ou no pequeno restaurante ao lado da mesma padaria e acredita que alguns vizinhos saibam quem ele é. Duvidamos. Sua saída do Dirceu ao Parque é outra história curiosa. Galante, ele conta que se aproximou de uma jovem estudante de direito que morava na vizinhança e comprou alguns presentes para agradar a nova amiga. “Mulher gosta de homem ousado” – ensina. A dona da casa não aprovou o comportamento do inquilino e lhe deu três dias para desocupar o imóvel. Ela disse: “Um homem dessa idade!…”. E ele: “Que idade?”.

Assis Brasil nos recebeu em sua casa numa tarde de quinta-feira (enquanto os estudantes faziam manifestação na Avenida Frei Serafim e paravam a cidade em protesto contra o transporte público de Teresina). Ele conversou conosco até a noite. Falou de Mário Faustino, Roberto Carlos, José Sarney, literatura, morte e velhice. No final, parecia pronto para mais dez horas de conversa. Nós, felizes pela boa conversa, mas exaustos, entendemos a sua Olivetti.

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Jorginho: Como foi sua infância na Parnaíba provinciana, quais as brincadeiras de criança daquela época?

Assis Brasil: Por causa da minha mãe tomei conhecimento da arte muito cedo. Ela era uma cearense culta, poliglota, tocava piano e assim eu me aproximei da música muito antes de qualquer outra manifestação artística. Ela escrevia uns textos para teatro, então ela escreveu e musicou um que contava a história de três malandros, representados por mim e meus dois irmãos. Era um negócio bem popular e nós fomos apresentar no teatro em Parnaíba, na Praça da Graça. Um era vendedor de jornal, outro de bilhete de loteria e eu era engraxate. Tem uma passagem que eu nunca esqueço. Em uma das falas cada um se adiantava, indo perto da plateia enorme. Eu, que era o engraxate, mostrava o pé descalço e dizia: “ao calçado, dou lustrinho”. Todos riram muito. Naquela época meu pai me dava uma mesada e eu gastava com livros, cinema e sorvete. E ainda juntava pra comprar disco – eu tinha uma vitrola manual que você dava corda. A tecnologia ainda não tinha mascarado a inocência.

Jorginho: Também soube que na sua infância você era um mau aluno e um bom leitor.

Assis Brasil: Não era um mau aluno… eu lia mais do que estudava. Mas eu passava de ano.

Péssimo escritor (Paulo Coelho)! Não tenho preconceito com ele não. Ele tá  certo, tá ganhando o dinheiro dele e espero que viva muito tempo.

Wellington: Qual foi a primeira obra que você leu?

Assis Brasil: Iracema, de José de Alencar, ainda menino. Naquela época se lia muito José de Alencar. Mas eu li muitos livros de aventura, Robert Louis Stevenson (“O Médico e o Monstro”), por causa do meu pai. Ele gostava muito e sempre passava para mim. Foi assim que eu li “Ben Hur”, de Lewis Wallace.

Samária: Você lê grandes escritores da literatura do mundo inteiro e eu tô vendo bem ali na sua estante um livro de Paulo Coelho. Ele é um bom escritor?

Assis: Não. Péssimo escritor! Não tenho preconceito com ele não. Ele tá  certo, tá ganhando o dinheiro dele e espero que viva muito tempo.  Mas depois ele vai deixar uma vaga na academia, né?

Não sou um autor moderno, sou contemporâneo. Há uma diferença nisso. Esse negócio de “escola” é furada. Não gosto de classificações.

Wellington: Você é um autor moderno, e muitos dos autores modernos do século XX ocupam lugares na Academia Brasileira de Letras. Você sonha em pertencer à Academia Brasileira de Letras?

Assis Brasil – Não, eu me orgulho em fazer parte da Academia Piauiense, mas não quero saber nada da brasileira. Não tenho pretensão nenhuma. E eu não sou um autor moderno, sou contemporâneo. Há uma diferença nisso. Esse negócio de “escola” é furada. Não gosto de classificações.

Wellington: Mas você não quer pertencer a ABL nem do ponto de vista financeiro? (Os imortais da ABL recebem um valor mensal de cerca de R$ 9 mil reais)

Assis Brasil: Dinheiro não me impressiona em coisa alguma. Nem hoje nem antigamente. Eu digo que nunca tive problema em conseguir emprego no Rio de Janeiro porque eu tinha formação, tinha cultura, quando eu me candidatava a um emprego eu era o melhor.  Já fiz teste de emprego onde me mandaram sentar e escrever. Nem todo mundo está preparado pra isso.

Trabalhei com Carlos Castello Branco, que chegava e não falava com ninguém, e com um faxineiro que vendia composições e as pessoas botavam outro nome. Era o Cartola.

Luana: E como era trabalhar nos jornais do Rio de Janeiro da década de 1950?

Assis Brasil: Eu trabalhei em vários jornais no Rio, o principal foi o Jornal do Brasil, onde eu fazia o suplemento literário. Eu saia de lá as 6 horas da tarde e ia para o Diário Carioca. Lá eu era copidesque – o redator que corrige e reescreve as matérias do repórter. Lá eu conheci duas figuras curiosas: Carlos Castello Branco, piauiense, que chegava lá e não falava com ninguém, botava o papel na máquina e era mais rápido que um computador. A outra figura era um faxineiro. Eu sempre gostei do contato com pessoas humildes, herdei da minha mãe. Gostava de conversar, saber coisas curiosas. E esse faxineiro era o Cartola. Ele não tinha ainda estourado. As pessoas exploravam ele. Ele vendia composições e as pessoas botavam outro nome.

Jorginho: O senhor era muito boêmio? O que se fazia na noite carioca?

Assis Brasil: Como jornalista eu tinha acesso livre a quase tudo. Sexta-feira era o dia da farra, porque sábado era a folga. Então sexta era dia de ficar na rua. Uma vez me perguntaram se eu bebia e fumava e eu respondi: eu fiz tudo, mas moderadamente. É por isso que eu tô aqui.

Samária: Você tem uma quantidade muito grande de títulos publicados. Dá pra viver sendo escritor?

Assis Brasil: Dá. Eu sempre vivi de literatura, porque além dos livros que eu publicava, eu escrevia artigos e críticas para o jornal e ganhava dinheiro. E fazia traduções de livros também. Quando as antologias saíram foram distribuídas em mais de mil pontos de venda. Eu viajando por aí, pelas capitais, fazia questão de ir às livrarias e ver que esses livros estavam lá (Assis Brasil escreveu antologias de poetas de 17 estados brasileiros. Seis delas permanecem sem publicação).

Samária: A distribuição é um grande problema para os autores. Como é essa relação autor-editora?

Assis Brasil: De um modo geral, as editoras fazem um contrato de edição. Eu sempre fiz isso: eu mando o livro e a editora responde se foi aprovado e me manda um contrato. É ele que traz informações sobre a quantidade de livros por edição e outras coisas. Quanto aos direitos autorais, é praxe no Brasil o autor ganhar 10% sobre as vendas. Mas não são todos que pagam isso não. Varia de 8% a 10%. Isso soma uns 2 mil reais que recebo a cada seis meses das cinco editoras as quais estou ligado. O lado editorial está muito complicado. Além de escritor, sou cobrador.

Wellington: Você acha esses valores justos?

Assis Brasil: Justo, eu como autor, não posso achar. Uma vez cheguei a reclamar com o editor da Ímago, muito meu amigo – acho que foi falta de assunto. Ele fez um relato de todos os gastos que tinha: empregados, 10%; maquinário, aluguel, livreiro… “Sabe com quanto eu fico aqui?”, perguntou-me. “10%. Igual a você”.

Mandaram meu livro pra revisão e ele voltou todo riscado a lápis, tinham mudado o meu estilo. Eu disse: “Você tem uma borracha?”. “Tenho”. “Então me dê”.

Samária: As editoras mexem muito no seu livro?

Assis Brasil: Não, porque em geral eu não vendo, tenho apenas um contrato. Uma vez na José Olímpio mandaram meu livro pra revisão e ele voltou todo riscado a lápis. Revisar é um negócio horrível. A Maria Luísa Queiroz, irmã da Rachel de Queiroz, tinha mudado o meu estilo. Ela me perguntou o que eu achei e eu disse: “você tem uma borracha?”. “Tenho”. “Então me dê”.

André: Você viajou muito, conheceu muitos lugares. Qual é a importância do espaço geográfico na formação do escritor? O rompimento, esse sair do seu espaço, influencia na produção de uma obra?

Assis Brasil: Influencia muito, o escritor, o poeta. Mas depende muito do escritor. Eu conheço também bons poetas pernambucanos que nunca saíram da sua terra, mas têm grande formação cultural.

Li uns livros de José Sarney e me surpreendi. Ele é um bom escritor. Se confunde muito o aspecto político com o literário, porque todo político é salafrário.

Jorginho: Você escreveu sobre a poesia de 17 estados brasileiros. Como fica a poesia do Piauí no meio disso?

Assis Brasil: Fica bem (risos). Eu fiz esse projeto das antologias porque eu sempre viajei muito e gostava de resgatar os escritores dos locais por onde andava. Em 94, quando eu publiquei a antologia do Maranhão, a primeira, um professor maranhense me perguntou se eu ia botar o José Sarney. Eu não o conhecia como escritor. Arranjei uns livros dele, li e me surpreendi. Ele é um bom escritor. Ainda hoje me questionam sobre isso. Se confunde muito o aspecto político com o literário, porque todo político é salafrário. Depois que a antologia foi publicada, bonita, grande, os jornais caíram em cima do Sarney, não foi em cima de mim não. Ainda bem.

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Wellington: E por falar em política, “Os que bebem como os cães” é uma obra extremamente política, que aborda questões como a falta de liberdade, a própria ditadura… Houve dificuldade para publicar o livro?

Assis Brasil: Não. Mas a comissão julgadora do prêmio Walmap temia que eu fosse perseguido.  Na entrega do prêmio convidaram o Carlos Drummond de Andrade, para servir como escudo. Eu me lembro que cheguei e a rua tava cheia: tinha mais policiais do que convidados. Em 68 eu dava aula na Universidade Federal do Rio de Janeiro e trabalhava na Tribuna da Imprensa, que era o único jornal de oposição, fundado por Carlos Lacerda. Eu chegava na universidade e tinha policiais de fuzis da porta até a saída. No jornal, a mesma coisa. Eu vivia nesse clima. Mas não cheguei a sofrer repressão porque não sou político, no sentido de pertence a um partido. Sou marxista, um homem de esquerda. Cheguei a ir a uma reunião do Partido Comunista, mas abominei o ambiente, era cheio de cadeado para entrar.

Wellington: Você recebeu os prêmios literários mais importantes do país. Qual a importância da premiação para o escritor?

Assis Brasil: O segundo Prêmio Walmap pagou minha viagem pelo mundo: 67 países. No primeiro Walmap, com “Beira Rio, Beira Vida”, quem me entregou o cheque foi Guimarães Rosa. Ao entregar o cheque ele cochichou comigo: “Dinheiro o banco tem, agora esse cheque eu não sei se tem fundo” (risos). Eu ganhei 3 prêmios na Academia Brasileira de Letras. Em um deles eu contei no meu discurso uma história sobre minha mãe. Um dia ela tava tocando uma música belíssima e eu comecei a chorar. Ela me abraçou, enxugou-me os olhos e disse: “As pessoas que escrevem, pintam, compõem músicas, são artistas, são mais felizes que as outras pessoas. Elas aguentam melhor a vida”. Depois de muitos anos eu vi isso no livro de um grande romancista inglês.

Sou marxista, um homem de esquerda. Cheguei a ir a uma reunião do Partido Comunista, mas abominei o ambiente, era cheio de cadeado para entrar.

Samária: Você falou uma vez que o Mário Faustino (escritor, crítico literário, tradutor, jornalista), por ser muito jovem, extrapolou todas as medidas na falta de humildade e modéstia. Você diz que também passou por essa fase, mas superou…

Assis Brasil: Nós éramos um grupo de vanguarda no Jornal do Brasil, jovens de 20 e poucos anos. Mário Faustino achava que conhecia toda a poesia europeia, eu me achava um grande crítico. Eu era “o” crítico literário do JB na fase áurea do suplemento cultural. Alguns colaboradores tinham inveja do nosso suplemento. Então isso tudo enchia um pouco a gente de vaidade. Todos esses autores que estão hoje sendo estudados nas universidades, a gente já conhecia naquele tempo.  Nós éramos a cultura da época.

Jorginho: E os movimentos da Jovem Guarda, Bossa Nova, Tropicalismo, como você via isso?

Assis Brasil: Na verdade a Jovem Guarda era muito exclusivista. A Bossa Nova e o Tropicalismo também. O Roberto Carlos só queria saber dos amigos dele. O Torquato Neto acabou fazendo aquelas letras pros tropicalistas, mas eles eram todos muito isolados.

André: Você se declarou Marxista, é leitor de Nietzsche, mas tem um calendário com santinha. Você tem convicções religiosas?

Assis Brasil: Eu costumo dizer que não tenho religião, mas sou religioso. Eu tô compreendendo agora a posição do Nietzsche. A crítica dele não é bem ao cristianismo, mas ao catolicismo, que é dogmático. Quando Nietzsche diz que ‘Deus está morto’ é o Deus do velho testamento, o deus vingativo.

Luana: Existem mais de 600 mil resultados para “Assis Brasil Piauí” no Google. Você se interessa em saber o que as pessoas falam sobre você na internet?

Assis Brasil: Às vezes me falam. Um dia eu estava na casa de um amigo e ele, mexendo no computador, ficou muito apavorado porque eu mandei ele botar lá: ‘Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos’. Depois digitou ‘Francisco de Assis Almeida Brasil’ e meus livros estavam todos lá.

É só você ler Rilke que você aprende a viver com a solidão. Para um escritor é fundamental.

Luana: E porque tanta resistência ao computador?

Assis Brasil: Eu sei a teoria, mas não tenho muita afinidade com a prática (risos). E também não se pode confiar tanto. Certa vez fui fazer uma pesquisa na internet sobre Maurício de Nassau e todas as datas estavam erradas.

Samária: Você se sente só?

Assis Brasil: Não. É só você ler Rilke que você aprende a viver com a solidão. Para um escritor é fundamental.

SamáriaPor que você voltou ao Piauí?

Assis Brasil (após ficar sério e silenciar demoradamente): Eu não vou falar sobre isso.

Luana: Há certa angústia ou medo de envelhecer?

Assis Brasil: Você não tem ideia de que envelhece. Uma vez, conversando com Rachel de Queiroz, falamos sobre idade, e ela me disse uma coisa que eu sinto também: “Eu não sinto que estou velha”. Realmente, a mente não envelhece.

Wellington: E da morte, você tem medo?

Assis Brasil: Não, eu tenho curiosidade. Teve uma época que eu tive depressão e visitei um psicólogo. Eu entrei no consultório, dei boa noite e ele não respondeu. Eu gosto de chocar as pessoas, sabe? Ele nem olhou pra mim e a primeira coisa que me perguntou foi se eu pensava em suicídio. E eu disse: o tempo todo. Aí ele despertou. Eu disse que era escritor e falei que Albert Camus afirmava que o único problema importante que o ser humano podia enfrentar e realizar era o suicídio. No fim das contas era eu quem estava examinando ele.

Wellington: Assis Brasil hoje é uma pessoa feliz e realizada?

Assis Brasil: Eu sou feliz. E realizado como escritor. Estou há quatro anos em Teresina, voltei em 2008. Esta é uma fase feliz da minha vida. Retomei a literatura, já escrevi seis livros depois que cheguei aqui. Estou em contato permanente com jovens estudantes em universidades e escolas. Isso é muito importante pra mim. No Rio eu fazia isso, mas aqui é diferente, eu estou na minha terra. As pessoas me admiram, gostam de mim.

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É só você ler Rilke

Rainer Maria Rilke, um dos autores citados por Assis Brasil, nasceu em Praga em 1875. Sua obra é rica em reflexões existencialistas que influenciaram os escritores dos anos 1950 em todo o mundo.

Alguns trechos de “Cartas a um jovem Poeta”, de autoria de Rilke:

As coisas estão longe de ser todas tangíveis e dizívies quanto se nos pretenderia fazer crer; a maior parte dos acontecimentos é inexprimível e ocorre num espaço em que nenhuma palavra nunca pisou.

Confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado escrever? (…) Basta sentir que se poderia viver sem escrever para não mais se ter o direito de fazê-lo.

Utilize, para se exprimir, as coisas do seu ambiente, as imagens dos seus sonhos e os objetos de sua lembrança. Se a própria existência cotidiana lhe parecer pobre, não a acuse. Acuse a si mesmo.

Aceite o destino e carregue-o com seu peso e a sua grandeza, sem nunca se preocupar com recompensa que possa vir de fora. O criador, com efeito, deve ser um mundo para si mesmo e encontrar tudo em si e nessa natureza a que se aliou.

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Assis Brasil 

. Nascido em Parnaíba, Piauí, em 18 de fevereiro de 1932.

. Trabalhou no Suplemento Cultural do Jornal do Brasil nos anos 1950, caderno que marcou uma revolução no jornalismo, pelos textos e diagramação inovadora.

. Também trabalhou na Tribuna da Imprensa, Diário Carioca, Diário de Notícias, Correio da Manhã, O Globo e revista O Cruzeiro.

. 132 livros lançados.

. Vencedor de vários prêmios literários nacionais, entre eles o Walmap 1965 com “Beira Rio, Beira Vida” e o Walmap 1975 com “Os que bebem como os cães”.

. Recebeu o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto da obra, em 2004.

. Escreveu verbetes para a Enciclopédia Barsa. Os verbetes escritos por Assis Brasil, como “Poesia”, aparecem com suas iniciais no final: F.A.A.B.

. Primeiro livro publicado: “Verdes Mares Bravios”, obra infanto-juvenil lançada em 1953, no Rio de Janeiro, quando o autor tinha 21 anos. Em 1986 o livro foi republicado pela Editora Melhoramentos com o título “Aventura no Mar”.

(Entrevista publicada na Revestrés#01, em janeiro-fevereiro de 2012).