Texto e edição: Samária Andrade | Fotos: Maurício Pokemon | Participaram desta entrevista: André Gonçalves, Maurício Pokemon, Wellington Soares, Samária Andrade e Douglas Machado, documentarista e sócio da Trinca Filmes.

A plateia quase aplaude a cena do assassinato. “É como uma catarse”, avalia  Chaim Litewski, diretor de Cidadão Boilesen (2009), que assiste, em Teresina, se repetir a experiência de outros locais do Brasil onde o documentário é exibido. Quem morria metralhado no meio da rua, com 19 tiros, quase todos na cabeça, era Henning Albert Boilesen, 55 anos, dinamarquês naturalizado brasileiro, que se tornou executivo no país e presidente do grupo Ultra (Ultragáz e Ultralar). Ele fez fortuna e fama, criou iniciativas inovadoras como o CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola) e recebeu diversas homenagens: na Dinamarca foi condecorado pelo rei por seu exemplo empreendedor; no Brasil recebeu o título de Relações Públicas do ano de 1964.  Bonito, carismático, atlético – “O cara parecia o Kirk Douglas!”, diz Chaim –  Boilesen circulou nas mais festejadas rodas da sociedade paulistana, ainda que preferisse os bastidores.

Mas sua fama não foi só positiva: ele é também apontado por ter contribuído para a montagem da OBAN (Operação Bandeirante), centro de investigações e tortura montado pelo Exército brasileiro, embrião do DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna) – um dos órgãos mais atuantes do estado brasileiro na repressão política no período da ditadura militar. Mais do que isso: ele comprou e trouxe dos Estados Unidos o aparelho de choque elétrico que ficou conhecido com o seu nome: “pianola Boilesen”. E ainda mais: aquele homem elegante, mas que era agressivo no trânsito e também descia para a geral no estádio de futebol, só para socar a torcida adversária, até a família o recolher, todo ensanguentado, gostava de assistir as sessões de tortura que patrocinava.

Esse personagem contraditório chamou a atenção do carioca Chaim Litewski, 64 anos, morador de Nova York desde o início dos anos 90, quando passou a dirigir a Seção de Televisão da ONU (Organização das Nações Unidas), produzindo reportagens sobre conflitos, direitos humanos e questões ambientais. Em seu extenso currículo, Chaim passou boa parte da vida fora do Brasil. Fez graduação em Cinema na Polytechnic of Central London (Westminster University) e especializou-se em propaganda e conflito. Escreveu para publicações do British Film Institute e produziu documentários de televisão para o Channel Four, da Inglaterra, entre outros. Também trabalhou na TV Globo, em Londres e no Rio de Janeiro, produziu reportagens especiais para CBC (Canadá), RAI (Itália), NBC (EUA).

Chaim Litewski | Foto: Maurício Pokemon

É do alto dessa experiência que Chaim construiu um filme que não quer ser didático ou panfletário. “O filme é sobre moral – até onde você é capaz de ir? Qual o seu limite? Tem uma hora que é você e seu travesseiro”. Mais tarde complementa: “O filme é também sobre memória – o que você se lembra sobre o que aconteceu?” O diretor faz a linha do documentarista que remexe em depoimentos, buscando recriar o acontecimento em sua complexidade, com seus vários agenciamentos coletivos e subjetivos. Ao fazer isso, procura dar passagem à interpretação do espectador.

Finalizado e lançado em 2009, após quase 16 anos de pesquisa e produção, o tema de Cidadão Boilesen experimenta uma espécie de revival, atualizado por recentes acontecimentos no Brasil, que trazem à tona questões relativas a ditadura civil-militar dos anos 1960 e 1970. Por meio da investigação sobre o personagem que dá nome ao filme, é exposto o financiamento que grandes empresas internacionais deram à ditadura brasileira e as ações de resistência que resultaram no assassinato do executivo do grupo Ultra. “Até onde você é capaz de ir?”

O assassinato de Boilesen foi assumido por membros de duas organizações de ações contra a ditadura: Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT) e Ação Libertadora Nacional (ALN). A execução – chamada pelos guerrilheiros de “justiçamento” – aconteceu na manhã de 15 de abril de 1971 na Alameda Casa Branca, mesma rua em que dois anos antes havia sido executado Carlos Marighella, um dos líderes da ALN, em operação comandada pelo delegado Sérgio Fleury, amigo pessoal de Boilesen. No filme de Chaim, Carlos Eugênio Paz, conhecido como Clemente, assume ser “o alfa” – pessoa encarregada de dar o tiro de misericórdia. “Tava na hora deles começarem a pagar”, justifica Clemente. Henning Boilesen Júnior, filho de Boilesen, também entrevistado por Chaim, diz: “Até hoje eu me pergunto por que?”.

O longo tempo de produção de Cidadão Boilesen se deveu ao fato de Chaim acumular vários trabalhos e não está disponível somente ao filme. Mas há outras razões. A negociação com os entrevistados se estendeu por muito tempo, como a de Carlos Alberto Brilhante Ustra, Coronel do Exército Brasileiro, que levou três anos, “e quando ele falou, falou lendo”. Ustra foi chefe do DOI-CODI (1970 a 1974) e em 2008, tornou-se o primeiro militar condenado na Justiça Brasileira pela prática de tortura durante a ditadura. O Coronel morreu em 2015, aos 83 anos. Continuava defendendo o regime militar e fazendo a crítica anti-comunista.

Além de muitas entrevistas, o filme revela uma profunda pesquisa em arquivos oficiais brasileiros e estrangeiros, comprovando ou contradizendo algumas falas. Na Dinamarca, na escola onde o jovem Boilesen estudou, Chaim encontrou um boletim com anotação que indicava um comportamento considerado estranho no garoto: ele se divertiu ao ver alguns amigos sendo punidos.

Bancado com recursos próprios do diretor, o filme, a despeito de ter demorado a ser finalizado, teve independência para ousar na montagem. A cena do assassinato faz uso de desenhos. Na trilha há a regravação do clássico “Eu Te Amo, Meu Brasil”, de Don e Ravel. “Eu encorajo a pirataria”, diz Chaim. “Que o dono da sala de cinema não me ouça (risos). Mas é porque foi dinheiro que eu banquei do meu bolso, não viso o lucro”.

Cidadão Boilesen foi premiado no festival internacional de cinema documental “É Tudo Verdade”. Foi exibido em salas de cinema pelo Brasil, vendido para oito canais de televisão e também pode ser visto na íntegra na internet. Algumas cópias têm mais de 150 mil visualizações. Ainda assim o diretor esperava mais de seu filme. Ele explica que, de início, nem imaginou tanto impacto, mas depois, de filme lançado e com boa repercussão na crítica, achou que o tema seria mais explorado e até aprofundado por outros pesquisadores.

Chaim segue em frente, agora aposentado da ONU e envolvido na produção de quatro outros filmes, entre eles, “Morcego Negro”, que vai contar a história de Paulo César Farias, o PC Farias, empresário brasileiro, que coordenou a campanha que elegeu Fernando Collor de Mello presidente do Brasil (1989). PC Farias esteve envolvido no escândalo de corrupção que levou ao impeachment de Collor e morreu em situação controversa, assassinado a tiro dentro de casa, ao lado da namorada Suzana Marcolino (1996). Investigações deram como resultado que Suzana teria matado PC Farias e se suicidado em seguida.

Com tempo mais livre (ou não), Chaim continua morando em Nova York, ao lado da companheira Laura, que trabalha como pesquisadora no Department of Political Affairs da ONU. Além dos muitos filmes, diz que vive para os três filhos: Gabriel, 25 anos, com autismo; Leon, 21 anos, músico, e Daniel, 3 anos. “Eles são a coisa mais importante da minha vida”.

Em Teresina, a convite do Cinemas Teresina (Teresina Shopping) ele viu seu filme ser exibido mais uma vez, participou de bate-papo com a plateia e deu entrevistas. Vestia camisa colorida, nunca perdeu certo sotaque carioca e falava também com os braços – às vezes interrompendo perguntas, na ânsia para adiantar a resposta.

Se a vida não cabe num filme, a de Chaim Litewiski inclui cenas em Teresina, onde ele dirigiu a fundação da TV e Rádio Antares, entre 1987 e 1988, trazido pelo então governador do Piauí, Alberto Silva, que investiu na emissora educativa piauiense. Chaim trouxe com ele profissionais do eixo Rio-São Paulo, juntou com uma turma de piauienses ávidos por novas produções audiovisuais e criaram uma programação própria para o canal, com produções originais.

Naquela noite de dezembro de 2018, a presença de Chaim também levou para a plateia do filme, amigos que ele não via há 30 anos, pessoas com quem trabalhou na TV Antares. Como o documentário, a vida é também sobre memórias.

Chaim Litewski | Foto: Maurício Pokemon

André – Você tomou conhecimento sobre Henning Albert Boilesen ainda adolescente, por meio de notícias de jornal (quando Boilesen foi assassinado, em 1971, Chaim tinha 17 anos). Só muito tempo depois você se dedicou a pesquisar sobre esse tema, por meio de entrevistas e documentos (o filme foi lançado em 2009). Você já afirmou em entrevistas que “a história é o que a gente lembra dela”.  Como você enxerga essa história? Ela foi suficientemente contada ou falta algo para se contar?   

Chaim Litewski – Vocês leram os jornais de hoje (12 de dezembro de 2018)? Dois altos executivos da Ford da Argentina foram condenados por colaboração com o regime militar repressivo argentino e com a tortura. Então a história nunca acaba, ela é contínua. Eu acho que Boilesen, na verdade, é um arquétipo de um certo período e de um certo tipo de empresário. Talvez ele represente uma fase de uma proximidade carnal – vamos dizer assim – entre o aparelho repressor do estado e os industriais. Existe uma relação histórica de cooperação entre empresários e governos, só que ela se dá em níveis diferentes e em momentos históricos diferentes. O que muda é a moral daquele momento histórico. Até onde você vai na colaboração? O que você quer dessa colaboração?    

André – Durante os quase 16 anos para finalizar Cidadão Boilesen, além de entrevistas, você levantou um grande número de documentos e muitos não eram de conhecimento público até então. Os desdobramentos do filme corresponderam às suas expectativas? 

CL – Francamente eu me decepcionei. Bom, primeiro eu nunca esperei que o filme tivesse o impacto que teve. Para mim, ele era um hobby, por isso demorou tanto. Entre várias outras razões, porque eu o fiz aos poucos, quando podia. Mas pelo impacto que o filme teve, eu pensei que ele seria muito mais discutido, pensei que seria uma oportunidade para se debater sobre essa relação quase incestuosa entre o aparelho repressor do Estado e a comunidade de empresários que apoiou aquele aparelho repressor. Algumas coisas foram ditas nas Comissões da Verdade, mas eu pensei que outros historiadores ou pessoas que se interessam por esse período e esse assunto iriam mais a fundo. A Folha de São Paulo, por meio de seu ombusdman, reconheceu que o jornal colaborava com o regime, fazendo referência ao filme. Isso para mim foi uma vitória, porque confirma o que tá no filme. Mas eu achava que mais coisas iam ser reveladas a partir daí. Então, eu me decepcionei.   

Existem documentos de fontes imparciais, de governos estrangeiros, que dizem que houve uma repressão política braba no Brasil. Negar isso me parece estranho.

Samária – Atualmente alguns grupos falam sobre aquele período militar com certo saudosismo. Você acha que o fato de se ter falado pouco sobre alguns desses temas está relacionado a um certo desconhecimento e nostalgia em relação a esse período?

CL – Eu não sei se tenho condição de te responder isso, porque nos últimos 46 anos eu morei somente cinco no Brasil. Então eu não acompanho essa dinâmica pari passu. Mas eu diria que sim: a falta de conhecimento histórico leva a conclusões que não necessariamente representam fatos históricos inegáveis. Existem documentos de fontes imparciais, de governos estrangeiros, por exemplo, que dizem que houve uma repressão política braba no Brasil. Negar isso me parece estranho.   

Welligton – O cinema brasileiro tem uma contribuição no debate sobre o período da ditadura militar no Brasil. Qual a sua relação com a história (disciplina do saber) e como você pensa a história transformada em filme?   

CL –  Meu interesse de trabalho é fundamentalmente sobre história do Brasil. Sou um historiador frustrado, essa é a realidade. E quando eu penso em abordar um tema histórico num filme, a minha preocupação é: como transformar um fato histórico em narrativa audiovisual? A maneira de contar uma narrativa é um modo próprio. Vi alguns filmes sobre esse período que achei meio panfletários, defendendo um certo ponto de vista. Isso é absolutamente válido. Não existe “uma” maneira de fazer as coisas. Mas eu não quis fazer desta maneira. Eu vi também coisas excelentes, como O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias (Cao Hamburger). Sílvio Tendler também tem vários filmes muito interessantes (Os Anos JK, Jango, Os Advogados contra a Ditadura, Militares da Democracia). São filmes que partem de um certo princípio: “este filme vai falar sobre isso”. Eu penso de uma outra maneira. Penso a história como uma colcha de retalhos, onde cada pequeno pedaço vai se somando. Vale o que você se lembra. Isso pode reforçar ou contradizer o fato, mas de alguma maneira tá contido no fato. Para mim, as fontes terciárias são tão importantes quanto as secundárias, que são tão importantes quanto as primárias. É impossível você se aproximar do “verdadeiro” fato histórico, você nunca consegue realmente chegar ao cerne da questão. Mas eu acho que, quanto maior a multiplicidade de visões, mais próximo do fato você chega. 

Douglas – Levando tanto tempo para construir a colcha de retalhos de Cidadão Boilesen, em que esse tempo contribuiu ou prejudicou a montagem do filme? 

CL – Meu primeiro problema foi a negociação para obtenção das entrevistas, que foi um processo muito longo, algumas negociações duraram três anos, como a do coronel Brilhante Ustra, que, no final, não é bem uma entrevista. Ele me pediu as perguntas e eu gravei ele lendo as respostas.  

Douglas – Mas tem uma verdade nisso. 

CL – Claro! Eu achei bom demais! O segundo problema foi de cunho, digamos, logístico. Eu trabalhava e não podia negligenciar meu emprego, porque ele que pagava o leite das crianças, né? O terceiro ponto é que a gente, que é pesquisador, que tem prazer de pesquisar em arquivo, nunca tá satisfeito, sempre acha que pode achar mais, que tem alguma coisa que ainda vai lhe iluminar. O filme é muito baseado em documentos que foram obtidos através de Lei de Acesso à Informação (LAI) e isso também demora para você eventualmente obter alguma coisa importante. O material que o SNI (Serviço Nacional de Informação) me mandou levou quase cinco anos desde o início das negociações. E eu sou rigoroso: cada informação eu checava em três fontes diferentes. Em termos práticos: eu tinha 60 entrevistas gravadas, separei as frases que achava as mais relevantes, construí com elas uma narrativa e fui preenchendo com metáforas e outras informações que remetiam ao que estava sendo dito. Pedro Asbeg, que além de editor é meu afilhado, disse: “vamos organizar essa bagunça”. Então ele foi para Nova York três vezes no período de um ano, passava dois meses trabalhando lá comigo e voltava. A gente já estava com o filme semi-pronto quando houve o festival É Tudo Verdade, nós nos inscrevemos e ganhamos.   

Algumas negociações (para entrevistas) duraram três anos, como a do coronel Brilhante Ustra  

Douglas – Na montagem, o filme ganha uma postura que se distancia muito do que normalmente se espera de um documentário que aborde o tema do período militar. Você e Pedro Asbeg não foram convencionais em relação à música e ao uso de animação, por exemplo. Como foram essas decisões? 

CL – Para muitas coisas nós não tínhamos imagem. Como você vai ter imagem real de tortura, de assassinato? Então a gente pegou imagens que, de alguma maneira, refletiam aquilo. E eu queria dar um cunho mais pop ao filme, então criamos uma animação para falar do assassinato. Uma história em quadrinhos pode te dar tanta informação quanto um documento do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) dizendo que ele foi assassinado – não necessariamente informações científicas, mas subjetivas. E eu e Pedro sempre achamos que as coisas subjetivas eram tão importantes quanto as objetivas, então não desvalorizamos nada, tudo tinha um peso igual. 

Wellington – Como o filme foi recebido pelas chamadas direita e esquerda? 

CL – De forma muito parecida. Eu acho que todo mundo, de alguma maneira, elogiou o filme pela imparcialidade. É como se fala: bom juiz de futebol é aquele que não aparece, deixa o jogo correr. A gente não queria que as nossas opiniões – e claro que nós as temos – estivessem no filme de uma maneira muito óbvia. O filme foi criticado por duas ou três pessoas, e de uma maneira correta, mas ele foi muito elogiado… e isso até me preocupa um pouco, porque como dizia Nelson (Rodrigues) “toda unanimidade é burra”. Mas o filme recebeu prêmios e as sessões que eu assisti no Brasil eram quase uma catarse. No final as pessoas choravam, me abraçavam, falavam que eu era corajoso, e eu não via coragem nenhuma nisso. 

Samária – Você sentiu alguma espécie de intimidação em algum momento por causa do filme? 

CL – Nunca. Mas eu tenho certeza que lá nos arquivos da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) deve ter alguma coisa. 

André – Dois depoimentos chamam a atenção em especial: o de Ustra e o de Carlos Eugênio, o ativista Clemente, que no filme se assume como “alfa”, o comandante da ação contra Boilesen, que executa o tiro de misericórdia,… 

CL – E o do filho de Boilesen também é importante. 

André – Concordo.  

CL – O filho de Boilesen foi a primeira pessoa a quem eu enviei o filme finalizado. Espero uma resposta até hoje. Ele nunca me disse nada. 

André – Em relação a Ustra e Clemente – o torturador e o ativista – me parece que se misturam as imagens de herói e vilão. Numa crítica a Cidadão Boilesen o jornalista Luiz Carlos Merten, de O Estado de São Paulo, diz que o filme deixa uma interrogação: “é possível salvar a democracia com um golpe de estado?” Como você vê essa mistura entre vilania e heroísmo? E você é capaz de responder a essa questão do Merten? 

CL – Vejo totalmente essa mistura de vilão e herói. O filme é sobre a moralidade do ser humano. Até que ponto você é moral e quando você deixa de ser ético e passa a ser uma pessoa imoral? Até onde você é capaz de ir? Qual o seu limite? Tem uma hora que é você e seu travesseiro. Eu não sei se Ustra tá falando a verdade, se Clemente tá falando a verdade – ele ficou meu amigo, eu gosto do Clemente. Eu não sei quem tá falando a verdade, mas eles têm o mesmo peso no filme e eles se contradizem. Esse é o drama do negócio!   

Welligton – Mas ficou patente que Ustra mentiu… 

CL – Por que você diz isso? Ele não se contradiz, como Clemente também não se contradiz. O que existe é uma contradição entre Ustra e Clemente. Ustra diz: Boilesen só esteve na Oban uma única vez, para me cumprimentar pelo Natal. Clemente fala: o cara estava lá dentro e a gente matou ele porque ele apoiava a tortura. Claro, há outros depoimentos que contribuem com uma ou outra versão, mas as conclusões são de quem está vendo o filme. É difícil julgar os outros, por isso eu dou a palavra para tanta gente no filme. E também não estou aqui para pôr azeitona na empada de ninguém. A vida é complexa e a gente quer simplificar. 

André – Pela participação no assassinato, Clemente é acusado pelo Estado como um assassino frio – a mesma acusação que ele fazia a Ustra. O filme deixa a gente nessa angústia…   

CL – E eu quero te dizer que isso foi feito de uma maneira absolutamente consciente, isso não tá lá por acidente. A gente cronometrava o tempo de fala de cada um, fazia uma coisa quase matemática para tentar manter um equilíbrio. 

A minha primeira entrevista foi com ele (Clemente, da ALN) e, quando eu fiz essa entrevista, me dei conta de que tinha um filme nas mãos.

Wellington – No final, Ustra faz um relato dos que participaram do processo de assassinato de Boilesen. Entre eles, quatro foram mortos por agentes do DOI CODI; dois estão sumidos, embora seus nomes não constem na lista de desaparecidos do regime militar; um faleceu de causas naturais; e dois continuam vivos, entre eles, Clemente, que coordenou a operação e hoje é professor de música no Rio de Janeiro, que é uma atividade que exige sensibilidade. Como você avalia que ele lida com essas memórias?   (Carlos Eugênio, o Clemente, morreu dia 29 de junho de 2019, aos 68 anos, em Ribeirão Preto, São Paulo).

CL – Ele passou por um período de depressão muito grande. O filme indica um pouco disso numa fala essencial, quando ele diz: “até hoje eu sofro e sofrerei sempre as mortes que vivi, as mortes que eu morri, a morte que eu não morri, e as mortes que eu cometi”. Todos os companheiros e as companheiras de Clemente também morreram. Acho que ele começa a se recuperar a partir dos anos 80. A minha primeira entrevista foi com ele e, quando eu fiz essa entrevista – que também demorou algum tempo para ser agendada – me dei conta de que tinha um filme nas mãos. 

Samária – Você demorou a conseguir as entrevistas, mas extraiu depoimentos contundentes. Existe alguma técnica para isso? 

CL – Eu devo ter contactado umas 200 pessoas: 60 devem ter desligado o telefone na minha cara, cerca de 60 falaram pelo telefone, mas não quiseram gravar entrevista, e outras 60 gravaram. Eu nunca menti, nunca enganei ninguém. Sempre falava: é um filme sobre Boilesen, sobre a OBAN, a relação entre empresários e sistema repressor, porque Boilesen foi assassinado, quem era ele, como era o Brasil. Como mamãe dizia: “meu filho, conte sempre a verdade”, “por que, mamãe?”, “porque é mais fácil de você lembrar” (risos). Quanto à entrevista, ora, eu sou jornalista, entrevisto pessoas há quase 50 anos, essa é a minha profissão. Eu acho que você acaba aprendendo certas técnicas de como conduzir uma entrevista, quando repetir, insistir. Dizem que quando eu entrevisto alguém eu entro quase num estado de transe: eu pres-to a-ten-ção em tu-do que vo-cê es-tá fa-lan-do (fala pausadamente).   

Douglas – Você estabelece um arco que promove uma unidade ao abrir e fechar o filme com entrevistas de pessoas comuns, na rua. Isso me dá a impressão de que as entrevistas com pessoas comuns fazem um elo com o espectador que está assistindo o filme. Ao longo desse tempo, quando surgiu a ideia de abrir e fechar o filme dessa maneira? 

CL – Eu fui várias vezes na rua que teve o nome alterado de rua “C” para Boilesen. E comecei a perguntar às pessoas se elas sabiam quem era Henning Albert Boilesen. Eu acho que você também tem que remeter ao nome do filme. Cidadão Boilesen, claro, é uma referência a Cidadão Kane (Orson Welles, 1941. Ficção baseada na trajetória de William Randolph Hearst, magnata da imprensa nos Estados Unidos). Herman Mankiewicz, que escreveu o roteiro de Cidadão Kane junto com Orson Welles, tinha esse estilo, que também aparece em A Condessa Descalça. Nessas histórias o personagem principal está morto e tem um monte de gente pensando sobre essa pessoa. A construção de Cidadão Boilesen é muito parecida com a de Cidadão Kane: um monte de gente do entorno vai dando opinião sobre o personagem principal. E, finalmente: eu também queria falar de memória. Eu disse que o filme é sobre moral, mas é também sobre memória. O que você se lembra sobre o que aconteceu? A última pessoa entrevistada no filme quase lembra quem seria Boilesen. Eu disse para o camera man: aproxima, porque ele tá se lembrando. Aí o entrevistado usa uma frase que eu gostaria de ter colocado como subtítulo no filme: “se não me falha a memória”. Porque a memória falha, e o filme é sobre isso. E isso nos traz um pouco para a realidade atual: a memória te trai, às vezes você não mente deliberadamente, mas acaba mitificando a  memória.   

Samária – Fazendo também referência a Cidadão Kane, o documentário Muito Além do Cidadão Kane (1993), do cineasta independente Simon Hartog, sobre a história da Rede Globo, tem consultoria feita por você, que havia trabalhado na TV Globo. Esse filme conta a relação entre a ditadura militar e a criação da Rede Globo, e não foi bem recebido pela família Marinho. Como foi essa consultoria, e como ficou a sua relação com o antigo empregador depois desse trabalho? 

CL – Eu trabalhei na Globo em Londres e no Rio de Janeiro e, em 1983, o doutor Roberto Marinho comprou uma égua saltadora chamada Itchutuna, que ele mudou o nome para Miss Globo. Eu fui encarregado de cobrir os torneios em que a égua participasse na Europa. Ela competia em grandes circuitos de salto. Só que a égua era péssima, nunca ganhava nada! (fala com ênfase). Ela era montada pelo Filipinho (Luiz Felipe Azevedo), um jockey famoso. E nós tínhamos um problema: a égua era ruim, mas tinha que entrar no Jornal Nacional porque o doutor Roberto Marinho queria. Então eu tinha que fazer uns textos e inventar umas coisas para que a égua pudesse ser notícia sem ganhar nada. Numa dessas competições o doutor Roberto veio assistir com uma entourage de gente. Estávamos lá, eu e o camera man, trabalhando, e doutor Roberto me perguntou se podia ficar com a gente. “Imagina, doutor Roberto, fique à vontade, a casa é sua” (risos). E ele passou a ficar com a gente outras vezes e começamos a conversar mais. Quando eu voltei ao Brasil, em 85, eu frequentei algumas vezes o escritório dele na Globo. Depois eu larguei a Globo e vim para o Piauí. Enquanto eu estava aqui, escrevi uma pesquisa sobre a história da televisão no Brasil. Era para uma conferência em que eu fui convidado a participar, organizada pelo British Film Institute, na Inglaterra, onde eu havia trabalhado. A conferência era sobre cinema e televisão, e eu falei sobre a produção de TV no Brasil antes de 1964 e depois, com a entrada da Globo, em 65. Eu já tinha escrito muito sobre a TV Globo em várias revistas europeias e tinha organizado uma mostra de programas da Globo no British Film Institute. Por fim, fiz esse documento para a conferência e o Simon Hartog, cineasta inglês e meu amigo, falou: “vou fazer um filme com base em teu paper”. Essa é a gênese de Muito além de Cidadão Kane. E eu fui dando toques sobre quem ele devia entrevistar no Brasil para construir a história da Globo, que é escolhida pelos militares como o meio de comunicação em que eles vão investir. Eu liguei para o doutor Roberto, falei do documentário e perguntei se ele queria ser entrevistado. Ele disse que não e que eu ficasse à vontade. Foi a penúltima vez que falei com ele. A última foi quando eu o procurei para me despedir, quando estava me mudando para os Estados Unidos, indo trabalhar na ONU.     

Douglas – Atualmente você está produzindo quatro filmes e um deles, novamente, sobre a história recente do Brasil, está na fase final de filmagens. É o filme que vai contar a história de Paulo César Farias – O PC Farias. O que você propõe trazer com este documentário?  

CL – Eu estava no Brasil na época em que PC Farias foi assassinado, peguei um pouco do começo do governo Collor e fiquei interessado pelo personagem que investigamos nesse novo filme. Ele era pintado como o inimigo público número um, foi execrado pela mídia e sociedade. Era um sujeito fascinante: apreciava boa música, estudou para ser padre, dava aulas de latim. E eu pensei em fazer alguma coisa com ele. Daí acabei adquirindo os direitos de um livro sobre PC Farias: Morcegos Negros (2000), de Lucas Figueiredo. Esse foi o ponto de partida, mas aí eu avancei nas pesquisas, são quase oito anos trabalhando nisso. Já gravamos mais de 60 entrevistas no Brasil e exterior e temos documentos de governos do Brasil, Europa, Estados Unidos. Vai ser uma coisa parecida com Boilesen: o que você se lembra dele?  Temos um grupo grande de pessoas trabalhando e vamos pegar o Brasil de 1986 a 96, um período brutalmente importante na história de nosso país: o fim do regime militar, começo do globalismo, Consenso de Washington, enfim, o Brasil muda totalmente de figura.    

André – PC Farias é um personagem quase folhetinesco… 

CL – Totalmente! 

André – E deixou a pergunta: quem matou PC Farias? Seu filme tem preocupação em responder isso? 

CL – Sim, sim (faz pausa). Mas não sou eu quem vai responder, são as pessoas que acham que sabem. Eu tenho depoimentos de pessoas que estavam muito próximas. 

O Brasil está sendo encarado com estupefação. Eu tinha 10 anos quando o Golpe Militar aconteceu. Esse momento, agora, é o mais parecido que eu vejo com aquela época.

Samária – Você saiu de Londres, depois saiu da Globo, em 1987, e veio para Teresina, trabalhar na implantação da TV e Rádio Antares. O que lhe trouxe até aqui? E essa experiência valeu a pena?  

CL – Nosso plano, com apoio do então governador, engenheiro Alberto Silva, era criar um forte núcleo de produção de programas em Teresina. Para isso, trabalhamos com um número de jovens piauienses e gente experiente de fora. Estávamos muito envolvidos com noções de democracia no ar, acesso da comunidade aos meios de comunicação, esse tipo de coisa. Criamos, todos nós, uma televisão e rádio muito respeitados dentro da rede brasileira de rádios e TVs educativas. Essa experiência no Piauí foi essencial à minha formação profissional e pessoal. Me ensinou muitíssimo! Num plano pessoal, aprendi a ouvir e respeitar as opiniões da gente que conhece a realidade do local muito melhor do que eu. Trabalhar no Piauí me ensinou a produzir muito com poucos recursos. E fortaleceu minha crença na fundamental utilidade de um sistema público de informação e entretenimento, como a Rede Educativa.

Samária – Alguns ex-companheiros de trabalho da TV Antares pareciam contentes em reencontrá-lo. Como foi para você esse reencontro? 

CL – Devo confessar que fiquei bastante emocionado. Tinha ótimas lembranças dessas pessoas com quem convivia e trabalhava. Mais de três décadas já havia se passado e, sinceramente, achava que muitos não se lembrariam mais de mim. Fui muito feliz nesse período extremamente criativo que vivi em Teresina, e o reflexo dessa felicidade foi rever essas pessoas e delas receber o carinho que recebi. Foi uma honra e um privilégio revisitar o Piauí. 

Wellington – E, atualmente, vivendo em Nova York, como você percebe que o Brasil está sendo visto nesse momento lá fora? 

CL – Eu vivo em Nova York em função de meus três filhos – eles são a coisa mais importante da minha vida. O Brasil está sendo encarado com… (procura uma definição). A palavra é estupefação. As pessoas estão boquiabertas com o que está acontecendo. A gente tem que entender que não é só no Brasil. Ele faz parte de uma comunidade internacional que está vivendo um fenômeno que também é de discurso, porque o discurso mudou. Antigamente você tinha um discurso mais contido, os políticos não falavam certas coisas. O Trump meio que abriu a porteira de um novo discurso na política. Eu vou te dizer e vai ser a última coisa que vou falar: eu tinha 10 anos de idade quando o Golpe Militar aconteceu e eu me lembro como era o discurso da época. E se usava expressões muito barra-pesada: acabar com as baratas, exterminar o inimigo. Esse momento, agora, é o mais parecido que eu vejo com aquela época. O discurso do Brasil mudou e isso me impressiona muito! Antes era aquela caretice dos caras de Brasília falando as mesmas besteiras que você já não prestava atenção. Agora, se esse novo discurso vai impactar a política e vai ser o modus operandi de agora em diante, Deus nos acuda.  

 

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Caso argentino 

No dia 12 de dezembro de 2018, em uma sentença sem precedentes históricos, a Justiça argentina condenou dois ex-executivos da Ford como cúmplices no sequestro e tortura de 24 sindicalistas durante a última ditadura militar argentina (1976-83).  

Essa foi a primeira decisão judicial contra dirigentes de uma multinacional radicada no país. Héctor Sibilla, ex-diretor de segurança da fábrica, foi condenado a 12 anos da prisão; e Pedro Müller, ex-gerente industrial, a 10. A sentença determinou a responsabilidade penal dos executivos, sem envolver a empresa. Pela idade avançada, ambos cumprirão a sentença em suas casas. 

 

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As mortes que vivi 

O filme Cidadão Boilesen (2009) fala do financiamento civil empresarial ao aparelho repressor do Estado durante o período da ditadura civil-militar no Brasil por meio da figura de Henning Albert Boilesen, 55 anos, dinamarquês naturalizado brasileiro, que se tornou presidente do grupo Ultra (Ultragaz e Ultralar). Bonito, carismático, atlético, além de financiar a estrutura repressiva, ele gostava de assistir às sessões de tortura.  

Boilesen morreu assassinado no meio da rua, com 19 tiros, quase todos na cabeça. A execução – chamada por seus autores de “justiçamento” – foi assumida por membros de duas organizações de ações contra a ditadura militar: Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT) e Ação Libertadora Nacional (ALN).  

O fato se deu na manhã de 15 de abril de 1971 na Alameda Casa Branca, mesma rua em que dois anos antes havia sido executado Carlos Marighella, um dos líderes da ALN, em operação comandada pelo delegado Sérgio Fleury, amigo pessoal de Boilesen 

Entre os envolvidos na execução de Boilesen, quatro foram mortos por agentes do DOI CODI em ações de busca; dois nunca foram encontrados, embora seus nomes não constem na lista de desaparecidos da ditadura militar; um faleceu de causas naturais, e dois continuam vivos. Um deles, Carlos Eugênio Paz, de codinome Clemente, admite, em entrevista a Chaim Litewski, ser “o alfa” – pessoa encarregada de coordenar a operação e de dar o tiro de misericórdia.  “Até hoje eu sofro e sofrerei sempre as mortes que vivi, as mortes que eu morri, a morte que eu não morri, e as mortes que eu cometi”, diz Clemente no filme. (Ele faleceu em 29 de junho de 2019, aos 68 anos).

 

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Se não me falha a memória 

A égua Miss Globo continua sendo notícia nos veículos de O Globo, como atesta a matéria publicada em julho de 2015, no site de O Globo (leia texto abaixo). Os jornalistas têm que continuar exercitando a criatividade para a pauta ou, comprovando seu próprio filme, Chaim Litewiski experimenta como é complicado confiar na memória? Faça sua interpretação, tire suas conclusões. 

Roberto Marinho (à direita) com Luiz Felipe Azevedo e Miss Globo.

“Samba em quatro patas” 

Miss Globo, a égua multicampeã que foi montada por Roberto Marinho em várias provas, marcou época no hipismo brasileiro e virou personagem comum no noticiário esportivo do GLOBO 

Aydano André Motta 

Nessas quase nove décadas, a maior parte do noticiário esportivo foi dedicada, por óbvio, ao futebol, paixão-emblema dos brasileiros. Mas, no GLOBO, sempre houve um espaço reservado com carinho para o hipismo, e, muito em especial, para Miss Globo, a égua multicampeã que durante anos brilhou por circuitos do mundo inteiro. As reportagens sobre as conquistas a transformaram numa celebridade nos meios hípicos brasileiros. 

Saltadora espetacular importada da Alemanha, a égua tinha 11 anos quando foi comprada pelo jornalista Roberto Marinho, que, com ela, disputou e venceu vários concursos. Uma queda levou o presidente das Organizações Globo a entregar o animal para ser montada por Luiz Felipe Azevedo, um dos grandes cavaleiros do país (e descobridor da campeã, que conheceu em Hamburgo, ainda sob o nome original, Itchutuna). 

— A Miss Globo era muito veloz e tinha um olho azul marcante. Doutor Roberto a conheceu em 1984, quando ela foi campeã carioca, logo depois de chegar aqui —relembra Luiz Felipe, que foi consultado pelo jornalista sobre a mudança para o nome lendário. 

A partir daí a égua enfileirou títulos planeta afora, superando alguns dos mais aclamados conjuntos de seu tempo. Um deles, em Roma, no dia 1º de maio de 1985, mereceu manchete nos principais cadernos de esporte italianos. “Samba de quatro patas”, estampou o “Corriere della Sera”, para descrever a vitória sobre três cavalos franceses, tidos como os melhores do mundo. 

Notícia habitual para os leitores do GLOBO, acostumados com as conquistas da campeã em reportagens frequentes. E, muitas vezes, complicadas de materializar. 

— Em 1983, tinha acabado de virar editor de Esportes, quando, num domingo, o telefone tocou e era o doutor Roberto, perguntando o resultado da Miss Globo. Descobri naquele instante que ela estava competindo numa cidadezinha no interior da Bélgica — relata o hoje colunista Renato Mauricio Prado. — Fui salvo por nosso então correspondente, Janos Lengyel, um querido amigo, que conseguiu apurar: Miss Globo tinha sido campeã! Avisei ao doutor Roberto, que pediu uma reportagem sobre a vitória, e uma foto grande na primeira página, algo impossível, naquele tempo, sem internet. A solução foi uma linda imagem de arquivo, com fundo desfocado e uma legenda sonsa… 

Depois dessa e de muitas outras façanhas, Miss Globo foi enviada para a reprodução em 1989. Teve dois filhos — um deles, Eco Globo, também campeão — e morreu em 2011, aos 25 anos.  

Fonte desta matéria: https://oglobo.globo.com/sociedade/samba-em-quatro-patas-16718214

(Entrevista publicada na Revestrés#39 – janeiro-fevereiro de 2019).

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