Participaram dessa entrevista: André Gonçalves, Samária Andrade, Wellington Soares e Noé Filho (convidado. É escritor, produtor e coordenador do Projeto Geleia Total). Texto, edição e fotos: André Gonçalves.

Patrícia Mellodi | Foto: André Gonçalves

“Carmen Miranda era portuguesa, Milton Nascimento é mineiro e eu sou piauiense”. É com frases assim que Patrícia Mellodi, 47 anos, reafirma aos interlocutores a sua identidade. Ou aquilo que, no Piauí, costuma-se chamar “piauiensidade”, revelada ainda em postagens nas redes sociais quando, por exemplo, comemora a chegada, ao Rio, de um isopor enviado por amigos do Piauí com cajuína, castanha e doce de buriti. Filha de piauienses, por circunstâncias da vida nasceu no Rio de Janeiro mas, aos quatro anos, já estava em Teresina. “Eu nem à escola fui, no Rio de Janeiro”. Quase uma menina-prodígio na cena musical da capital do Piauí, ainda muito jovem (e ainda Patrícia Melo) estava sempre nos palcos da cidade, onde demonstrava se sentir em casa. Uma casa que logo lhe pareceu bem apertada: Patrícia queria mais espaço. Espaço para cantar, dançar, representar e ser artista. “Eu queria ser artista de musical”. Se esse nunca foi exatamente o destino dos sonhos para os familiares, era o sonho da menina que, quando chegou aos 22 anos, casada e já com uma filha, embarcou para o Sul-Maravilha. Decidida e, como ela insiste em frisar, obstinada, cantou, dançou, estudou, experimentou. Terminou um casamento, viveu, casou de novo, teve a segunda filha, ganhou dinheiro, fez shows, quebrou a cara, separou outra vez, não acumulou bens. “Eu só tenho música. Minha mala é isso”. Com uma forcinha da numerologia, Patrícia Melo deu vez a Patrícia Mellodi. Colocou duas músicas em novelas da Globo quando isso representava prestígio e algum dinheiro. Esteve em programas como Domingão do Faustão, Vídeo Show, especiais de fim de ano. Cantou – e canta – com artistas como Zeca Baleiro, Wagner Tiso, Tunai. É parceira de Carlinhos Brown, foi gravada por Ney Matogrosso e fez shows no Canecão, tradicional casa de shows do Brasil. Com a voz que julga adequada para a noite e cantando bossa-nova, contribuiu para que o lendário Beco das Garrafas, voltasse a ser um ponto de encontro de quem gosta da música brasileira. Patrícia Mellodi foi condecorada no Piauí e é “Embaixadora do Turismo” do Rio de Janeiro. Recentemente, teve a canção Últimas Palavras gravada pela Brandenburger Symphoniker, na Alemanha, em versão em inglês – Last Words, na voz de Cristina Braga. 

Mãe de Clara e Nina, Patrícia Mellodi nos recebeu numa noite quente em Teresina, em um dos tradicionais quintais da zona Norte da cidade. Uma grande mesa, com toalha florida, estava pronta para nossa conversa. Ventiladores a postos, paçoca, cerveja gelada e, tendo por perto familiares e Alexandre Rabello, parceiro musical e companheiro, Patrícia nos apresentou uma pessoa a quem poucos têm acesso. Mais do que a artista “espevitada” e que emana força e alegria quando se apresenta nos palcos, ela nos apresentou Ana. “Meu nome é Ana Patrícia; a Patrícia é a persona. A Ana é aquela que quer ficar em casa, quer fazer comida, que cuida dos amigos, varre o quintal, lava banheiro”.  

Em quase duas horas de conversa, Patrícia e Ana se revezaram – e se revelaram. Patrícia agitou os braços, cantou, riu abertamente e foi enfática em alguns momentos. Ana piscou para o companheiro, tomou cerveja, algumas vezes suspirou enquanto olhava para algum ponto além do quintal, às vezes quase sussurrou uma resposta. Muitas vezes olhou para o céu estrelado.  

O resultado é essa entrevista, em que Patrícia Mellodi e Ana Patrícia se misturam e parecem estar a caminho de fazer as pazes. Patrícia contou a história da artista. Ana contou a vida da mulher. 

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