O ano era 1974, eu estava em São Paulo preparando músicas para o disco que gravaria àquele ano. Já tinha algumas prontas, era meu primeiro disco solo e foi quando veio a lembrança de um cordel que li quando era adolescente. 

“Eu vou contar a história de um pavão misterioso, que levantou voo na Grécia com um rapaz corajoso, raptando uma condessa, filha de um conde orgulhoso”… – De repente bateu aquele estalo de traçar um paralelo entre a situação política brasileira na época da ditadura, que retinha a liberdade enclausurada como a donzela do cordel em uma torre inacessível aos brasileiros. 

Ednardo, foto para a capa do LP “Ednardo – O Romance do Pavão Mysteriozo” | Foto: Gerardo Barbosa Filho

Ao mesmo tempo veio a ideia de fazer o disco como se fosse um cordel urbano, contando a saga artística e vivencial de uma pessoa saindo de sua terra de origem, inventando seus mecanismos de voos para se sobrepor as dificuldades até vencê-las. 

E veio vindo a letra da música junto com a música inteira, em ritmo de maracatu, que é um ritmo fascinante e hipnótico que escutei desde quando era criança pelos carnavais de Fortaleza. Assim nasceu “Pavão Mysteriozo”, que deu titulo ao meu primeiro disco solo. 

PAVÃO MYSTERIOZO 

Ednardo 

Pavão mysteriozo, Pássaro formoso 

Tudo é mistério nesse teu voar 

Ai se eu corresse assim 

Tantos céus assim 

Muita história eu tinha pra contar 

Pavão mysteriozo 

Nessa cauda aberta em leque 

Me guarda moleque 

De eterno brincar 

Me poupa do vexame 

De morrer tão moço 

Muita coisa ainda quero olhar 

Pavão mysteriozo 

Pássaro formoso 

Tudo é mistério nesse teu voar 

Ai se eu corresse assim 

Tantos céus assim 

Muita história eu tinha pra contar 

Pavão mysteriozo 

Pássaro formoso 

No escuro dessa noite 

Me ajuda a cantar 

Derrama essas faíscas 

Despeja esse trovão 

Desmancha isso tudo 

Que não é certo não 

Pavão mysteriozo, Pássaro formoso 

Um conde raivoso 

Não tarda a chegar 

Não temas minha donzela 

Nossa sorte nessa guerra 

Eles são muitos 

Mas não podem voar 

 ***

Publicado na Revestrés#47. 

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