Piauí O meu melhor e mais confortável berço, onde a felicidade sempre pareceu mais perto ou mesmo verdadeira.

São Paulo Uma cidade que é a cara da fome, do desespero, do desemprego e do sem ter onde dormir. Ao mesmo tempo é a cidade da festa, da explosão da cultura, daquele show especial que você queria muito. Quando aprendi a gostar, quando tive oportunidade, ela também me fez confortável pra ser quem eu sou.

Morena Caymmi | Foto: Rômulo Fialdini

Uma lembrança de infância A farinhada da minha família em José de Freitas. A colheita, o corte e o descascar da mandioca, a casa de farinha cheia de tia e tio, o catitu truando, mulheres lavando massa, mil panelas de cozido pra alimentar e o cheiro de beiju no leite de coco babaçu ficando pronto.

Um disco da Gal Amo o que o futuro fez com o “Cantar”, de 1974. Hoje ele é um primor pra quem ama muito Gal Costa – no passado foi um terror. E a gente nunca vai entender, pois o disco é impecável.

Cidadania é ter o direito de trabalhar naquilo que sou boa, pagar meus impostos, tomar meus hormônios pela rede pública, minha certidão retificada.

Um drink Dry Martini é certeiro. Se ele é bem feito, seco e gostoso, com apenas dois você já tá boa. Daí é só petiscar uma coisinha, dar um beijo de boa noite nos amigos e pedir o Uber.

Um tempero Qualquer comida é muito mais que comida se tem pimenta de cheiro.

Gabriela, cravo e canela O livro é incrível, como toda obra de Jorge Amado. A novela também, com personagens marcantes. Mas vocês já viram as cenas da Sônia Braga tomando banho no filme do Bruno Barreto? Mudou minha vida! Muito cabelo, os seios, a moqueca na panela. A trilha sonora é uma obra-prima. É Tom Jobim e Gal Costa o tempo todo.

Cidadania é ter o direito de trabalhar naquilo que sou boa, pagar meus impostos, tomar meus hormônios pela rede pública, minha certidão retificada. O aluguel pago, ir e vir no transporte público, a minha segurança, minha saúde, ter comida todo dia e votar em Erika Hilton e Malunguinho.

Linn da Quebrada Uma das maiores referências LGBTQIA+ da minha geração. Foi com a Lina que descobri o hormônio que eu poderia tomar e os efeitos dele. Foi a Lina que cantou e falou tudo que estava guardado em mim. Foi a Lina que entrou na casa da minha mãe em horário nobre e a encantou. Uma oportunidade única para as famílias deste país.

Receber bem, é Identificar desejos e produzir outros. É acolher, ter empatia, fazer o outro se sentir especial. É carregar com você o próprio lugar.

Foi a Lina (da Quebrada) que cantou e falou tudo o que estava guardado em mim. Foi a Lina que entrou na casa da minha mãe em horário nobre e a encantou.

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Morena Caymmi é jornalista, escritora e fotógrafa do Piauí, morando há 10 anos em São Paulo. Desde 2018 é Coordenadora de hospitalidade e comunicação do restaurante de comida brasileira Fitó. 

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Publicado na Revestrés#51. 

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