1. Um@ performance 

Sayara, Elielson Pacheco. Eu poderia citar uma performance específica, mas a própria existência dessa bixa é minha maior referência de performance. Sou muito grata ao universo por viver no mesmo tempo e espaço que o Elielson. 
 

  1. Uma dança 

O espetáculo “Piranha”, de Wagner Schwartz, que tive a oportunidade de ver no Junta #2. Tem um corpo e um texto, ambos em movimento. é difícil decifrar onde um termina e começa o outro. Me invadiu, me tirou do lugar com uma simplicidade absurda. Não consigo mais imaginar um mundo sem aquele trabalho, sem aquele corpo.

Foto: Jairo Moura

 

  1. Que música gostaria de performar 

Os Dzi Croquetes dançavam uma música interpretada pela Elis Regina, Dois pra lá, Dois pra cá. Numa das versões era Cláudio Gaia e Cláudio Tovar que dançavam juntos. A música é incrível, eles dançando eram incríveis. Eles eram apaixonados. É de uma beleza tão sublime que me deu muita vontade de dançar essa música com alguém por quem sou apaixonada. 
 

  1. O trabalho mais divertido que fez

Os trabalhos que desenvolvi junto ao raSHa Show. O raSHa é sempre sobre o agora, sobre o lugar de desejo e liberdade. É uma luta guiada pela potência de ser e dizer o que cada um precisa. Em tempos tão sombrios as palavras respeito e liberdade assumem um caráter mais do que necessário.
 

  1. Um lugar 

É bem clichê, mas eu preciso de praia de vez em quando pra lembrar que não posso controlar o mundo, que as coisas têm um ritmo próprio e o quanto sou pequena diante daquela imensidão. Ao mesmo tempo aquela imensidão inteira cabe no peito de cada um. Sou umbandista, talvez por isso minha noção de divindade esteja completamente atrelada aos elementos da natureza. Iemanjá tá sempre ali, com as respostas que eu preciso. 

  1. Um livro

Leituras da Morte, organizado pela Christine Greiner e pela Cláudia Amorim. Esse livro é como um guia pra mim. sempre retorno a ele quando  bagunçada. Cada vez que leio percebo algo novo. O texto me confronta de várias maneiras, é dolorido e necessário.
 

  1. O amor é…

Difícil. A gente tá acostumado a ter as coisas que queremos e jogar fora o que não queremos mais. É muito sedutora a ideia de que a vida é curta e temos que aproveitar ao máximo. Mas a noção de “aproveitar” segue, na maioria das vezes, uma lógica capitalista de consumo. A gente acaba entendendo que as pessoas são propriedade e que relacionamentos só valem a pena quando nos favorece. Quando passa o apelo da novidade a gente troca, que nem calcinha velha. Amor vai além disso. É necessário aprender a ouvir pra entender, não pra responder, seja em que relação for. É necessário também aprender a se amar, a se ouvir. O afeto e o respeito começam de dentro. O amor é, principalmente nesses tempo, absolutamente necessário e revolucionário. 

  1. O que esperar da cultura esse ano

Eu realmente não sei como responder essa pergunta. Esse ano está mais claro e concreto todo um processo de legitimação do absurdo. A gente acaba precisando falar o óbvio. O ponto pra mim é fazer. Fazer dança, fazer teatro, fazer música, fazer poesia, enfim. Colocar arte no mundo, seja como for. Precisamos carregar o mundo de subjetividade, de afectos e perceptos. Não podemos permitir que o retrocesso político e econômico resulte em um retrocesso estético. Temos que continuar nadando contra essa corrente.
 

  1. O que fazer nas horas vagas 

Experimentar coisas novas ou as mesmas coisas de um outro jeito, se permitir embarcar em projetos guiados apenas pelo desejo, fazer tudo aquilo que dá um frio na barriga, cuidar de si, ficar só, compartilhar momentos com quem te faz gargalhar, cozinhar, caminhar sem um destino específico, fazer nada, enfim. Eu tenho descoberto os prazeres de pedalar sozinha, com meu ipod e meus pensamentos.
 

  1. Um babado

O álbum novo do Djonga, Ladrão. Menina, babado demais. 

Bebel Frota é performer, rapper e poetisa. Iniciou sua trajetórias nas artes através do teatro, em 2003. Fez parte do Galpão do Dirceu em toda a duração do projeto. Esteve à frente do Espaço Balde, destinado a atividades relacionadas à dança e à arte contemporânea, também no bairro Dirceu, em Teresina.

Publicado na Revestrés#41-maio-junho de 2019.