O noviço Fiorenzo Lecchi chegou ao Brasil em 1958, aos trinta anos. Em São Leopoldo-RS, no ano seguinte, ordenou-se jesuíta. O missionário se transferiu para Teresina, em 1963, para lecionar a disciplina de Física no Colégio São Francisco de Sales, chamado de Diocesano por ter pertencido à Diocese local.  Ao chegar, teve uma dupla surpresa: o nome da cidade não era uma homenagem à Santa Teresinha, da qual era devoto; por outro lado, era Química a disciplina que ministraria. O nome Fiorenzo, o Enzo de seus três irmãos, logo assumiria a fonética nativa. Em pouco tempo, Padre Florêncio influenciaria inúmeras gerações pelos ensinamentos, pelo rigor, pela disciplina e pela criatividade empregados nas aulas de Educação Moral e de Química. 

Padre Florêncio | Ilustração: Irineu Santiago

Registrou em fotografias guardadas em impecáveis arquivos digitais todos os seus 4.993 alunos.  Para muitos deles, o padre de longas barbas brancas, geralmente vestido numa bata que expunha a história de uma vida dedicada ao ensino, foi amigo, confessor, guia e referência intelectual, religiosa e moral.  Seu lema? Os versos primeiros do épico poema de Gonçalves Dias: “Não chores, meu filho; Não chores, que a vida; É luta renhida: Viver é lutar.”  

 Ao morrer em 2014, Padre Florêncio sabia o quanto era amado. O Fiorenzo nascido em Bergamo, no Norte da Itália, já era uma lenda, um mito, cuja identidade com a cidade que o acolheu se expressa em uma de suas últimas falas: “Sou de Teresina. E aqui vou enterrar minha carcaça.”  

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Gustavo Said é Doutor em Ciência da Comunicação pela Unisinos, professor de Jornalismo da UFPI, coautor da biografia Pe. Florêncio Lecchi: a saga de um jesuíta e autor de Como era bom aos domingos: Carlos Said, o homem, o homem, a vida, o mito magro de aço.

Fernando Macêdo Leal  é médico, doutor em Oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp), especialista em Bioética pela USP e coautor da biografia Pe. Florêncio Lecchi: a saga de um jesuíta.

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