Em preto e branco, José Medeiros mostrou que suas fotos não precisavam de retoques e grandes produções – a luz ambiente bastava. As realidades espontâneas capturadas não só revelavam o cotidiano de personalidades da política e elite carioca, mas mostraram um Brasil negro, mestiço, indígena e anônimo.

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José Medeiros / Acervo Instituto Moreira Salles

Nascido em 1921, em Teresina (PI), José Araújo de Medeiros teve as primeiras lições com o pai, fotógrafo amador. Aos 18 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde passou a fotografar para as revistas Tabu, Sombra e Rio. Nesta última, conheceu o fotógrafo francês Jean Mazon, que o convidou para integrar a equipe de O Cruzeiro, em 1946.

Permaneceu por 15 anos na revista mais famosa da época onde também inovou com a técnica: fotografava com uma Rolleiflex, mas foi um dos precursores da câmera 35mm, de formato pequeno. Seu olhar humanista lhe rendeu viagens por todo o país, além de coberturas internacionais na Europa, Equador, Estados Unidos e África. Seu interesse pelo inédito lhe permitiu participar do primeiro contato entre o homem branco e os índios, na famosa expedição Roncadora-Xingu, em 1949. Era o primeiro encontro oficial com os Xavantes.

Em 1962, fundou a agência Image, em parceria com Flávio Damm e Yedo Mendonça. Três anos mais tarde, assinou a direção de fotografia de clássicos como Xica da Silva (1976), de Cacá Diegues e Memórias do cárcere (1984), de Nelson Pereira dos Santos. Seu talento e habilidade fizeram com que Glauber Rocha o definisse como o único fotojornalista do século XX que “sabia fazer uma luz brasileira”.

Em Cuba, deu aulas na Escuela de Cine y TV, fundada por Fidel Castro e Gabriel Garcia Márquez. Teve dois princípios de enfarto em Havana, até que, em 1990, seguiu viagem para participar de um evento em Áquila, na Itália, onde faleceu. Nas páginas a seguir, veja imagens de seu trabalho mais famoso.

Realizado em um terreiro de candomblé, em Salvador, no ano de 1951, José Medeiros registrou o ritual de iniciação de jovens filhas de santo. O ambiente era permitido somente para iniciados – foi o primeiro registro fotográfico de rituais secretos do candomblé.

Com texto de Arlindo Silva, a fotorreportagem foi publicada em O Cruzeiro sob o título “As noivas dos deuses sanguinários”. O tom sensacionalista não mostrava coerência com as imagens.

Seis anos depois, Medeiros relançou o material em versão ampliada no livro Candomblé, o primeiro de fotografias sobre essa religião no Brasil. Desta vez, o material contou com legendas objetivas e 60 fotos, das quais 38 haviam sido publicadas na reportagem de O Cruzeiro.

Em 2011, Candomblé foi relançado pelo Instituto Moreira Sales, com o acréscimo de 13 fotografias que não constavam na edição original. Hoje, a série é vista como um importante registro etnográfico e José Medeiros é conhecido pela maneira como transformou o fotojornalismo brasileiro.

Publicado na Revestrés#24 – Março/Abril 2016)