Antes mesmo que ela nascesse, em 12 de fevereiro de 1947, em Esperantina, norte do Piauí, a história de Maria de Fátima começou. Sua família recebeu a profecia de uma mulher desconhecida, que dizia encarnar um antigo espírito. Ela previa que Balbina da Conceição, sua mãe, mesmo sem acreditar que ainda poderia engravidar, iria dar à luz uma menina, que deveria receber o nome de Fátima. Ela nasceria em uma noite de lua cheia e as duas parteiras, que realizariam o parto, brigariam.  

Mãe Fátima de Oxossi | Foto: acervo da família

No dia do batizado de Fátima, a mulher da profecia reapareceu. Guiou a família até uma casinha, no alto de um morro na região em que moravam. A família deveria bater palmas. Um homem idoso iria atendê-los, e eles perguntariam por Maria Simpilícia. Ela seria alta, de cabelos longos, e eles deveriam convidá-la a ser madrinha de Fátima.  E assim aconteceu.  

Quando menina, Fátima rezava escondida no mato, por medo ou vergonha. Bailava e entoava cânticos. Depois, voltava para casa. Anos mais tarde, ela costumava relembrar: “já nasci feita!”.  

Seu pai, Silvestre do Rêgo, conhecido curandeiro na região de Esperantina, abrigava pessoas que viajavam por muitos dias, em animais ou carroças, para se consultar com ele.  

Fátima mantinha uma relação de bloqueio com a religiosidade. Mesmo com a tradição da família, se negava a aceitar o que consideraria, depois, a sua missão. Adoecida e após realizar vários exames, foi aconselhada por um amigo médico a procurar outros caminhos, que a medicina não alcançava.  

Foi à igreja evangélica. Lá também recomendaram que procurasse outro lugar. Em Teresina, teve em Pai Delson Cosmo, da Tenda Senhor do Bonfim, no bairro Lourival Parente, o responsável por sua iniciação na Umbanda. Fátima trabalhou no congá – o coração do terreiro – e, em 1997, deu vida a sua própria casa: a Tenda São Francisco das Chagas. Já era Mãe Fátima de Oxossi.  

Como seu santo – São Francisco –, era devota da humildade. Queria o necessário para sobreviver e acolher os diversos filhos da Umbanda. “Toda vez que alguém perguntava: ‘cadê dona Fátima?’, ela tava no ponto”, conta Mãe Socorro de Oxum, sua filha. O desapego era tanto que Mãe Fátima chegou a doar a própria cama a uma pessoa necessitada. “A família ficou tiririca”, conta Socorro, às gargalhadas. “Mas depois entendeu a sua generosidade”.  

Em 27 de julho de 2018, Mãe Fátima de Oxossi se despediu. A Tenda São Francisco continua, no bairro Piçarreira, zona leste de Teresina, nas mãos de suas filhas: Lucilene Rêgo e Mãe Socorro de Oxum. 

Mãe Fátima de Oxossi é a homenageada da Revestrés#44 – nas bancas.

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