Clóvis Steiger de Assis Moura nasceu em 10 de junho de 1925 em Amarante, Piauí. Ele cresceu dentro de uma família de classe média e escravocrata. Sua mãe tinha origem europeia e seu pai era aristocrata rural. A mestiçagem da sua família exerceu grande influência nos seus escritos, produções e militância. O jovem questionava-se sobre a escravidão e a condição do negro no Brasil. 

 

Filho do meio, de três irmãos, morou durante a infância em diferentes estados do Nordeste devido ao trabalho de seu pai, que atuava dentro do serviço público como fiscal de rendas. Ao voltar para o Piauí, viveu parte da adolescência em Teresina. Após sete anos morando no Rio Grande do Norte, mudou-se para a Bahia em 1941, onde começou a estabelecer contato com estudantes também interessados em política, literatura e história e teve uma breve carreira política, aproximando-se do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e candidatando-se a deputado estadual pela legenda do Partido Socialista Brasileiro (PSB) nas eleições de 1947, em meio a um período conflituoso. Dois anos depois, mudou-se para São Paulo e passou a dedicar-se ao oficio de jornalista, atuando em importantes veículos de comunicação, além de ter fundado jornais e revistas. 

Clóvis Moura recebe o título de Cidadão da Cidade de Salvador, Bahia, entregue pelo vereador Daniel Almeida (PCdoB), em 21 de dezembro de 1995.

 

Como sociólogo por formação, sendo também considerado historiador, escritor e jornalista, Clóvis Moura foi um dos principais estudiosos e responsável por tratar o negro como protagonista na história brasileira. Seu principal trabalho esteve relacionado ao que ficou convencionado como “A sociologia da práxis negra”, em que ele defendia que, para se poder estudar sobre a escravidão e a história dos negros, era preciso entender como de fato eles viviam e inserir-se nesse cotidiano, estabelecendo assim um equilíbrio entre teoria e prática. 

Clóvis questionava teóricos que desconsideravam e diminuíam a importância do negro na construção econômica, social e política brasileira. Ele também foi responsável pela criação de grupos voltados para discutir políticas públicas de valorização desse povo. Dessa forma, sua produção intelectual ao longo de toda a vida foi dedicada à defesa da democracia e da liberdade, militando a favor dos socialmente excluídos. E, por conta disso, era visto como um radical. 

Clóvis Moura e a filha, Soraya, em 1963

 

O estudioso casou-se duas vezes e teve uma filha, Soraya Silva Moura, do primeiro casamento. Faleceu em 23 de dezembro de 2003, deixando um legado de vinte e cinco obras escritas, relacionados à história, sociologia e a defesa dos marginalizados, além de livros de poesias que tratavam, na maioria das vezes, sobre sua cidade natal, Amarante, local que sempre voltava para visitar. Entre suas obras, podemos citar: Rebelião da Senzala (1959), Argila da memória (1964), as injustiças de Clio: o negro na historiografia brasileira (1990) e Dicionário da Escravidão Negra no Brasil (2004).   

Nome da edição Revestrés#37, agosto-setembro de 2018.