Geraldo Brito teve seu primeiro contato com a música aos oito anos de idade. Um pequeno violão de plástico que veio de brinde em uma cesta de Natal. Criança curiosa, apoderou-se daquele objeto desconhecido e, desde então, nunca mais o deixou de mão. “Ali eu tomei gosto e fiquei com aquele negócio que só foi substituído por um violão de verdade no começo de 67, quando eu completei 13 anos e minha mãe me deu um de presente”, relembra. 

Autodidata, aprendeu praticamente sozinho a tocar, observando pessoas próximas e vizinhos. As aulas profissionais foram iniciadas algum tempo depois e serviram de complemento. Na adolescência, fez parte de alguns conjuntos musicais e se envolveu ainda mais com o processo de criação e composição algo que já era sua paixão e seria sua profissão ao longo dos anos. “Como eu tinha que fazer show e cantar também, aí abriu essa via do mundo: o de cantor por obrigação”, acrescenta. 

Geraldo Brito | Foto: Jairo Moura

Já não era mais possível separar o jovem Geraldo da música. “Na década de 70 teve um boom de compositores nordestinos indo para o Sul, Sudeste. Daí começaram os festivais por aqui, algo que já estava meio desgastado em outras partes do Brasil. Isso tudo nos impulsionou a criar e fez com que tivéssemos interesse em participar desses eventos também”, conta. “Quando ganhei um festival em 1977, em parceria com o Cruz Neto, isso sedimentou um pouco minha imagem. Na década seguinte passei a fazer muitos shows pelo Brasil. Foi ali o começo da minha trajetória”. De lá para cá, o músico participou e ganhou diversos festivais. 

Geraldo é um importante personagem dentro da música popular piauiense. Por toda sua carreira, ele alia shows, estudos e criações ao ofício de professor em escolas de música, dando aulas de violão popular e clássico, improvisação e teoria musical. Além disso, contribuiu para impulsionar a carreira de inúmeros cantores. “Eu sempre tive essa ideia de lançar novos artistas, pessoas que eu via cantando e, se achasse que tinha talento, eu já fazia um jeito de viabilizar seu show”, conta, fazendo referência ao “Geraldo Convida”, projeto criado na década de 1990 que contou com a participação de artistas como Zé Marques, Carol Costa, Myriam Eduardo, Patrícia Mellodi e Luíza Miranda. 

Para Moisés Chaves, o cantor, produtor musical e um dos artistas que surgiram no projeto, Geraldo Brito é uma de suas principais referências. “Ele é minucioso… são acordes dissonantes. Geraldinho, como o chamamos carinhosamente, apura a música. Ele tem uma qualidade harmônica incrível, além de ser bastante rebuscado e refinado”. E acrescenta: “Aquilo de que ele toca dormindo não é lenda, é verdade. Fazer show com o Geraldo é: quando você olha para trás, ele está de cabeça baixa cochilando e tocando, porque ele sabe tudo sobre música”. 

O artista tornou-se referência para os músicos que também estavam surgindo e para muitos que iriam surgir. Inspirando e se envolvendo com a música cada vez mais, os acordes não se desassociavam dele nem quando terminavam as apresentações. Sua casa virou ponto de encontro de artistas, escritores, literatos e intelectuais. Todo mundo passava pela rua São Pedro. “A casa estava sempre cheia e isso fez com que se criassem muitas ideias naquele espaço”, relembra Geraldo. A casa era um lugar que agregava as pessoas. Todos os encontros do final da década de 1970 convergiam para lá. Mais tarde, o ponto de encontro mudou e passou a ser o Bar Zeus, parada obrigatória criada por Geraldo e que durou poucos meses, em virtude da sua ida para o Rio de Janeiro, a convite de Patrícia Mellodi. Geraldo fechou o bar e foi passar 2 meses no Rio. “Mas acabei ficando por quase 6 anos”, sorri. 

O músico retornou a Teresina a pedido da mãe, que pouco depois faleceu. De volta ao Piauí, trouxe na bagagem muitas ideias fervilhando que fizeram surgir o primeiro disco, Maracatou (2001), onde coloca sua voz em uma única faixa, deixando espaço para participações especiais de outros músicos e intérpretes. “Esse CD contou com o Lô Borges e também com o Toninho Horta”, elenca. “Então, meu disco acaba com uma participação maior do pessoal do Clube da Esquina”, conclui. De lá para cá, seguiu produzindo durante o hiato entre o primeiro e o segundo CD, A Dança das Tulipas, lançado mais de 15 anos depois, em 2018.

Agora ele se dedica a um livro que vai contar a história da música urbana na capital do estado e que terá como título “O som do Piauí, a música urbana em Teresina desde 1960”. A pesquisa já se estende por mais de dez anos e se une às memórias afetivas e visuais do próprio Geraldo. O músico pretende garantir com a publicação uma preservação histórica da produção musical que iria se perder. “Ninguém ia saber o que aconteceu com a música autoral nesses períodos”, sentencia o pesquisador. “Durante a busca, eu descobri muita coisa”, revela, entusiasmado. 

Produzindo e pulsando ao seu ritmo, mas sem perder o batuque, Geraldo segue, necessário para a história da música popular brasileira produzida no estado do Piauí. 

Publicado em Revestrés#41 – maio-junho de 2019.