IMG_0548O que cabe em ambiente de 3m²? Esse pode ser o tamanho de um quarto pequeno, de uma sala pequena, mas também pode ser o tamanho necessário para o menor espaço cultural do mundo, localizado no bairro Mafuá. Naquele ambiente, que ainda preserva a medida original das lojas de um dos mercados mais tradicionais de Teresina, cabe uma biblioteca de livros de arte, um espaço para exposições que trazem temas diferentes a cada mês, um museu de objetos antigos e um armarinho, que oferece os mesmos serviços nos últimos 40 anos. Em um local tão pequeno cabe, sim, muita cultura.

É no Espaço Cultural São Francisco que o artista plástico Cícero Manoel cumpre a missão de difundir arte e manter viva a memória da sua mãe. “Na verdade, eu não tenho o título que comprove ser esse o menor espaço cultural do mundo, mas duvido que exista outro”, afirma com a segurança de quem sabe aproveitar cada pedacinho do que tem disponível sem recurso financeiro, mas com muito amor e dedicação.

Apoio o artista plástico recebe apenas de admiradores do seu trabalho, amantes da arte e de alguns amigos. A biblioteca, por exemplo, se mantém com livros doados por instituições nacionais como as fundações Iberê Camargo, Eva Klabim e Itaú Cultural. “Essas parcerias garantem a atualização do acervo. Aqui não tem livro de arte antigo, não”, ressalta Cícero Manoel.

O Espaço Cultural São Francisco se mantém ainda com a comercialização de objetos antigos. O artista plástico precisou se desfazer do que já foi uma coleção para transformá-la em negócio. Utensílios como ferro de engomar à brasa, máquina fotográfica de filme e telefones antigos estão disponíveis para venda, aluguel ou troca.

Já a exposição, que ocupa uma parede do centro cultural, é feita com a ajuda de amigos colecionadores ou artistas. “Eles me emprestam algumas coisas de acordo com o tema escolhido e, assim, eu tenho uma exposição nova a cada mês”, disse Cícero.

O aluguel do espaço, que custa R$ 250,00, é pago com a oferta de serviços do armarinho. Cícero Manoel não apenas vende mercadorias como botões, linha, brinquedos e outros utensílios, mas também faz pequenos consertos em roupas, ofício que aprendeu com a mãe. “O carinho que tenho por isso tudo é uma coisa de alma e é a forma que encontrei para homenagear minha mãe”, afirma o artista plástico.

Por último, os desenhos e pinturas de Cícero Manoel ajudam a pagar o restante das contas. A inspiração para seus trabalhos está no próprio ambiente do mercado do Mafuá e nos personagens que lá existem. “Minha referência é o caos e outros aspectos da urbanicidade”, explica. A última exposição do artista plástico aconteceu no ano passado, em Fortaleza, no Centro Cultural Oboé. Em 2004 ele mostrou seu talento no Rio de Janeiro, no centro cultural dos Correios.

Entre um trabalho e outro, Cícero Manoel vai colocando o talento a serviço do Espaço Cultural São Francisco, mas também à disposição dos teresinenses e de todos aqueles que reconhecem a importância da arte para a formação da identidade cultural.

É justamente pelo amor, não apenas à arte, mas também às suas origens familiares, que o artista plástico jamais cogitou fechar o menor espaço cultural do mundo. “Nem nas piores situações eu pensei nisso. Sinto minha vida pulsando. Foi aqui onde eu passei a infância, quando o lugar era apenas um armarinho onde minha mãe e meu pai trabalhavam”, lembra Cícero.

Depois de quatro décadas, o Espaço Cultural São Francisco se transformou em ponto turístico de Teresina, mesmo não sendo reconhecido oficialmente pelo poder público. O local recebe visita de artistas plásticos, poetas, músicos, estudantes da rede pública e particular, bem como universitários. Os moradores do bairro também visitam, mas geralmente para comprar artigos no armarinho. Gente de Teresina ou de fora do Estado têm o espaço cultural de Cícero Manoel como referência.

(Matéria publicada na Revestrés#02 – Maio/Junho 2012)