Um sopro de ventos que vem do norte anuncia: esse é um mergulho para dentro de si. Através de seu trabalho artístico, Isadora Machado percorre um caminho por entre universos cósmicos e nos transporta para um diálogo entre o sentir e o ser que desemboca em desenhos e pinturas carregados de simbologia. 

 

“A melhor forma que consigo descrever o meu trabalho é a intuição. Fico bastante atraída por universos misteriosos, pelos sonhos e o surrealismo porque tudo isso permite a invenção das coisas, a exploração de sensações e de outros sentidos”, explica Isadora, 30 anos. 

Autodidata, ela se dedica à produção artística multidisciplinar com foco em desenho e pintura, explorando símbolos, intuição e mistérios cósmicos desde 2017. Natural do Rio de Janeiro, a artista já morou em algumas cidades como São Paulo, Belo Horizonte e Florianópolis e mudou-se há dois anos para Porto, Portugal. De lá para cá, já apresentou trabalho cenográfico em equipe na Quadrienal de Praga, participa de feiras de exposições em Portugal e ilustra artigos de publicações feitas em espaços como o Jornal Rascunho e a plataforma multimídia Shado. 

Em setembro, com a flexibilização da pandemia em Portugal, Isadora participou da Feira da Alegria, no Porto. Na ocasião, produziu sua primeira experiência oracular de criação de cartas. Onze cartas acompanhadas de mensagens escritas com o intuito de trazer pensamentos e troca de reflexões para o público. O trabalho foi recebido de forma curiosa por quem tirava as cartas e se encorajava no processo de imersão por entre os signos dispostos. 

As cores e formas que compõem as suas criações fluem de maneira sutil e conduzem para múltiplos significados. Nesse processo, o fazer artístico recebe mais uma camada de sentido por meio da consulta às cartas. Esse componente surge por volta de 2015, quando a artista começa a utilizar o tarot dentro de seu processo de autoconhecimento e as leituras e tiragens, se expandem para a prática artística e os desenhos autorais feitos sob encomenda. “Eu tinha vontade de oferecer a leitura e o tarot para ajudar outras pessoas na autocompreensão. Daí comecei a estudar as possibilidades de expressão com essa parte mais mística e uma coisa acaba interferindo na outra. Ao fazer um desenho, dialogo com os oráculos. E quando faço tiragem de tarot e consulta de outros oráculos como o pêndulo, a camada criativa complementa a leitura dos símbolos”, explica. 

Em um ponto de convergência, o fazer criativo se une com o oracular e dá origem aos desenhos da sorte. “Comecei a perceber que certos desenhos acabavam sendo meio proféticos, em que eles faziam sentido de uma coisa que desejava ou que queria trabalhar em mim”, explica a artista. “O desenho da sorte é quase que um ancoramento de intenções. É algo em que tento sistematizar o processo de criação, já que eles são meio caóticos e não percebo muito bem como acontecem. Agora, estou tentando me afastar um pouco do caos para tentar entender como funciona”. 

O desenho da sorte é sentimento de entrega em formato de imagem. Uma ponte que liga os desejos para presentear alguém especial e o mergulho nessa sensação. Ao entrar em contato com a artista para encomendar o trabalho, deve ser feito um texto curto explicando a ideia do que se quer oferecer através do desenho. A partir disso, a artista faz meditação e consulta os oráculos para criar e materializar, no papel, as intenções daquilo que a pessoa deseja presentear a ela mesma ou a alguém. O trabalho finalizado acompanha uma explicação de como o processo intuitivo acontece. “Também sugiro que a pessoa que vai presentear fazer uma dedicatória, porque acho que as dedicatórias em geral são meio mágicas e potentes, né?”, complementa. 

“Teve um desenho da sorte que fiz que era de uma amiga oferecendo para uma outra amiga e ela falou alguma coisa sobre casa. Na hora da criação, me veio uma imagem muito forte de uma concha. E, a partir disso, me deixei explorar essa imagem e fiz o desenho. Quando ela viu, ficou um pouco chocada porque já tinha dado uma concha para essa amiga deixar na casa dela”, exemplifica Isadora. 

É preciso se desconectar do campo da linguagem e do racional para sentir o que transborda pelas telas de Isadora Machado. No fim, tudo é mistério e sensações subjetivas. “Procuro deixar livre para que as outras pessoas ponham as suas camadas de sentido porque o importante é que faça sentido para quem recebe meus desenhos porque isso também vai dando esse toque e qualidade mágica”, finaliza. 

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Publicado na Revestrés#47. 

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