“Quando pensamos em uma obra artística, pensamos principalmente que ela é uma mensagem. A presença em um festival de cinema, seja relevante ou iniciante, é o que amplia a vida de um filme, faz a gente descobrir, a partir das reflexões dos espectadores, os filmes que existem no mesmo filme”, afirma Arthur Gadelha, que, acompanhado de Kamilla Medeiros, levou a obra cearense Capitais ao 28º Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro.
Esse filme ser exibido nessa mostra é, apenas, um exemplo de uma distribuição mais equilibrada do mercado audiovisual nacional, que está buscando encontrar mais espaço, mais público e mais renda. E aonde entram os filmes do pessoal do Nordeste nessa conjuntura? Entram, principalmente, pela janela de exibição que os festivais de cinema nacional oferecem. No segundo semestre de 2018, as obras da região foram, mais uma vez, projetadas nas telas de mostras, tomando o Rio de Janeiro como ponto de partida para debater, entre diretores e diretoras, a representatividade do Nordeste no panorama audiovisual brasileiro.
Para Tila Chitunda, cineasta de Nome de Batismo: Alice, apresentar seu filme nesse festival, e em tantos outros, é super importante para saber como sua narrativa está se comunicando com as pessoas. “Você tem o privilégio de ter retorno de públicos quase especialistas, interessados na linguagem do cinema de autor e independente. Além disso, é nos festivais que distribuidoras e canais por assinatura têm acesso e acabam licenciando os filmes, o que vai ampliar ainda mais a audiência e alcance da referida obra”, diz.
Filha de angolanos, nascida e crescida em Olinda – Pernambuco, Tila carrega o Nordeste no repertório e em sua visão de mundo, acreditando que os temas, as abordagens e as estéticas do cinema dessa região são, ao mesmo tempo, locais e universais. “Acho que a construção dessa representatividade nordestina no cinema nacional de forma regular aconteceu devido a editais estaduais e do MinC, que passaram a pontuar de maneira diferenciada o Nordeste”, coloca.
Tila acrescenta ainda que o boom do cinema pernambucano, especificamente, e seu consequente lugar de celeiro do cinema autoral brasileiro, foi devido à política pública voltada para o setor, fruto de muita luta de produtoras e cineastas junto ao governo estadual. A consequência disso foi a região “ocupar cada vez mais regularmente as telas dos festivais do Sul e Sudeste do país, vindo, inclusive, prêmios para as obras”, completa.
(matéria completa na Revestrés#39- janeiro-fevereiro de 2019).