Mariana Teles aprendeu a ler juntando as sílabas entre um cordel e outro pertencente ao seu pai. Nascida em uma das cidades que compõem a região do Sertão do Pajeú, cresceu ouvindo o som das violas e os versos nordestinos da poesia popular. Se os dizeres afirmam que quem bebe das águas do Rio Pajeú acaba se tornando poeta, Mariana é um exemplo. “Eu tive o privilégio geográfico de nascer em Tuparetama, no Pernambuco”, explica. Mas, para que não, restassem dúvidas, a jovem ainda contou com outro sinal do destino: “Eu ainda tive um privilégio genético: nasci filha de um repentista”. 

Foto: Maurício Pokemon

Em um local em que se respira diariamente poesia, não foi difícil ser influenciada pelo meio. “Eu cresci numa região em que tudo que você fizer, de uma forma ou de outra, está associada à poesia. Eu até costumo dizer que em algumas cidades do interior, quando você é filho do prefeito ou do médico, você é importante. Na minha região o importante é você ser filha de poeta”, revela Mariana. Sua construção pessoal e toda formação cidadã foi gerada dentro da casa de Valdir Teles, cantador de viola e repentista, convivendo também com outros tantos poetas do sertão. Em rima, as suas lembranças dão conta do gosto da poesia cantada espalhada pela casa, principal festa falada no local em que vivia. 

Em algumas cidades do interior, quando você é filho do prefeito ou do médico, você é importante. Na minha região o importante é você ser filha de poeta

Mas apesar disso, o seu interesse pelos versos foram surgindo de forma espontânea. “Nunca houve uma forçação, foi algo bem natural”, comenta. “Como meu pai viajava muito e tinha uma agenda lotada, como ainda hoje é, a gente se cruzava de passagem dentro de casa, que eram momentos em que eu mostrava uma coisa ou outra escrita. Na maioria das vezes, eu tinha contato com o entorno, com os amigos do meu pai que muito me incentivavam”, acrescenta. 

Mariana começou a rabiscar versos na infância e teve sua primeira apresentação ainda na adolescência. “Eu subi em palco a primeira vez com 12 anos de idade”, relembra. A partir dessa época, desatou a escrever versos e declamar poesias, participando de grandes eventos e festivais de viola. Com CDs lançados e dois livros publicados: De verso em verso (2011) e Um novo mar de poesia (2015), a jovem, hoje com 23 anos, tem seus escritos voltados à vida no sertão e poesias que levam na rima uma forte crítica social.

Foto: Maurício Pokemon

(Matéria completa na Revestrés#37- agosto-setembro de 2018).