Logo no início o locutor avisa: “Você que está procurando o amor da sua vida, nós damos aquela força”. A voz marcante, típica dos radialistas mais tradicionais, e a música suave tocando ao fundo, dá vez à vinheta do programa Love Songs, da Rádio Clube FM.

Lá do bairro Pedra Mole, na zona Leste de Teresina, Júlio César acredita que tem a sua grande oportunidade. Do município de Altos, a 39 km da Capital, Fran tem a mesma sensação. Ele procura mulheres entre 18 e 40 anos para amizade “ou algo mais”. Ela, deficiente física, quer apenas encontrar alguém sem preconceitos. Ambos deixam o número do whatsapp e têm esperança de que vai dar certo.

Na sequência do programa, muitos ouvintes vão se somando a Júlio César e Fran, com o mesmo objetivo. Em tempos de whatsapp, tinder e nudes, eles preferem se colocar ali diante do rádio, mandar a mensagem, esperar que ela seja lida pelo apresentador e ficar na expectativa de que alguém tenha anotado o número para entrar em contato.

Love Songs é apresentado há quase sete anos por Gil Balla. Orgulhoso do seu trabalho, ele conta que foi o idealizador do formato. “Nós preservamos o flash black, as mensagens de auto estima e os recadinhos românticos. É um espaço para a saudade, para as músicas boas, que estão em falta”, diz.

Ele procura mulheres entre 18 e 40 anos para amizade “ou algo mais”. Ela, deficiente física, quer apenas encontrar alguém sem preconceitos.

Para o ouvinte, a sensação é a de estar sendo transportado a uma época distante. As músicas das décadas de 80 e 90 – maioria delas internacionais, a entonação na voz do radialista e as mensagens lidas são quase um mundo paralelo. “Esse tipo de programa sempre era transmitido tarde da noite, mas nós trouxemos o nosso para o horário nobre do rádio e ele se tornou um dos mais importantes da emissora”, afirma o locutor.

O sucesso pode ser comprovado pela quantidade de mensagens enviadas, principalmente pelo whatsapp, entre as 13h e 15h, de segunda a sexta. “São entre 80 e 10 diariamente. Recebemos até cartas, acredita? É de fato um resgate daquele tempo em que as pessoas usavam manuscritos”, observa Gil Balla.

A diferença em relação a esse período é o uso da tecnologia, que ajuda no contato com os ouvintes e na resposta mais imediata. O programa é também transmitido através da internet e conecta pessoas de todo o Brasil, formando um público com o perfil mais variado possível. “Os homens procuram mais, participam mais. Só que tem muitas mulheres. Mandam mensagem até pra mim. Elas dizem que minha voz é linda, querem que eu envie fotos, querem me conhecer. Existe essa fantasia que o ouvinte cria”, revela Gil.

Mas nem todos admitem que buscam um amor. Anderson, 30 anos, diz que procura amizade de mulheres entre 18 e 30 anos. E especifica: de preferência da zona Norte de Teresina. Maria Tatiana dos Santos, 29 anos, diz que não importa como seja a pessoa, importa que tenha caráter. “Mas está difícil, porque ninguém leva a sério” – lamenta, na esperança de que os ouvintes do Love Songs sejam diferentes.

Já Ricardo, 44 anos, nega que seja ouvinte assíduo: “Um amigo me falou do programa, mas eu raramente ouço. Coloquei meu número só por curiosidade”, diz o funcionário público. Ele prefere não revelar o sobrenome e deixa escapar que já conversou com várias mulheres. Chegou a conhecer uma, mas o romance não decolou. “Através desse programa você encontra gente de todo jeito. Tem umas de outras cidades, outras são desconfiadas e têm medo de ir aos encontros, e tem até mulher casada”, revela Ricardo, que acredita em amor à primeira vista, mas ainda não encontrou a pessoa ideal.

Talvez isso seja apenas uma questão de tempo. Gil Balla afirma que já uniu muitos casais. “Eu fui convidado para ser padrinho de vários casamentos”, conta. Portanto, Ricardo, Maria, Anderson, Júlio César, Ana ou aquela ouvinte que escreveu uma carta, devem estar no caminho certo. E se tudo isso parece meio ultrapassado, o que importa? Aliás, o slogan do programa já avisa: “Love Songs é pra quem sabe o que é o amor”.

(Publicado na Revestrés#25 – Junho/Julho de 2016)