mesma terra que pariu Ariano Suassuna pariu Marcondes Silva. O menino chegou pelas mãos das antigas parteiras do sertão, atravessou a ponte que separa o país dos que têm fome e dos que desperdiçam o que comer, alçou voos distantes e decidiu que era suficiente. Sobrevivi – ele garante. A vizinha mais conhecida da sua cidade-berço é Campina Grande, famosa pelos festejos de São João durante os meses de junho e julho. No semiárido do coração do Brasil, uma infância entre a chuva pouca e o mormaço na moleira do agreste profundo: Marcondes venceu.  

Marcondes Soares da Silva, ex-ajudante de obras, venceu na vida e não sabe. O mundo tem muito a aprender com ele. Na frente do espelho, enxerga-se como alguém que sobreviveu, apenas, mas quem o escuta com atenção percebe que não é bem assim. Nasceu da persistência dele a primeira biblioteca da zona rural de uma cidadezinha paraibana que não foi ensinada a ler: Queimadas, área rural de Serra Redonda, a mais ou menos 120 quilômetros da capital da Paraíba.  

 

Aos 18 anos, o menino se mudou para João Pessoa e conseguiu o primeiro emprego. Função: servente de obra, sem carteira assinada. Trabalhava e dormia no mesmo pedaço de chão. Durou um mês e uma semana, foi dispensado com uma mão na frente e outra atrás. Gastou algumas tentativas procurando algo novo, não encontrou e resolveu fazer como o pai, Antônio Soares da Silva, e migrar para onde tivesse mais oportunidades. Assim ficou: migrante nordestino, no dorso do cartão-postal, perdido no meio do que via só pela televisão. Acertou o caminho quando apostou em livro e se encantou pela descoberta. É aí que começa o outro lado dessa história. 

(Completa na Revestrés#36 – maio-junho de 2018)