Toda empresa, toda pessoa, precisa investir em patrimônio. É uma forma de se precaver para o futuro, crescer, garantir alguma reserva em tempos de aperto financeiro. Essas coisas. Revestrés, claro, não é diferente. Seguimos as regras que economistas experientes nos ensinaram: fizemos as contas de quanto dinheiro tínhamos em caixa e procuramos pessoas em quem confiássemos para sugerir algo suficientemente concreto. Fomos pesquisando, pesquisando, e descobrimos uma pechincha! Além de ter um preço que podíamos pagar, estava muito bem referendada, por gente que admiramos ao máximo: poetas, cantores, bailarinos, astrólogos, artistas plásticos, escritores, loucos, astrônomos, esse tipo de gente com a cabeça bem parecida com a nossa. A facilidade para compra realmente era grande, e olhando com cuidado como as coisas andam rolando em nosso planetinha azul, cheio de promessas de bombas, efeito estufa, aumento da temperatura nos próximos 100 anos, engarrafamentos por toda parte e, de maneira geral, a ampliação da visão funcionalista da existência, não tivemos dúvidas: um terreno na Lua! Por 22 dólares, mais as despesas de Correios (total: 36 dólares), 4.047 m2 em uma das melhores localizações do nosso satélite natural. Melhor investimento, impossível! 

Mapa Lunar com a localização de nosso terreno.

Entramos no site da Lunar Embassy, empresa fundada por Dennis  Hope em 1980 e que comercializa os terrenos lunares. Como você vai ver, somos espertos: consultamos, antes de fechar negócio, a origem do empreendedor. Descobrimos que Dennis  já foi ventríloquo, ator, vendedor de presunto e tem pós-graduação em Sociologia. Quando ventríloquo, casou-se com uma bailarina mexicana e viajava pelos Estados Unidos. Um dia ficou encantado por Alice, uma equilibrista de circo, e se separou da bailarina, partindo com a nova paixão. No dia seguinte ao novo enlace, Alice, a equilibrista, tentou um duplo salto mortal sem rede: Dennis acabava de ficar viúvo.  Dennis tocou a vida. Um dia soube que, por um tratado firmado na ONU em 1967, nenhum país poderia se colocar como proprietário da Lua. Mas não havia menção sobre alguma pessoa tomar posse dela. Escreveu às Nações Unidas perguntando a respeito, não obteve resposta.  Começou a vender os terrenos. Hoje, são cerca de vinte vendas diárias, e já foram comercializados 574 mil terrenos para compradores de 193 países. Cerca de 670 são celebridades como Tom Cruise, Nicole Kidman, Clint Eastwood. Bem, George W. Bush também tem um, mas vizinhos indesejáveis normalmente existem em toda parte. 

Documento comprobatório. Pra ninguém dizer que é fake news.

Decidimos fechar negócio. Pelo site demos os dados, número do cartão de crédito e, exatos 25 dias depois, recebemos a papelada: um contrato de compra e venda, um certificado de posse e um Mapa Lunar, com a localização do que será a futura sede da Revestrés: área J-6, Quadrante Golfo, lote número 20/1333. Latitude aproximada: 26-30° Sul, longitude 30-26° Oeste. Para você se localizar melhor, caso nos visite um dia: é ao lado da Cratera Campanus, região sudoeste do Mare Nubium. Não é um endereço lindíssimo? Bem, para facilitar, vamos reproduzir aqui o mapa. Sugerimos que, a partir de hoje, quando você olhar a Lua, memorize bem onde será a Revestrés Lunar. Para que, quando for nos visitar, consiga nos encontrar mais facilmente. É que não há muito onde perguntar, e a sinalização de ruas e o sistema de transportes ainda não são muito eficientes por lá. Mas por aqui também não andam lá essas coisas, não é mesmo? 

Publicado na Revestrés#10 – Setembro/Outubro 2013.