“De Piripiri para o mundo” é como alguns filhos da cidade piauiense de cerca de 80 mil habitantes costumam se referir ao que produzem. A postura não tem nada de arrogante. Guarda mais auto-ironia e certa dose de otimismo e confiança. Quando esses ingredientes se somam a coragem e talento, vez por outra algum piripiriense pode de fato alcançar destaque. Isso é o que está prometendo Serge Erege, 29 anos.
Deixando em Piripiri a mãe funcionária do varejo, o pai metalúrgico e dois irmãos mais novos, ele se mudou para São Paulo em 2012. Desde o final do ano passado, quando lançou o elogiado single “Rhythm of the Day”, seguido pelo clipe do mesmo trabalho, Erege já foi matéria na revista Rolling Stones e vê crescer a quantidade de cidades em que se apresenta: no mais recente Lollapalloza, em São Paulo (no espaço Skol Records), e em festivais no Recife, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Goiânia. Em Teresina é pouco conhecido, mas já se apresentou em festas da cena mais underground. Em sites especializados em tendências musicais e música eletrônica, artista e clipe têm recebido atenção e elogios. A Revista Eletrônika se refere ao clipe como um dos “mais legais lançados em 2015” e afirna que Erege brilha. O Music Non Stop diz que o músico “zerou o jogo dos artistas novos e o empurrou para a fase seguinte”. O site ainda completa: “você vai ouvir falar muito de Serge Erege”.
O trabalho que está projetando o músico é seu primeiro contrato com a Skol Music. O Clipe, que contribui com a visibilidade do artista, é assinado pela produtora Planalto e dirigido por Rudá Cabral. Conta com boa produção, elenco de bailarinos e performers, além de figurinos modernos em um ambiente caótico. Erege deu pitaco na edição e escolheu a roupa que veste. “Sou daqueles artistas chatos, que quer ter o controle sobre tudo”, justifica. Foi dele também a ideia de usar o quase extinto VHS, “para dar uma sujada que tem mais a ver com minha estética”.
Com duração de quase cinco minutos, música e clipe “Rhythm of the Day” já são sugeridos na busca do youtube quando se digita o primeiro nome do artista. E tem potencial para ir além das cerca de cinco mil visualizações alcançadas em três meses. Gravado no velódromo na Universidade de São Paulo (USP), o clipe é cheio de referências. O casal que aparece trocando tapas no rosto, por exemplo, é uma referência ao clipe “True Faith”, do New Order.
Nascido Sérgio Gonçalves, o músico adotou o nome artístico em alusão a palavra “herege”. Os amigos o chamavam assim pela mania de contestar tudo. “Tirei o ‘h’ pra não ter obrigação com o significado real da palavra. Mas o que pegou mesmo para a escolha desse nome foi a sonoridade. Gosto de nomes que rimam”, conta.
No interior do Piauí (Piripiri fica a 160 quilômetros da capital, Teresina), o garoto sempre gostou de música. A mãe diz que ele batucava em tudo. “Eu fazia beatbox caminhando para o colégio. Sempre fui quase irritantemente cantarolante”, afirma o músico. As influências chegavam pela internet e pelo rádio. Ele diz que gosta de vozes imponentes como a de Gal Costa e também “da performance e o soul da Björk e do nervosismo do John Maus”. Compõe preferencialmente em inglês, o que leva algumas pessoas a acharem que ele é estrangeiro. Tendo cursado Letras/Inglês no Campus da UESPI – Universidade Estadual, na própria cidade natal, acredita que nesta língua consegue melhor melodia e se comunica com mais pessoas. Define o som que faz como “eletrônico à moda antiga, como se fazia lá nos anos 80”.
No palco são Erege e os equipamentos que usa. “Sou uma banda de um cara só. Componho, arranjo, produzo e performo todas minhas músicas”. Mas não se diz fechado e acredita que seja fundamental “trocar com gente da área ou fora dela”. Ultimamente tem feito apresentações sempre acompanhado por um teclado, porém afirma que seu principal instrumento é a voz.
Em São Paulo tem sido descoberto enquanto descobre um mundo. “É muita gente de toda parte, de várias classes sociais, convivendo junto – a não ser que você more em alguma das ilhas nobres da cidade, onde rola uma higienização mais forte”. Erege diz que tem vivido muitos anos em poucos desde que se mudou para a capital paulista, onde “com sorte, se aprende muito e se dribla mil perdições”. Garante que o menino de Piripiri continua nele e diz que “Rhythm of the Day” começou a ser composta no quintal de casa, embaixo de um pé de tamarindo.
Com o sucesso, seu single deve virar álbum completo, com direito a novos clipes e lançamento previsto para este ano. Ao que tudo parece indicar, “você vai ouvir falar muito de Serge Erege”.
(Matéria publicada na Revestrés#24 – Março/Abril 2016)